Montezano se disse mal interpretado. Ao assumir o cargo, em meados de 2019, 90% do relatório já estaria pronto e que sua administração apenas “deixou a consultoria terminar o trabalho”, diz ele. Após receber o relatório, divulgou uma versão resumida para a população e entregou a completa para autoridades.
Por Redação, com agências internacionais - de Davos, Suíça
Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), o economista Gustavo Montezano disse, nesta quarta-feira, que a auditoria interna contratada a um escritório internacional ao preço de R$ 48 milhões, com a promessa de abrir uma suposta ‘caixa-preta’ que existiria na instituição, foi uma iniciativa do governo anterior. Montezano, no entanto, assumiu o cargo com a promessa ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que divulgou a suspeita durante a campanha eleitoral, de encontrar os ilícitos inexistentes.
Montezano se disse mal interpretado. Ao assumir o cargo, em meados de 2019, 90% do relatório já estaria pronto e que sua administração apenas “deixou a consultoria terminar o trabalho”, diz ele. Após receber o relatório, divulgou uma versão resumida para a população e entregou a completa para autoridades.
— Tivemos essa notícia que foi mal interpretada pela sociedade novamente. Dentro da nossa política de divulgar tudo o que achamos que é necessário, a gente recebeu essa informação e soltou para o mercado — afirmou Montezano, que participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Petrobras
Os quase R$ 50 milhões foram pagos pelo BNDES ao longo de 1 ano e 10 meses de investigações. O relatório produzido, no entanto, não apontou qualquer evidência direta de corrupção, em oito operações com a JBS, o grupo Bertin e a Eldorado Brasil celulose. O valor foi pago a um escritório estrangeiro, o Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, que subcontratou outro brasileiro, o Levy & Salomão.
Montezano também acrescentou que auditorias como a que foi feita no BNDES costumam ser caras e por isso o valor não chamou a atenção no momento em que ele assumiu o banco, mas ponderou que, sim, o valor é significativo. Ele considerou “muito perigosa e até infeliz” qualquer comparação entre o BNDES e a Petrobras, destacando que na petrolífera de controle estatal houve provas de crimes e má gestão fiduciária, com pessoas confessando crimes dentro da diretoria, diferente do Banco. Montezano destacou que o BNDES está na ponta oposta, com nada provado contra nenhum diretor ou funcionário até hoje. Ele reiterou que uma preocupação fundamental do BNDES atualmente é recuperar a reputação do banco, o que ele avaliou que já está acontecendo.
— O trabalho está dando resultado — acredita.
Participação
Montezano também comentou sobre a oferta de ações da Petrobras em poder do BNDES, que deve ser precificada em 5 de fevereiro, destacando que os recursos entrarão no balanço do banco no primeiro semestre, com 60% do lucro líquido ficando para a União.
Na operação, o banco poderá vender até 734,2 milhões de ações ordinárias da Petrobras, segundo prospecto publicado pela petroleira, equivalente a um montante de 23,5 bilhões de reais, se considerado o preço de fechamento dos papéis no último dia 20.
A fatia de ações na oferta representa 9,86% do capital votante da Petrobras e é toda a participação detida atualmente pelo BNDES nessa classe de ações.
— A Petrobras é continuação de uma estratégia de desinvestimento que a gente já vem há alguns meses pautando. Em dezembro, colocamos a operação da Marfrig, em janeiro tivemos a operação de Light — afirmou, referindo-se a ofertas de outras ações em poder do banco.
Noiva
Ele não quis comentar sobre quando acontecerão as novas ofertas de ações de outras empresas nas quais o BNDES tem participação. Em resposta a jornalistas sobre que questionamentos ouviu no evento em Davos, ele relatou que as conversas têm sido muito boas e que há reconhecimento de que reformas prometidas um ano atrás foram entregues.
— O Brasil está cada vez mais entrando para ser a noiva da vez no mercado global de investimentos. A grande dúvida é a continuação dessas reformas, o que a gente consegue fazer ainda esse ano, porque essas reformas potencializam muito a perspectiva futura do Brasil — acredita.