De 22 a 27 de novembro artistas de países da África e Brasil integram seminários, apresentam espetáculos de artes cênicas, shows de música, performance Afro-Butoh e coletivo afrofuturista de estética punk do Congo. De graça!
Por Redação – do Rio de Janeiro
A Caravana África Diversa se integra à Temporada Cultural França-Brasil, durante as comemorações dos 200 anos de amizade franco-brasileira e dos 20 anos da primeira Temporada Brasileira na França. De 6 a 9 de novembro, a primeira fase do projeto aconteceu em Nantes, agora, de 22 a 27 de novembro, a Caravana chega ao Rio de Janeiro, recebendo artistas, pesquisadores e grupos de tradições culturais imateriais, de Burkina Faso, Camarões, Congo e Senegal, que encontram criadores do Rio, São Paulo, Maranhão e Minas Gerais.

Os curadores Daniele Ramalho e Hassane Kouyaté (curador convidado desta edição), ator e griô respondem pela programação em torno da diáspora africana entendida pelas lentes das identidades culturais. O patrocínio é da Petrobras através da Lei de Incentivo à Cultura.
A Caravana fará um percurso por diversos espaços da cidade, como o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan) e o Teatro Cacilda Becker, no Catete, o Teatro Dulcina e a BiblioMaison, no Centro, além de atividades no Quilombo Cafundá Astrogilda, em Vargem Grande, e no Quilombo da Glória. Contemplando mesa redonda, oficinas, cortejos, rodas de histórias, performances e apresentações musicais, toda a programação será gratuita.
A abertura, sábado, dia 22/11 às 9h30, no CNFCP terá início com um cortejo com a Folia de Reis Penitentes do Santa Marta (RJ) e a Guarda de Massambique de Nossa Senhora das Mercês (MG), seguida de uma mesa redonda com o tema Memória e História, com a participação, do museólogo Mario Chagas, da historiadora Monica Lima, do babalorixá Adailton Moreira e da Capitã Pedrina, guardiã do Reinado de Nossa Senhora do Rosário e detentora de saberes como cantos, oralidade em línguas africanas, além de cultura afro-brasileira.
Capitã Pedrina atua como ativista em questões étnico-raciais, sendo também doutora por Notório Saber em Comunicação pela UFMG. Participou ao longo de 17 anos do processo para a conquista do Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil para o registro dos “Saberes do Rosário: Reinados, Congados e Congadas”, que ocorreu neste 2025. Congadeira e pesquisadora, ministra a disciplina “Catar folhas: saberes e fazeres do povo de axé” na UFMG e orienta pesquisas de mestrado e doutorado. Publicou recentemente pelo PPGCOM da UFMG os livros “Meu Rosário, Minha Guia” e “Eu tenho a África dentro de mim”.
Ainda no sábado, cantos e contos aguardam o público no CNFCP. Daniele Ramalho (RJ), Boniface O’fogo (Camarões) e Hassane Kouyaté (Burkina Faso) contadores de histórias, darão ênfase à oralidade, importante referência da programação e fundamental para a transmissão de saberes ancestrais. Serão acompanhados pelas Caixeiras do Divino da Família Menezes (Maranhão), tendo a cantora e compositora, Renata Amaral (SP), do coletivo Ponto BR, como convidada.
Domingo, 23/11, no Quilombo Cafundá Astrogilda, Capitã Pedrina juntamente com Dona Ivani Rosa da Silva, do Quilombo, realizam a Oficina Catar Folhas – Sabedorias do Povo de Axé aberto ao público em geral!
De 25 a 27 de novembro
A programação é repleta de diversidade. Depois de sábado e domingo, será retomada na próxima terça-feira, quando a Folia de Reis Penitentes do Santa Marta (RJ) e o coletivo Fulu Miziki (Congo) fazem uma vivência, às 10h, no CNFCP. Mais tarde, a BiblioMaison recebe o público para a Noite de Contos, a partir das 18h. Os artistas Coralia Rodriguez, Muriel Bloch, Boubacar Ndjaie e Tatiana Henrique são os convidados para apresentação de contação de histórias.
À noite, ocorre a sessão única do solo de dança-teatro Masemba, de Benjamin Abras, no Teatro Cacilda Becker, no Catete, às 19h. Há oito anos sem se apresentar em palcos do Brasil, o ator, diretor e dramaturgo, natural de Belo Horizonte, é referência em Afro-Butoh. Vive na Europa, há cinco anos na França, e no Brasil participou de trabalhos com o diretor João das Neves e com o coreógrafo Rui Moreira. Paralelamente, fez sua iniciação em religiões de matriz africana: O solo ‘Masemba é fruto de imersões contínuas em várias tradições, mas especialmente da minha experiência com a Capoeira Angola e a investigação sobre o transe da presença, fazendo reverência às ancestralidades, à força da transformação, à experiência do corpo como lugar da encruzilhada e transformação”, define o artista.
Parte da composição do solo Masemba é a pintura corporal, resultante de uma investigação com o povo Omo, próximo do Níger. Nessa comunidade, que se paramenta usando argila, terra e flores, viu o corpo adornado com desenhos e grafismos, num território de beleza e transformação. Masemba incorpora signos. A palavra Masemba tem um jogo de significados. “Estou trabalhando com o Afro Butoh e, no processo de criação, me alinho com a pintura Zen que estudei durante muitos anos e que é o elemento ‘ma’, em japonês, pode ser traduzido como ‘entre lugar’. O ‘ma’ é uma janela que no centro pode ter um Sol ou uma Lua. No processo da vida, há a incerteza, a impermanência, como prega a Filosofia Zen. E esse processo ele existe dentro da experiência africana. Ou seja, a cultura afro-asiática traz isso pra gente. Ao pé da letra, a palavra Masemba é o plural de Semba, mar. Masemba quer dizer vários mares”.
O coletivo Fulu Miziki, natural do Congo, pela primeira vez mostra sua vertiginosa obra no Brasil. O show será dia 27/11, às 19h, no Teatro Dulcina. Desde 1999, Pisco Crane tem trabalhado incansavelmente para desenvolver um gênero musical baseado no som de tudo o que é jogado no lixo. A incrível Lady Aicha é a voz principal do conjunto. O grupo realiza residências artísticas pelo mundo, desenvolvendo uma narrativa audiovisual futurística que inspira a consciência ecológica, a resiliência, a criatividade e a agitação nas pistas de dança.
– Estamos em nossa sexta edição. A programação aborda temas como meio ambiente e urgências climáticas, democracia, direitos humanos, lugares de memória da Rota dos Escravizados e enfrentamento ao racismo, por meio de seminário, oficinas, cortejos, apresentações artísticas e a publicação de uma revista – destaca a curadora e idealizadora da iniciativa, Daniele Ramalho. “Rio de Janeiro e Nantes são cidades que foram marcadas no passado pelo tráfico de africanos em situação de escravidão e que hoje promovem reconhecimento e reparação. A Caravana África Diversa reafirma objetivo de ser aliada na luta pelo reconhecimento da importância da matriz africana na formação cultural brasileira e a difundir a cultura do Brasil no exterior”, complementa.
Nascida no Rio, a atriz e gestora cultural, Daniele Ramalho, é Mestre em Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas. Seu estudo traz informações acerca de políticas públicas de patrimonialização dos lugares de memória do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, no Cais do Valongo, Rio de Janeiro, através da análise dos documentos oficiais do processo de seu registro como Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO.
Sobre o África Diversa
Desde a criação do projeto, em 2011, percorre a cidade realizando intervenções artísticas, seminários e promovendo convergências de saberes ancestrais. Foram realizadas edições em importantes espaços da cidade do Rio de Janeiro como o Centro das Artes Calouste Gulbenkian e o Museu de Arte do Rio e, em 2013, na reinauguração do Centro Cultural José Bonifácio, lugar de memória do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, Patrimônio Mundial da UNESCO e atual Museu da História e da Cultura Afro- Brasileira.
Programação Caravana África Diversa
Abertura – 22 de novembro – Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
9h30 – Cortejo Folia de Reis Penitentes do Santa Marta e Guarda de Massambique de Nossa Senhora das Mercês (MG) – Área externa do CNFCP
11h – Início do seminário – Mesa inaugural ‘Memória e História’
Com Mário Chagas, Mônica Lima, Adailton Moreira, Capitã Pedrina (MG)
Mediação: Daniele Ramalho
15h – Contos e música
Contação de histórias e apresentações musicais com Hassane Kouyaté (Burkina Faso), Daniele Ramalho (RJ), Boniface Ofogo (Camarões), Família Menezes (MA) convida Renata Amaral (SP), Guarda de Massambique de Nossa Senhora das Mercês (MG).
23 de novembro, Domingo – Quilombo Cafundá Astrogilda
10h – Oficina Catar Folhas – Sabedorias do Povo de Axé
Capitã Pedrina de Lourdes (Oliveira/MG) com Dona Maria Lúcia do Quilombo Cafundá
Astrogilda
15h – Apresentação Guarda de Massambique de Nossa Senhora das Mercês (MG)
Quilombo Cafundá Astrogilda
25 de novembro, Terça-feira
10h – Vivência com Folia de Reis (RJ) e Fulu Miziki (Congo)
CNFCP
Seminário
Mesa – A tradição oral da África
Representante do CNFCP, Daniele Ramalho, Hassane Kouyaté, Boniface Ofogo
CNFCP
18h – Noite de Contos na BiblioMaison com Coralia Rodriguez, Mureiel Bloch, Boubacar Ndiaye e Tatiana Henrique
26 de novembro, Quarta-feira
16h Oficina de contos Boubacar Ndiaye & Baye Cheikh Mbaye (Senegal)
Quilombo Ferreira Diniz (Glória)
19h Espetáculo de dança-teatro Masemba com Benjamin Abras
Teatro Cacilda Becker
27 de novembro, Quinta-feira
11h às 13h
Oficina de Dança – Afro Butoh Benjamin Abras
Museu de Arte do Rio (MAR)
19h- 21h
Contos e Música
Hassane Kouyaté, Coralia Rodriguez, Daniele Ramalho, Boniface Ofogo, Folia-de-Reis Penitentes do Santa Marta e Fulu Mizik
Teatro Dulcina
Serviço:
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan) – Rua do Catete, 179
Teatro Cacilda Becker – Rua do Catete, 338
Teatro Dulcina – Rua Alcindo Guanabara, 17
BiblioMaison – Avenida Presidente Antônio Carlos, 58/11º