Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Política externa do governo Bolsonaro isola o país, na aldeia global

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Sábado, 01 de Agosto de 2020 às 13:26, por: CdB

Para José Niemeyer, coordenador-geral do Programa de Relações Internacionais da Graduação e Pós-Graduação do Ibmec-Rio, a política externa do atual governo, bem como as recentes declarações do presidente sobre as vacinas, são um erro.

Por Redação, com Sputnik Brasil - de São Paulo
A forma como o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem se posicionado, no cenário internacional, tem isolado o Brasil na arena global e comprometido as negociações para adquirir vacinas contra o novo coronavírus. Na quinta-feira, Bolsonaro declarou que o Brasil está importando 100 milhões de doses de vacina produzida pela farmacêutica AstraZeneca e Universidade de Oxford, sem mencionar os esforços do Estado de São Paulo na construção de um medicamento contra a covid-19, em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
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O chanceler Ernesto Araújo foi acusado pela oposição de 'lambe-botas' dos Estados Unidos
Ao exaltar a vacina inglesa, o presidente defendeu a sua superioridade tal como se defende um vinho, pela denominação origem. — Não é daquele outro país, não. Tá ok, pessoal? — disse o presidente, no que foi interpretado pela imprensa como uma clara referência à China.

‘Comunavírus’

Esta, no entanto, não é a primeira polêmica do governo Bolsonaro com o país asiático. Membros do alto escalão do seu governo já culparam Pequim pelo avanço da covid-19, recorrendo a termos como "vírus chinês" e "comunavírus". Para José Niemeyer, coordenador-geral do Programa de Relações Internacionais da Graduação e Pós-Graduação do Ibmec-Rio, a política externa do atual governo, bem como as recentes declarações do presidente sobre as vacinas, são um erro. — É uma política externa muito específica. Que vai contra a tradição da nossa política externa — disse José Niemeyer à agência russa de notícias Sputnik Brasil. Ele reiterou que "essa diferença de conduzir a política externa brasileira é um erro, do ponto de vista do conceito de relações internacionais”.

Aliados

O problema não seria somente o fato da China ser o principal importador de produtos agrícolas como soja e derivados. Para o professor, já que o Brasil não pode ser definido como superpotência, declarar alianças e inimigos na arena internacional seria uma postura imprudente para um "representante máximo da República" e para um chefe de Estado. — O Brasil perde com isso. A sociedade brasileira perde com isso. As empresas que transacionam não só com a China, mas também com outros parceiros que não sejam Estados Unidos e Israel, os dois únicos países, ao que parece, que Bolsonaro e sua equipe enxergam como aliados, perdem — afirmou José Niemeyer.

Longo prazo

O cientista afirmou que a constante busca por inimigos externos e internos deve continuar sob a atual gestão do país, que busca "usar a política externa como palanque". A atitude, segundo ele, traz muitos problemas a longo prazo para o Brasil. — O presidente Bolsonaro erra ao escolher a China como um país que não tem a preferência do Brasil. O Brasil deveria voltar a fazer como sempre fez e ter uma agenda de política externa baseada no multilateralismo, na transparência, em respeitar o direito de todos os povos e nações, em ter uma postura cooperativa nas relações internacionais em temas de comércio, desarmamento nuclear, direitos humanos e meio ambiente — disse o interlocutor da Sputnik Brasil.

China e Rússia

Para o entrevistado, o Brasil não tem condições de sustentar uma "política externa alternativa" e unilateral, somente com EUA e Israel como aliados. Além disso, alertou Niemeyer, se o presidente Donald Trump não conseguir se reeleger em novembro, o governo brasileiro vai ficar extremamente isolado e precisará reconstruir toda sua relação com o novo governo americano. Além disso, o entrevistado lembrou que além da China, países como Rússia e diversos países europeus, que cada vez mais criticam o Brasil, também estão desenvolvendo vacinas contra o coronavírus. Nesse contexto, a negociação com esses mercados ficaria muito comprometida. — Essa opção por Estados Unidos e Israel, contrariando toda a nossa tradição de política externa, não é o que nós interessa — concluiu o especialista.
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