Os comentários de Lula ecoaram suas críticas constantes ao presidente dos EUA, Donald Trump, por impor tarifas, restrições de visto e sanções financeiras ao Brasil em resposta ao julgamento e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Por Redação, com Reuters – de Nova York, NY-EUA
Em um discurso objetivo e contundente de cerca de 15 minutos, na abertura da Assembleia-Geral da ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou a tribuna para dizer que a soberania brasileira é inegociável e criticar ataques ao Judiciário e medidas unilaterais impostas ao país, em um recado ao governo dos Estados Unidos.

Os comentários de Lula ecoaram suas críticas constantes ao presidente dos EUA, Donald Trump, por impor tarifas, restrições de visto e sanções financeiras ao Brasil em resposta ao julgamento e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por planejar um golpe após perder a eleição de 2022.
— Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais. Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável — disse Lula, em recado direto aos Estados Unidos.
Defesa
Em outro recado ao governo norte-americano, que acusa o Brasil de “caça às bruxas” a Bolsonaro, Lula afirmou que o julgamento foi minucioso e com amplo processo de defesa.
— Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela — afirmou.
O anúncio das novas sanções, incluindo a aplicação da Lei Magnitsky à mulher do ministro do STF Alexandre de Moraes e a suspensão do visto do advogado-geral da União, Jorge Messias, e auxiliares de Moraes, reforçou a necessidade de uma resposta dura.
— Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra — pontuou o presidente, logo no início de seu discurso.
Mundo plural
Em entrevista à agência inglesa de notícias Reuters, em agosto, Lula disse que não considerava uma conversa com o norte-americano, nem por telefone, porque não iria “se humilhar”, uma vez que Trump não queria conversar. A impressão agora, no entanto, é outra.
Lula ainda aproveitou o seu discurso para defender o multilateralismo e a necessidade de um mundo plural. Destacou a aliança do Brasil com os demais países do BRICS, e a União Europeia, países asiáticos e G20, e cobrou que a voz do “sul global” seja ouvida.
— Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia. O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades. Quando a sociedade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas — concluiu.