Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Rio propõe sede do BRICS em prédio do Jockey para quitar dívida

Prefeitura do Rio sugere sede do BRICS em imóvel subutilizado do Jockey Club para quitar dívidas de IPTU, com potencial de revitalizar o Centro da cidade.

Quarta, 09 de Julho de 2025 às 11:10, por: CdB

O imóvel, subutilizado desde 2013, pode ser cedido à prefeitura como parte de um acordo para quitar dívidas milionárias de IPTU.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

A sede social do Jockey Club Brasileiro (JCB), localizada no Centro do Rio e projetada por Lúcio Costa, pode se tornar a futura sede mundial do BRICS, informa reportagem do diário conservador carioca O Globo. A proposta foi apresentada pelo prefeito Eduardo Paes ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o encerramento da reunião de representantes dos países que compõem o bloco econômico.

Rio propõe sede do BRICS em prédio do Jockey para quitar dívida | Alvo de negociação. A sede social do Jockey Club Brasileiro, no Centro: projeto de Lúcio Costa e jardins de Burle Marx
Alvo de negociação. A sede social do Jockey Club Brasileiro, no Centro: projeto de Lúcio Costa e jardins de Burle Marx

O imóvel, subutilizado desde 2013, pode ser cedido à prefeitura como parte de um acordo para quitar dívidas milionárias de IPTU.

— Com a expansão do número de países que integram o BRICS, começaram discussões sobre a necessidade de uma sede fixa para estabelecer uma governança. O Rio foi a primeira cidade a oferecer espaço, porque quer ter protagonismo para uma instituição que aumenta sua importância na economia mundial. Os chineses também fizeram isso quando surgiu a proposta do Brics de criar o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD). Eles ofereceram um prédio em Xangai (onde hoje fica a sede do banco) — explicou o vice-prefeito Eduardo Cavaliere.

Segundo dados da Dívida Ativa municipal, os imóveis do JCB acumulam débitos de IPTU que somam cerca de R$ 220 milhões. Para viabilizar a cessão do prédio, a prefeitura estuda aplicar o instituto jurídico da dação em pagamento — quando um bem é entregue ao credor em substituição ao pagamento em dinheiro. Em nota, o Jockey confirmou as tratativas: “O imóvel está sendo objeto de negociação com a prefeitura no âmbito de uma possível composição de débito inscrito em Dívida Ativa e em cobrança judicial pela Procuradoria-Geral do Município”.

Apesar da proposta, o BRICS ainda não se manifestou oficialmente sobre o possível uso do prédio no Rio como sua futura sede. A única certeza, por ora, é que o edifício precisará passar por uma ampla modernização para ser reutilizado. Em 2019, o Jockey estimou um custo de R$ 100 milhões para as reformas, incluindo a restauração dos jardins suspensos projetados por Roberto Burle Marx. O projeto, que previa parceria com a iniciativa privada, não foi adiante.

Uso atual é mínimo, custo é alto

O prédio tem 83 mil metros quadrados e uma das frentes voltada para a Avenida Presidente Antônio Carlos, em uma das áreas mais estratégicas do Centro. Atualmente, o uso é limitado: algumas salas estão alugadas, há um cartório funcionando e as garagens continuam operando. Espaços antes nobres como salões de festas, quadras, cinema e piscina seguem fechados. Aos sócios restam uma sala de estar, o salão de leitura e o estacionamento.

O imóvel é o que menos gera receita entre os três que o JCB possui na cidade. Em 2024, dos R$ 167 milhões arrecadados principalmente com apostas no Hipódromo da Gávea, apenas R$ 13,4 milhões (7,8%) vieram da sede do Centro. As despesas, por outro lado, são altas: o IPTU de 2024 foi de R$ 2,7 milhões, segundo balanço do clube.

Para o empresário Cláudio Castro, da Sérgio Castro Imóveis, a proposta da prefeitura tem potencial para reverter o esvaziamento da região central:

— A ideia de oferecer ao BRICS é ótima. O prédio é um dos símbolos do esvaziamento do Centro e poderia atrair mais investimentos. Pela localização, aquele imóvel tem vocação comercial, e seu aproveitamento poderia estimular mais residenciais.

Castro também critica a metodologia de cálculo do IPTU no Centro, que ainda segue as regras de 2017, anteriores à pandemia de covid-19 — evento que reduziu a demanda por escritórios e desvalorizou imóveis corporativos.

Cenário de ociosidade no Centro do Rio

O caso da sede do Jockey não é isolado. Vários imóveis de grande porte seguem vazios ou subutilizados no Centro da cidade. Um exemplo é o antigo edifício da Caixa Econômica Federal, com 56 mil metros quadrados e 31 andares, na esquina das avenidas Rio Branco e Almirante Barroso. Desde que foi desocupado em 2021, apenas uma loja de produtos chineses ocupa o térreo. Segundo auditoria do fundo que administra o prédio, 98% da área está ociosa.

— Como estamos em transição, ainda não temos uma definição sobre a ocupação do imóvel — afirmou Guilherme Mourão, diretor da Actual DTVM, responsável pela gestão desde junho.

Outro gigante vazio é o Edifício Sedan, antiga sede do Banco do Brasil na Rua Senador Dantas. Com 64 mil metros quadrados distribuídos em 45 andares, o prédio tem apenas uma agência bancária e algumas salas em funcionamento. O BB já tentou vender o imóvel por mais de R$ 300 milhões, mas agora pretende reocupar parte do espaço com departamentos da própria instituição.

Para o arquiteto Carlos Fernando de Andrade, ex-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio, transformar esses prédios em residenciais é uma tarefa complexa e onerosa:

— O problema é que muitos imóveis não têm perfil para ser retrofitados e convertidos em residenciais porque foram projetados como grandes lajes corporativas, o que torna o custo de adaptação muito alto. E a demanda também foi reduzindo à medida que o Rio perdeu instituições que movimentavam o entorno, como a Bolsa de Valores do Rio, na Praça Quinze.

Enquanto isso, a proposta de dar ao prédio do Jockey uma nova vocação internacional pode colocar o Rio de Janeiro de volta no mapa da diplomacia global — e, de quebra, aliviar as contas de um dos clubes mais tradicionais da cidade.

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