Um grupo de pesquisadores, comunicadores populares e sindicais defende que é preciso ir além: repensar toda a estrutura econômica que permite a concentração de riqueza nas mãos das big techs, as grandes empresas de tecnologia que controlam o mercado digital.
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro
Em votação no Congresso Nacional, o Projeto de Lei 2630/2020, conhecido como PL das Fake News, prevê regulação de conteúdos publicados em redes sociais e outras plataformas digitais.
Um grupo de pesquisadores, comunicadores populares e sindicais defende que é preciso ir além: repensar toda a estrutura econômica que permite a concentração de riqueza nas mãos das big techs, as grandes empresas de tecnologia que controlam o mercado digital.
O assunto foi um dos destaques do 4º Festival da Comunicação Sindical e Popular, realizado na segunda-feira na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Os debatedores indicaram a importância de regulação e construção de políticas públicas no âmbito da economia digital. Uma das preocupações é descentralizar o controle e exploração dos dados gerados quando uma pessoa usa os espaços virtuais.
– É uma luta contra a concentração de capital. Os dados são o grande ouro dos tempos atuais, então precisamos ter esse entendimento que enfrentamos grandes monopólios. E eles lucram muito com a nossa atenção e o nosso tempo – disse Viviane Rosa, jornalista e coordenadora do Intervozes.
– Quando pensamos nos dados, tudo é potencialmente transformado em riqueza. Essa concentração brutal de riqueza na mão de poucos conglomerados, de forma mais intensa do que existe em relação à mídia tradicional, precisa ser diminuída. Temos que repensar a construção dos espaços da internet como efetivamente livres e responsáveis, onde haja transparência nas relações entre os diferentes atores. Que não tenhamos que ficar à mercê da construção de uma riqueza do qual não participamos – afirmou Adilson Cabral, jornalista e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Comunicação nas periferias
O festival, promovido pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), também teve uma mesa de debate sobre a produção de conteúdo e informação nas favelas e periferias. Em lugares marginalizados, com atuação insuficiente do poder público e pouca atenção da mídia tradicional, as próprias comunidades criam meios de informar e engajar na luta por condições adequadas de vida.
É o caso do Jornal Maré de Notícias, fundado em 2009 no Complexo de favelas da Maré, no Rio, que conta tanto com uma versão impressa quanto online.
– A gente existe para mobilizar o morador para conseguir melhorar aquele ambiente. Quando a gente digita Maré nas ferramentas de pesquisa da internet, a comunidade aparece como sinônimo de violência. Mas a Maré não é isso. Se você for lá, vai perceber que é uma potência. É uma comunidade que cria, mesmo quando o poder público não atua – avaliou o repórter Hélio Euclides.
A assistente social Ana Maria Leone comanda um programa na Rádio Ativa, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, desde 2019. O trabalho dela como comunicadora é o de discutir políticas públicas e sociais por meio de entrevistas.
Também há espaço para divulgação de iniciativas culturais e artísticas. Ana explica que, antes de ser uma voz ativa na defesa para transformar a comunidade, precisou mudar o próprio jeito como se via. “Eu quase nem falava. E achava que era tímida. Hoje, eu sei que era uma mulher silenciada por vários motivos. E a gente acha que não tem conteúdo, que é inferior em relação a outras pessoas e se cala. Quando, na verdade, a gente tem muito para contribuir com as pessoas”, finalizou Ana.