Rio de Janeiro, 22 de Abril de 2025

Rússia e Ucrânia se afastam de possível acordo de paz

O bombardeio em Sumy intensifica a crise entre Rússia e Ucrânia, enquanto Trump busca novos interesses geopolíticos sem compromissos claros de Putin.

Segunda, 14 de Abril de 2025 às 15:03, por: CdB

Analistas europeus constatam que, sem conseguir obter compromissos de Vladimir Putin, Trump avança na direção de outros interesses geopolíticos.

Por Redação, com  RFI – de Kiev

O duplo bombardeio russo com mísseis de cruzeiro contra civis no centro de Sumy, no nordeste da Ucrânia, tem forte repercussão na imprensa francesa nesta segunda-feira. O ataque aconteceu na manhã do domingo de Ramos, data em que os cristãos iniciam as celebrações da Semana Santa, à espera da Páscoa.

Rússia e Ucrânia se afastam de possível acordo de paz | Ônibus de passageiros destruído por explosão de míssil russo no centro de Sumy, na região nordeste da Ucrânia.
Ônibus de passageiros destruído por explosão de míssil russo no centro de Sumy, na região nordeste da Ucrânia.

Analistas europeus constatam que, sem conseguir obter compromissos de Vladimir Putin, Trump avança na direção de outros interesses geopolíticos.

O duplo bombardeio russo com mísseis de cruzeiro contra civis no centro de Sumy, no nordeste da Ucrânia, tem forte repercussão na imprensa francesa nesta segunda-feira. O ataque aconteceu na manhã do domingo de Ramos, data em que os cristãos iniciam as celebrações da Semana Santa, à espera da Páscoa. Analistas europeus constatam que, sem conseguir obter compromissos de Vladimir Putin, Trump avança na direção de outros interesses geopolíticos.

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O violento ataque no centro Sumy matou 32 adultos e duas crianças, deixou 117 feridos, entre eles 15 crianças, e deixou poucas dúvidas, segundo analistas europeus, sobre a intenção de Putin punir os ucranianos desta cidade, que serve de base para o vaivém de soldados ucranianos que invadiram a região russa de Koursk, do outro lado da fronteira. Atualmente, as tropas ucranianas ainda ocupam uma pequena área de Koursk, e os moradores de Sumy viviam com a apreensão de um bombardeio de retaliação.

Depois do ataque em Sumy, o presidente Donald Trump evitou incriminar Moscou. O republicano disse ter sido informado pelos russos que houve “um erro terrível”. Já o emissário especial da Casa Branca para a Ucrânia, Keith Kellog, denunciou um bombardeio “inaceitável”, que ultrapassou “os limites da decência”.

O ataque em Sumy aconteceu dois dias depois da visita do enviado de Washington, Steve Witkoff, encontrar-se com Putin em São Petersburgo, e um dia depois de outra delegação, chefiada pelo mesmo Witkoff, manter conversas indiretas com autoridades do regime iraniano em Omã. Oficialmente, o tema da agenda com os iranianos é o futuro do programa nuclear de Teerã, que está perto de conseguir a fabricação de uma bomba atômica.

Futuro chanceler alemão avalia entrega de mísseis a Kiev

O futuro chanceler alemão, Friedrich Merz, disse que Putin cometeu um “grave crime de guerra” ao bombardear civis ucranianos em Sumy. Segundo o jornal Le Figaro, Merz estaria disposto a fornecer mísseis de longo alcance para a Ucrânia, do modelo Taurus, capazes de atingir o território russo a longa distância do front de guerra. Para Merz, essa entrega depende apenas de uma coordenação entre Berlim e os demais europeus aliados de Kiev.

Ao Le Monde, o deputado ucraniano Oleksandr Merezhko, do partido do presidente Volodymyr Zelensky, recorda que “a ideia de Trump era ter um cessar-fogo antes da Páscoa”. Com o ataque a Sumy, diz o deputado, Putin envia a seguinte mensagem para Trump: “Ou você aceita minhas condições nas negociações, ou nunca conseguirá um cessar-fogo até a Páscoa e parecerá fraco”, afirma o deputado, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento ucraniano.

Conexão russo-iraniana

Em entrevista à emissora BFMTV, o professor de política internacional Gilles Kepel, da Universidade Paris Ciências e Letras, especialista no mundo árabe contemporâneo, afirmou que a solução do conflito ucraniano está cada vez mais opaca. Enquanto as negociações com Moscou não avançam, Trump voltou sua atenção para o Irã.

Kepel recorda que o regime dos aiatolás iranianos foi profundamente enfraquecido desde que Israel retaliou o Hamas pelo ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 e também desmantelou o Hezbollah libanês, que eram os braços armados que o Irã usava para impedir que Israel se consolidasse, na região, na posição de potência regional. O Irã não tem mais condições de atacar Israel, constata o especialista.

De forma esquemática, este cientista político explica que uma das hipóteses que pode estar sendo negociada pela equipe de Trump, nessa reaproximação com Moscou, é que a Rússia abra mão de seu apoio ao Irã no Oriente Médio, para deixar a região sob o controle de Israel, aliado de Washington. Se Putin aceitasse essa proposta americana, em troca, os Estados Unidos poderiam deixar para os europeus resolverem o enfrentamento direto desse conflito na Europa.

Kepel adverte que essa reconfiguração geopolítica está longe de concluída. O que os estudiosos da região fazem, enquanto as conversas diplomáticas acontecem sob sigilo, é antecipar os elementos que podem estar em discussão e os diferentes cenários possíveis. O professor lembrou que informações desse tipo jamais chegarão ao conhecimento dos jornais.

A próxima rodada de negociações entre representantes dos Estados Unidos e Irã acontecerá no próximo sábado em Roma, anunciaram fontes diplomáticas nesta segunda-feira. Segundo o ministério iraniano, as conversas se concentrarão apenas no tema nuclear e na flexibilização das sanções americanas ao país. Porém, antes dessa nova rodada, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, viajará a Moscou nos próximos dias para discutir com a Rússia as recentes negociações que manteve com os Estados Unidos.

Para alguns analistas, Trump já demonstrou que não conseguiu convencer Putin de uma trégua na Ucrânia e pode ter avançado seus peões para um acerto geopolítico maior, envolvendo os interesses norte-americanos e israelenses no Oriente Médio.

De acordo com uma declaração do Kremlin nesta segunda-feira, as conversas Putin e o norte-americano Steve Witkoff, que ocorreram na sexta-feira em São Petersburgo, foram “extremamente úteis e eficazes”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, elogiou um canal de comunicação que permite que as autoridades da Rússia e dos Estados Unidos conversem diretamente sobre “diversos elementos de suas posições sobre todo tipo de questões”. O encontro entre Putin e Witkoff, o terceiro desde fevereiro, abordou os “aspectos da resolução ucraniana”, segundo a presidência russa.

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