Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Projeto propõe tarifa zero no transporte público do Rio

Projeto de lei propõe gratuidade gradual no transporte público do Rio, com financiamento através de taxa para empresas. Entenda como funciona a Tarifa Zero.

Sexta, 07 de Novembro de 2025 às 12:46, por: CdB

Proposta apresentada nesta semana por Monica Benicio (PSOL) cria taxa para empresas em substituição ao vale-transporte e prevê gratuidade gradual no transporte público em até quatro anos.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

Os vereadores da Câmara do Rio começaram a analisar nesta semana um novo projeto de lei que institui a Tarifa Zero nos transportes públicos da capital. De autoria da vereadora Monica Benicio (PSOL), a proposta protocolada na última terça-feira prevê a implementação gradual da gratuidade, com redução progressiva da passagem até a isenção total no prazo de quatro anos.

Projeto propõe tarifa zero no transporte público do Rio | Proposta em tramitação na Câmara do Rio prevê passe livre nos ônibus da cidade
Proposta em tramitação na Câmara do Rio prevê passe livre nos ônibus da cidade

De acordo com o texto, o financiamento da política seria baseado na reformulação do Fundo Municipal de Mobilidade Urbana Sustentável (FMMUS). Um dos pontos de destaque do projeto é a criação da Taxa Carioca de Mobilidade, um tributo pago por empresas com sede ou filial na cidade que tenham mais de 10 funcionários

Essa taxa substituiria o atual vale-transporte. Em vez de pagar o benefício aos funcionários, as empresas fariam a contribuição diretamente ao fundo municipal.

Além da taxa, o fundo também seria abastecido com receitas do Rio Rotativo — sistema de estacionamento rotativo da prefeitura em áreas de alta demanda —, parte da cota municipal do IPVA, multas aplicadas pela Secretaria de Transportes (SMTR) e verbas de publicidade em veículos e terminais.

Para a vereadora, a mudança no financiamento permite alterar a lógica do sistema, que passaria a ser remunerado pelo “custo real da operação” e não pela quantidade de passageiros.

– A base de cálculo atual infla os custos e incentiva a superlotação dos modais. Nessa toada os preços das tarifas estão sempre aumentando absurdamente e o serviço nunca melhora –  argumenta Monica Benício. “Retrato disso é que, em 2015, 1,3 bilhão de pessoas usavam o transporte público no Rio e, em 2024, esse contingente caiu para 673 milhões, praticamente a metade”, completa a arquiteta urbanista.

O projeto em tramitação no Legislativo carioca também estabelece metas ambientais, como a redução de 40% das emissões de CO2 da frota até 2030 e a eliminação total até 2040, com adoção de uma frota 100% elétrica. O texto também prevê que a operação saia de entes privados e seja gerida diretamente pela Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC-Rio).

A proposta ainda precisa ser votada em dois turnos no plenário da Casa antes de seguir para a sanção do prefeito Eduardo Paes (PSD).

Abertura da Rio Ônibus ao modelo

Embora propostas de tarifa zero sejam historicamente defendidas por setores mais progressistas, o modelo de financiamento sugerido no projeto já chegou a ser tema de diálogo com o sindicato patronal das empresas de ônibus.

No mês passado, antes mesmo da protocolização do projeto, a Rio Ônibus participou de uma reunião no gabinete do psolista para discutir a ideia. O encontro foi pedido pelo próprio grupo, após uma publicação da vereadora no diário conservador carioca O Globo, ao lado do presidente do PSOL carioca, Juan Leal, em que questionam a razão da tarifa zero ainda ser motivo de polêmica na cidade, defendendo que o assunto seja tratado como política pública de mobilidade urbana. 

Na ocasião, o presidente do sindicato, João Gouveia, defendeu que o passe-livre poderia ser um modelo “ganha-ganha”, no qual a prefeitura teria maior controle e as empresas, mais previsibilidade. Gouveia sugeriu que o custeio viesse do Fundo de Mobilidade (FMUS), com contribuições de empregadores em substituição ao vale-transporte — exatamente o mecanismo central do projeto agora apresentado. Na época, a vereadora condicionou o avanço do diálogo ao controle público da bilhetagem eletrônica e à transparência total dos dados, pontos que foram incluídos no texto.

Inspiração em outros projetos

Este não é o primeiro projeto de tarifa zero a tramitar na Casa. Na legislatura passada, o então vereador Edson Santos (PT) protocolou um projeto também com foco na gratuidade dos ônibus, ficando na gaveta após o parlamentar não conseguir um lugar no velho Palácio Pedro Ernesto após a última eleição. 

O novo texto, segundo Benício, tem inspiração em propostas semelhantes, como a da vereadora Iza Lourença (PSOL-MG) em Belo Horizonte — que acabou vencido na Câmara de BH após um longo embate — e a PEC 25-2023, na Câmara dos Deputados, da parlamentar Luiza Erundina (PSOL-SP), que propõe um Sistema Único de Mobilidade (SUM) com financiamento federal.

A inspiração de Belo Horizonte, no entanto, serve como alerta. O projeto similar, também do PSOL, foi rejeitado na capital mineira por 30 votos a 10, no início de novembro. A derrota foi atribuída à forte pressão da prefeitura e de entidades empresariais contra a proposta.

Atualmente, mais de 120 cidades brasileiras adotam a tarifa zero universal, sendo 12 delas com a população acima dos 100 mil habitantes. A lista inclui municípios de diferentes espectros políticos: de Maricá, no Rio  — cidade que encabeçou a proposta do passe livre — até Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

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