A pesquisa científica russa se caracteriza por paternalismo, corrupção e má qualidade. Embora queira posicionar o país entre os cinco principais do mundo no setor, o Kremlin ataca a liberdade dos cientistas.
Por Redação, com DW - de Moscou
Alguns cientistas russos protestaram recentemente contra uma ordem do ministro da Educação para que os pesquisadores do país registrassem cada encontro com colegas estrangeiros, numa tentativa clara de limitar os contatos com o exterior. A instrução é similar às práticas na época da antiga União Soviética, e com isso o Kremlin pretende ajudar a Rússia a recuperar sua grandeza: até 2024, o país quer estar entre as cinco principais nações científicas do mundo. "A ciência não é russa nem estrangeira, mas sim o resultado de esforços conjuntos", lembrou a jornalista científica Irina Jakutenko no Facebook. Mas como anda a ciência russa? A Universidade Lomonosov, uma instituição pública, se situa na Colina dos Pardais, em Moscou. Ela é considerada um dos mais importantes centros de ensino do país. Quando foi concluído em 1954, com 240 metros, o edifício stalinista era o mais alto do mundo fora da América do Norte. Mais de 200 mil jovens começam seus estudos aqui e nas cerca de 950 outras universidades russas, todos os anos. A julgar apenas pelos números, a Rússia seria uma grande nação científica. Quase 63% dos cidadãos entre 25 e 34 anos têm um diploma universitário, só a Coreia do Sul tem uma proporção maior de acadêmicos. No entanto um diploma não diz necessariamente nada sobre o nível de educação. Muitas universidades reduziram seus requisitos de ingresso com o objetivo de aceitar o maior número possível de estudantes pagantes, aliviando assim a escassez de financiamento em que se encontravam após o colapso da União Soviética. A corrupção também mantém as universidades financeiramente vivas: estima-se que mais de 500 mil diplomas universitários falsificados sejam vendidos todos os anos na Rússia. Para o mercado de trabalho, os contatos pessoais continuam sendo mais importantes do que as qualificações no papel. No outro lado de Moscou está um discreto edifício público de cor amarelo-claro, e muito menor do que a Universidade Lomonosov. Lá está localizado o Rosobrnadsor, o Serviço Federal de Supervisão na Educação e Ciência. Ela licencia as instituições educacionais e tem o poder até mesmo de fechá-las no caso de violações formais. Isso aconteceu com a Universidade Europeia, em São Petersburgo. A instituição privada é considerada na Rússia uma ilha do pensamento liberal. Com um pretexto, o Rosobrnadsor se recusou a renovar a licença no outono de 2017, forçando os funcionários a desocuparem o edifício e interromperem os serviços educacionais. Entretanto os estudantes protestaram contra o fechamento e a mídia independente noticiou sobre o assunto. Após a remodelação do gabinete, em 2018, a universidade foi autorizada a retomar suas operações. Essa não foi a única luta entre as instituições educacionais independentes e o Estado russo. No verão de 2018, o Rosobrnadsor retirou da renomada Escola Superior de Ciências Sociais e Econômicas de Moscou a permissão para emitir diplomas, sobre o pretexto de que a educação lá não corresponderia aos padrões acadêmicos da Rússia.