Exclusão ocorre após vários países ameaçarem boicotar o evento. Rússia condena decisão. China nega ter pedido a Moscou para iniciar invasão à Ucrânia após o fim dos Jogos de Inverno.
Por Redação, com DW - de Pequim
O Comitê Paralímpico Internacional (CPI) voltou atrás e anunciou nesta quinta-feira que os atletas russos e belarussos estão excluídos dos Jogos Paralímpicos de Inverno, em Pequim, devido à invasão da Ucrânia por Moscou.
A decisão ocorre um dia depois que o CPI permitiu a presença dos atletas dos dois países no evento, porém, com bandeira neutra e sem aparecer no quadro de medalhas. O argumento usado foi que "os atletas não eram os agressores".
Mas a presença de russos e belarussos no evento levou a protestos e ameaças dos Comitês Paralímpicos Nacionais de boicotar os Jogos, afirmou o presidente do CPI, Andrew Parsons, em entrevista coletiva em Pequim.
– Eles disseram que, se não reconsiderássemos nossa decisão, era provável que haveria graves consequências para os Jogos de Inverno – explicou. Belarus também foi excluída dos Jogos por ser uma área-chave para a invasão russa, que foi lançada há uma semana.
Parsons afirmou que estava claro que a situação colocou sua organização numa "posição única e impossível" e que os atletas russos e bielorrussos foram vítimas das ações de seus governos.
– O bem-estar do atleta sempre será uma prioridade para nós – contou. "Se os atletas russos e belarussos ficassem em Pequim, outras nações provavelmente se retirariam e os Jogos não seriam viáveis."
A Rússia chamou de "desgraça" a decisão de última hora do CPI de banir seus atletas dos Jogos Paralímpicos de Pequim. "A situação é monstruosa, é claro. Isso é uma vergonha para o Comitê Paralímpico Internacional", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. "Condenamos fortemente o Comitê Paralímpico Internacional por esta decisão."
Delegações russa e belarussa deixarão Pequim
O veredito desta quinta-feira foi condenado por vários órgãos esportivos, com muitos pedindo ao CPI que reverta sua decisão. As delegações russa (71 pessoas) e belarussa (12 integrantes) estão em Pequim, já que os Jogos começam nesta sexta-feira.
O Comitê Paralímpico da Ucrânia saudou a decisão e agradeceu à comunidade esportiva por se unir a eles. "Uma decisão justa, uma decisão contra um país que iniciou esta guerra", disse o presidente do comitê, Valeriy Sushkevych, em entrevista coletiva.
– Agora a Rússia deve deixar os Jogos o mais rápido possível. Também gostaríamos de agradecer a todos pelo apoio. Recebi tantas mensagens nos últimos dias. É hora de parar com essa guerra terrível – comentou Sushkevych.
A proibição obteve o apoio do Comitê Paralímpico da Polônia, que disse que seria inimaginável que atletas da Ucrânia, Rússia e Belarus competissem no mesmo lugar.
"A decisão tomada hoje foi, em nossa opinião, a única possível. A Rússia, com o apoio de Belarus, violou agressivamente a lei internacional e invadiu outro país-membro paralímpico e nosso vizinho próximo", disse o comitê polonês em comunicado enviado à agência de notícias Reuters.
Relatório: invasão russa apenas após os Jogos
Um relatório de serviços ocidentais de inteligência aponta que a China pediu que as lideranças russas esperassem pelo fim dos Jogos Olímpicos de Inverno, realizado em Pequim entre 4 e 20 de fevereiro, para iniciar a invasão à Ucrânia. A informação foi obtida pelo jornal New York Times junto a funcionários dos EUA e de um país europeu.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou em 21 de fevereiro o envio de militares para as áreas dominadas por separatistas Donetsk e Lugansk, e deu o sinal verde para a invasão três dias depois.
Ainda de acordo com o NYT, o relatório aponta que "altos funcionários chineses tinham algum nível de conhecimento sobre os planos ou intenções de guerra da Rússia antes do início da invasão" e que "autoridades americanas e europeias acham difícil acreditar que seja mera coincidência que a invasão de Putin não tenha começado antes dos Jogos".
Embora o pedido tenha sido feito no começo de fevereiro, época em que Putin visitou Pequim para a abertura dos Jogos de Inverno e se encontrou com o presidente chinês, Xi Jinping,, não ficou claro no relatório se Putin abordou o assunto diretamente com o líder chinês.
Durante a visita, os dois países anunciaram uma parceria estratégica "sem limites" e declararam que "não tolerariam tentativas estrangeiras de minar a estabilidade de suas regiões e combateriam qualquer interferência e apoio a revoluções em suas áreas de influência".
A China negou essa acusação, a qual classificou com notícia falsa e uma tentativa de "desviar a atenção e transferiria a culpa" pelo conflito. O porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Wang Wenbin, acusou ainda de Washington de provocar a guerra ao não descartar o ingresso da Ucrânia na Otan. Pequim vem evitado condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia.