Analistas europeus constatam que, sem conseguir obter compromissos de Vladimir Putin, Trump avança na direção de outros interesses geopolíticos.
Por Redação, com RFI – de Kiev
O duplo bombardeio russo com mísseis de cruzeiro contra civis no centro de Sumy, no nordeste da Ucrânia, tem forte repercussão na imprensa francesa nesta segunda-feira. O ataque aconteceu na manhã do domingo de Ramos, data em que os cristãos iniciam as celebrações da Semana Santa, à espera da Páscoa.

Analistas europeus constatam que, sem conseguir obter compromissos de Vladimir Putin, Trump avança na direção de outros interesses geopolíticos.
O duplo bombardeio russo com mísseis de cruzeiro contra civis no centro de Sumy, no nordeste da Ucrânia, tem forte repercussão na imprensa francesa nesta segunda-feira. O ataque aconteceu na manhã do domingo de Ramos, data em que os cristãos iniciam as celebrações da Semana Santa, à espera da Páscoa. Analistas europeus constatam que, sem conseguir obter compromissos de Vladimir Putin, Trump avança na direção de outros interesses geopolíticos.
O violento ataque no centro Sumy matou 32 adultos e duas crianças, deixou 117 feridos, entre eles 15 crianças, e deixou poucas dúvidas, segundo analistas europeus, sobre a intenção de Putin punir os ucranianos desta cidade, que serve de base para o vaivém de soldados ucranianos que invadiram a região russa de Koursk, do outro lado da fronteira. Atualmente, as tropas ucranianas ainda ocupam uma pequena área de Koursk, e os moradores de Sumy viviam com a apreensão de um bombardeio de retaliação.
Depois do ataque em Sumy, o presidente Donald Trump evitou incriminar Moscou. O republicano disse ter sido informado pelos russos que houve “um erro terrível”. Já o emissário especial da Casa Branca para a Ucrânia, Keith Kellog, denunciou um bombardeio “inaceitável”, que ultrapassou “os limites da decência”.
O ataque em Sumy aconteceu dois dias depois da visita do enviado de Washington, Steve Witkoff, encontrar-se com Putin em São Petersburgo, e um dia depois de outra delegação, chefiada pelo mesmo Witkoff, manter conversas indiretas com autoridades do regime iraniano em Omã. Oficialmente, o tema da agenda com os iranianos é o futuro do programa nuclear de Teerã, que está perto de conseguir a fabricação de uma bomba atômica.
Futuro chanceler alemão avalia entrega de mísseis a Kiev
O futuro chanceler alemão, Friedrich Merz, disse que Putin cometeu um “grave crime de guerra” ao bombardear civis ucranianos em Sumy. Segundo o jornal Le Figaro, Merz estaria disposto a fornecer mísseis de longo alcance para a Ucrânia, do modelo Taurus, capazes de atingir o território russo a longa distância do front de guerra. Para Merz, essa entrega depende apenas de uma coordenação entre Berlim e os demais europeus aliados de Kiev.
Ao Le Monde, o deputado ucraniano Oleksandr Merezhko, do partido do presidente Volodymyr Zelensky, recorda que “a ideia de Trump era ter um cessar-fogo antes da Páscoa”. Com o ataque a Sumy, diz o deputado, Putin envia a seguinte mensagem para Trump: “Ou você aceita minhas condições nas negociações, ou nunca conseguirá um cessar-fogo até a Páscoa e parecerá fraco”, afirma o deputado, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento ucraniano.
Conexão russo-iraniana
Em entrevista à emissora BFMTV, o professor de política internacional Gilles Kepel, da Universidade Paris Ciências e Letras, especialista no mundo árabe contemporâneo, afirmou que a solução do conflito ucraniano está cada vez mais opaca. Enquanto as negociações com Moscou não avançam, Trump voltou sua atenção para o Irã.
Kepel recorda que o regime dos aiatolás iranianos foi profundamente enfraquecido desde que Israel retaliou o Hamas pelo ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 e também desmantelou o Hezbollah libanês, que eram os braços armados que o Irã usava para impedir que Israel se consolidasse, na região, na posição de potência regional. O Irã não tem mais condições de atacar Israel, constata o especialista.
De forma esquemática, este cientista político explica que uma das hipóteses que pode estar sendo negociada pela equipe de Trump, nessa reaproximação com Moscou, é que a Rússia abra mão de seu apoio ao Irã no Oriente Médio, para deixar a região sob o controle de Israel, aliado de Washington. Se Putin aceitasse essa proposta americana, em troca, os Estados Unidos poderiam deixar para os europeus resolverem o enfrentamento direto desse conflito na Europa.
Kepel adverte que essa reconfiguração geopolítica está longe de concluída. O que os estudiosos da região fazem, enquanto as conversas diplomáticas acontecem sob sigilo, é antecipar os elementos que podem estar em discussão e os diferentes cenários possíveis. O professor lembrou que informações desse tipo jamais chegarão ao conhecimento dos jornais.
A próxima rodada de negociações entre representantes dos Estados Unidos e Irã acontecerá no próximo sábado em Roma, anunciaram fontes diplomáticas nesta segunda-feira. Segundo o ministério iraniano, as conversas se concentrarão apenas no tema nuclear e na flexibilização das sanções americanas ao país. Porém, antes dessa nova rodada, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, viajará a Moscou nos próximos dias para discutir com a Rússia as recentes negociações que manteve com os Estados Unidos.
Para alguns analistas, Trump já demonstrou que não conseguiu convencer Putin de uma trégua na Ucrânia e pode ter avançado seus peões para um acerto geopolítico maior, envolvendo os interesses norte-americanos e israelenses no Oriente Médio.
De acordo com uma declaração do Kremlin nesta segunda-feira, as conversas Putin e o norte-americano Steve Witkoff, que ocorreram na sexta-feira em São Petersburgo, foram “extremamente úteis e eficazes”.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, elogiou um canal de comunicação que permite que as autoridades da Rússia e dos Estados Unidos conversem diretamente sobre “diversos elementos de suas posições sobre todo tipo de questões”. O encontro entre Putin e Witkoff, o terceiro desde fevereiro, abordou os “aspectos da resolução ucraniana”, segundo a presidência russa.