Arévalo, que desde a vitória folgada nas urnas, em agosto de 2023, sofre com processos jurídicos, precisou enfrentar obstáculos até no dia marcado para a posse. Uma decisão judicial determinou que os deputados eleitos pelo Semilla, o partido de Arévalo, assumissem seus cargos como independentes e não como representantes da legenda.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Cidade da Guatemala
O novo presidente da Guatemala, o progressista Bernardo Arévalo, tomou posse na madrugada desta segunda-feira, em uma cerimônia que começou com mais de nove horas de atraso, o que provocou tensão e receio de que se tratasse de uma nova tentativa de golpe. Com manobras políticas de última hora no Congresso guatemalteco, opositores tentaram atacar o partido governista e enfraquecer o presidente.
Arévalo, que desde a vitória folgada nas urnas, em agosto de 2023, sofre com processos jurídicos, precisou enfrentar obstáculos até no dia marcado para a posse. Uma decisão judicial determinou que os deputados eleitos pelo Semilla, o partido de Arévalo, assumissem seus cargos como independentes e não como representantes da legenda. Após debates acalorados e pressão internacional, eles conseguiram angariar o apoio de outros partidos para reverter a decisão, recuperar a bancada legislativa, que é minoritária, e ainda conquistar a presidência do novo Congresso.
A ação opositora fez com que a posse do presidente, marcada para às 16h de domingo só acontecesse às 9h desta segunda-feira. Durante os momentos de indefinição, representantes de países convidados chegaram a assinar um documento em defesa do mandato de Arévalo e exigindo a conclusão da posse. O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, estava presente no país para a cerimônia e foi um dos que apoiou a iniciativa.
Além do Brasil, a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos e chanceleres e presidentes de outros países também assinaram o documento. O mandatário colombiano, Gustavo Petro, chegou a dizer em suas redes sociais que não deixaria a Guatemala até que o novo presidente fosse empossado.
O mais recente de uma série de empecilhos legislativos provocados por opositores destacou os desafios que Arévalo enfrenta como líder da nação mais populosa da América Central, à qual ele prometeu trazer amplas reformas, combater a corrupção e enfrentar o aumento do custo de vida e da violência, principais fatores que impulsionam a migração para os Estados Unidos.
– Nossa democracia tem a força para resistir e, por meio da unidade e confiança, podemos transformar o cenário político na Guatemala – disse Arévalo momentos após assumir o cargo, em substituição ao conservador Alejandro Giammattei, cujo governo foi envolto em escândalos de corrupção. Giammattei não compareceu à cerimônia.
Arévalo reiterou que, em seu governo, combaterá o uso indevido de recursos públicos. "Não permitiremos que nossas instituições se dobrem novamente diante da corrupção e impunidade". O mandatário ainda falou em "impulsionar o progresso" do país, convidando líderes políticos, sociais, profissionais e empresariais a se unirem em um caminho de diálogo e paz.
– Estamos diante de uma oportunidade histórica para reverter décadas de abandono social e deterioração institucional – manifestou enquanto centenas de apoiadores se reuniam na Plaza de la Constitución da Cidade da Guatemala, capital do país, para celebrar. Ele enfatizou que o povo guatemalteco demonstrou "sabedoria" e que o Tribunal Superior Eleitoral e a Suprema Corte protegeram o "desejo soberano" de "viver em democracia".
Momento histórico
A vitória inesperada do presidente e do movimento progressista por ele representado é um momento histórico para a Guatemala, há muito governada por partidos conservadores. Como diplomata de carreira, sociólogo e filho de um ex-presidente, Arévalo, de 65 anos, enfrentou oposição constante de partidos políticos estabelecidos, que tentaram minar repetidamente sua vitória eleitoral. O procurador-geral da Guatemala, aliado de Giammattei, fez várias tentativas para dificultar a chegada de Arévalo à Presidência, incluindo tentativas de suspender a imunidade legal dele e da vice-presidenta, de suspender o partido Semilla e de anular a eleição.
Além de lidar com questões internas, o governo de Arévalo e da vice-presidente Karin Herrera terá que equilibrar as demandas dos Estados Unidos para conter a migração, em meio a remessas recordes que sustentam a economia local. Agindo sob pressão dos EUA, Giammattei frequentemente utilizava a polícia e o exército para conter migrantes, usando táticas agressivas, como lançar gás lacrimogêneo nas multidões.
Em seu discurso de posse, Arévalo afirmou que seu governo está comprometido em tratar os migrantes que atravessam o território guatemalteco com "dignidade, respeito e compaixão, da mesma forma que exigiremos que os migrantes guatemaltecos sejam tratados no exterior".
A chegada de Arévalo ao poder foi prestigiada pelos presidentes de Honduras, Xiomara Castro, do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro, além do rei da Espanha, Felipe 6º, e do chefe da diplomacia da União Europeia, o espanhol Josep Borrell. O Brasil foi representado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo diplomata Benoni Belli, escolhido pelo governo para representar o país na OEA (Organização dos Estados Americanos), que enviou uma pequena delegação à posse em apoio ao ritual democrático. Devido ao atraso, Boric e Felipe 6º precisaram ir embora antes da posse.
No entanto, os atrasos não pareceram diminuir a alegria de muitos apoiadores de Arévalo, que soltaram fogos de artifício enquanto celebravam até tarde da noite. "Temos muita esperança no novo presidente", disse Eli Montes, um médico de 27 anos que esperou por horas para ouvir Arévalo falar. "Ele tem a oportunidade de promover mudanças e deixar para o próximo governo uma Guatemala que está no caminho do desenvolvimento". "Minhas esperanças são de que ele possa realmente iniciar mudanças para a Guatemala", disse Adolfo Zacarías, contador de 40 anos.