Colunista do Correio do Brasil na primeira década deste século, PC Guimarães já exercitava sua absoluta parcialidade em favor do Glorioso, com imenso orgulho. Tão apaixonado quanto PC pelo Botafogo, o jornalista Fábio Lau publicou na página dele em uma rede social o texto que a também jornalista e amiga Christina Tavares redigiu em uma homenagem ao amigo que transcendia o virtual.
Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro
Amigos e admiradores do jornalista e escritor Paulo Cézar Guimarães, 70, o PC Guimarães como era conhecido por todos, despediram-se dele nesta sexta-feira em sepultamento no Cemitério de Visconde de Mauá, uma pequena aldeia no alto da serra, lugar que ele amou a vida inteira e escolheu para viver os seus últimos dias. Vítima fatal de um infarto, na noite passada em sua casa, PC deixa mulher, filha e um sem-número de leitores queridos, tristes e consternados.
Botafoguense absolutamente apaixonado, “PC Guimarães era um menino”, escreveu o amigo Gilson Caroni Filho, sociólogo ao lado de quem o jornalista conviveu por décadas na sala dos professores de uma universidade carioca. “Incapaz de ferir alguém, seu humor tinha a ingenuidade da criança que sempre o habitou. ‘Roubaram o Botafogo’. ‘Cadê o Cid Benjamim?’. ‘Somos escolhidos, somos diferentes’. Quem nunca se divertiu lendo seus posts? Amigo, seu Fogão vai ganhar o Brasileiro”, antecipa o mestre.
Colunista do Correio do Brasil na primeira década deste século, PC Guimarães já exercitava sua absoluta parcialidade em favor do Glorioso, com imenso orgulho. Tão apaixonado quanto PC pelo Botafogo, o jornalista Fábio Lau publicou na página dele em uma rede social o texto que a também jornalista e amiga Christina Tavares redigiu em uma homenagem ao amigo que transcendia o virtual.
Mestre
“E foi muito antes de ter ganhado a rifa quando sorteou o caixotinho que PC trouxe na sua última vinda ao Rio!”, frisa Fábio Lau.
“Pc Guimarães , brilhante escritor
Lembrar do mestre Ziraldo nesses tempos de homens violentos e suas armas ameaçadoras é vital. O mestre, no trecho final de ‘O menino maluquinho’, conta: “E aí foi que todo mundo descobriu que ele não tinha sido um menino maluquinho...ele tinha era sido um menino feliz!”.
“Não conheço PC Guimarães pessoalmente, mas mesmo à distância dá para distinguir que ele é da tribo dos meninos maluquinhos. Gente de boa com a vida. Pronto para espalhar alegria, não se levar a sério, mas mesmo assim gerar reflexão sobre o estado de coisas desse mundo torto e arado.
“Minha tentação é imaginar nosso encontro em 1970 no festival Woodstock. PC gosta de cores e o vejo com calças coloridas, cabelos ao vento curtindo “unzinho”. Tal qual a juventude do final dos anos 1960 pedindo “Faça amor, não faça guerra”. Olhar o mundo com lirismo nunca vai sair de moda.
Giverny
“É um intelectual respeitado, jornalista ético, muito amado por milhões de amigos e dezenas de ‘sobrinhos’. A inteligência explode quando consegue rir de si mesmo. Debochado, mas também tem o humor requintado.
“Ele puxa nossas mãos para passeios virtuais com a naturalidade de quem descasca uma laranja da terra enquanto troca um dedo de prosa. Na sua última viagem à Europa, estive junto pelos lugares que andou, fotografou e escreveu.
“Uma viagem maravilhosa junto com Bebeth, grande amor dele.
“PC é amoroso, é artista, é justo! Só faz “maldades” com flamenguistas e golpistas. É, por assim dizer, outro exímio dominar do galope do riso à Ariano Suassuana – a arte de sorrir não “do outro”, mas “com o outro”.
“Não sei se mora em Giverny ou Visconde Mauá. Tem muitas flores. Sempre à sua volta como a emoldurar um jeito de levar a vida. Fotografado por todos os lados e ângulos, nem liga. Tira onda. Também não sei muito da ‘Casa Rosada’. O talento está na pintura da casa e nos exercícios da arterapia. O grande ‘Ique’ tem monumento pintado por PC.
Maluquinhos
“Sandro Moreira está na minha estante, mas não consigo saber que fim levou o “ Armando” e as centenas de entrevistas. PC sabe bem com quem andar.
“Confesso: sei pouco dessa adorável criatura. Até prometi ensiná-lo a fazer um feijão tropeiro bem mineiro. Mas talvez este seja um caso do sei pouco acabar virando ‘já sei muito’. Único conselho que dou ao PC: não se meta na cozinha. Seu pão vira carvão!
“Um cara bacana. Faz diferença na vida. Grande companheiro de pandemia. A sua fala, a sua figura, acompanhou-nos durante os anos sombrios de vírus e virulentos. De abjetos. Não sei direito se é um gnomo. Vai ver é vaga-lume. E isto não é trocadilho com certo cigarro predileto! Talvez seja sabiá porque atrai flores. Talvez seja nuvem cigana. Coisas das tribos dos maluquinhos”, conclui.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.