Rio de Janeiro, 08 de Novembro de 2024

Rússia usa criatividade para substituir redes sociais

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Sexta, 08 de Abril de 2022 às 09:31, por: CdB

Em 21 de março de 2022, as redes sociais mais conhecidas do mundo ocidental, Instagram e Facebook (plataformas pertencentes à empresa extremista Meta, banida no território da Rússia), pertencentes ao bilionário norte-americano Mark Zuckerberg, foram banidas na Rússia.

Por Redação, com Sputnik - de Moscou

Após bloqueio de redes sociais ocidentais, desenvolvedores russos inovam com projetos criativos e inusitados. Será que o país vai conseguir substituir as plataformas digitais de Mark Zuckerberg?

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Sem saudades de Zuckerberg: Rússia usa criatividade para substituir redes sociais ocidentais

Em 21 de março de 2022, as redes sociais mais conhecidas do mundo ocidental, Instagram e Facebook (plataformas pertencentes à empresa extremista Meta, banida no território da Rússia), pertencentes ao bilionário norte-americano Mark Zuckerberg, foram banidas na Rússia.

O motivo: a empresa flexibilizou sua política contra o discurso de ódio e passou a permitir publicações que incitem à violência contra soldados e cidadãos russos, conforme publicou à agência inglesa de notícias Reuters.

Desde então, os russos tem procurado outras plataformas para se manterem conectados. O país não é carente de redes sociais de grande alcance: a rede VKontakte, no ar desde 2006, goza de um público de 100 milhões de usuários ativos mensalmente, inclusive à agência russa de notícias Sputnik. A rede tem diversas funcionalidades, como a realização de videochamadas, seu próprio tocador de música e até um sistema de pagamento interno, o VK Pay.

Da mesma forma que no Brasil, há uma divisão geracional entre as principais redes sociais na Rússia. A geração mais experiente se concentra no Odnoklassniki, nome que pode ser traduzido como "colega de classe", ou aquele seu antigo amigo da escola. Essa rede social ainda tem energia e registrou um aumento de 66% no número de usuários no mês de março.

Novas plataformas

Mas o público órfão das redes sociais de Mark Zuckerberg parece estar querendo algo novo. Nas últimas semanas, diversas plataformas foram lançadas na Rússia com o intuito de atrair público e, quem sabe, gerar renda para um exército de bloggers destituídos de monetização.

Dentre as novas redes há algumas ideias inusitadas, como a do Grustnogram, ou Tristezagram, cujo slogan é: "Uma rede social para os tristes".

Com interface similar à do Instagram, o Grustnogram transforma suas fotos automaticamente em preto e branco e aplica filtros sombrios para expressar a nostalgia dos usuários. No lugar do botão de like, a rede disponibiliza um coração partido.

O site do projeto incita os usuários a "mostrar sua tristeza ao próximo para estarmos tristes juntos", no melhor estilo da famosa frase da compositora brasileira Marília Mendonça: "Ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo vai sofrer".

O Grustnogram é, por enquanto, a nova rede social preferida da artista plástica e harpista Diana Uspenskaya. Segundo ela, a rede é a "que mais se comunica com o contexto atual", no qual "a Rússia ficou triste sem as redes sociais."

A influenciadora Sebastena, que busca uma nova plataforma para se manter conectada com seus conhecidos dentro e fora da Rússia, também optou pelo Grustnogram.

– Eu dei uma olhada em todas as novas redes sociais, analisei as funcionalidades e vi em quais os meus conhecidos estão se registrando. Acabei optando pelo Grustnogram – revelou à Sputnik.

Monetização

Ainda que o público possa eventualmente migrar para novas redes, a dificuldade será em transformá-las em um espaço para monetização e publicidade.

– A maior dificuldade não é lançar uma rede social, mas garantir o seu desenvolvimento comercial – disse à Sputnik Sergei Vareikin, professor da cátedra de Jornalismo Internacional do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO, na sigla em russo).

Antes do bloqueio das redes ocidentais, o Instagram já havia bloqueado a colocação de anúncios por empresas russas. O YouTube continua em atividade na Rússia, mas não permite que usuários do país ganhem dinheiro na plataforma.

Nesse contexto, cresce o uso da plataforma Rutube, que está no mercado russo desde 2006. Na plataforma é possível assistir a vídeos e séries, além de publicar seu próprio conteúdo.

O canal da Sputnik, que foi banido da plataforma YouTube por ser uma mídia russa, encontrou refúgio no Rutube, assim como diversos outros meios que não podem mais operar nas plataformas ocidentais tradicionais.

Para Sergei Vareikin, a melhor aposta para que blogueiros e publicitários russos voltem a monetizar é nas redes já conhecidas do público, como o VKontakte.

– Acredito que a melhor perspectiva agora é para a rede VKontakte. Do ponto de vista comercial, é sempre mais simples trabalhar com algo já estabelecido – acredita o especialista.

No mês de março, o VKontakte anunciou um recorde no tráfego na rede, com um bilhão de visualizações diárias de vídeos disponíveis na plataforma.

Mundo dividido em redes

Independentemente do sucesso de projetos como o Grustnogram, o sonho de redes sociais que unissem o mundo todo em uma só plataforma parece estar cada vez mais distante.

– Podemos dizer que o sistema já está regionalizado. Olhemos para a China, Irã, para o mundo árabe e várias regiões que utilizam outros alfabetos e desenvolvem suas próprias redes sociais – disse Vareikin. "Dizer que determinadas redes sociais são 'globais' é superestimar o alcance dessas plataformas."

O especialista cita casos como o da rede social iraniana Cloob ou dos gigantes da Internet chinesa, como WeChat e Douyin.

– Além da língua principal de uso, uma das formas de classificar uma rede social como nacional é em relação ao país no qual fica localizado o servidor com os dados – notou Vareykin.

Os dados dos usuários coletados pelas redes sociais ficam sujeitos às leis do país no qual se encontram fisicamente os servidores. No Brasil, durante a discussão do Marco Civil da Internet, no governo da presidente Dilma Rousseff, havia grande preocupação com o armazenamento de dados pessoais de brasileiros no exterior.

Nos EUA, por exemplo, legislações como o Ato Patriota permitem que o Estado acesse dados pessoais dos usuários de redes sociais sem mandado judicial, de forma totalmente legal. E isso inclui os dados de pelo menos 130 milhões de brasileiros, usuários de redes sociais cujos servidores estão localizados naquele país.

Uma forma de garantir a privacidade dos usuários, independentemente da localização dos servidores, seria a regulamentação internacional da Internet.

– Eu acho que chegou o momento, independentemente da crise geopolítica atual, de uma regulamentação do mundo digital, que é necessária e justificável – disse Vareikin. "É preciso debater temas como desinformação, discurso de ódio e anonimato na Internet."

Enquanto um regime comum não é formulado, os "Estados continuarão usando as redes sociais para atingir seus objetivos táticos", acredita o especialista.

Em 21 de março de 2022, a Rússia baniu o uso das redes sociais Facebook e Instagram no seu território em resposta à política da empresa de permitir a publicação de conteúdo associado a discurso de violência contra nacionais do país. Anteriormente, redes sociais ocidentais já haviam suspendido a aplicação de sistemas de monetização em plataformas digitais na Rússia.

 
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