Paris, neste sábado, deixa de ser uma festa
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Sexta, 07 de Dezembro de 2018 às 17:27, por: CdB
Paris está parando neste sábado, à espera dos prometidos ataques dos coletes amarelos. Paris irá se transformar numa praça de guerra como no sábado passado ou os policiais franceses conseguirão dominar os manifestantes e salvar o presidente Emmanuel Macron enfraquecido?
Por Rui Martins, de Genebra:
As principais lojas parisienses, museus, os principais restaurantes, galerias fechados, portas, vitrinas cobertas com proteções de madeiras ou de metal, Paris espera neste sábado a chegada dos coletes amarelos, protegida por um número maior de policiais e mesmo com carros de assalto especializados no ataque a barragens de fogo.
Durante a noite desta sexta-feira, foram presos os líderes mais agressivos do movimento francês que, de protestos contra impostos nos combustíveis, se transformou numa revolta popular contra o presidente Emmanuel Macron, responsabilizado pelo aumento do custo de vista e perda do poder de compra da população.
Durante a madrugada, serão controlados ônibus, trens e carros, antes da chegada a Paris, a fim de evitar a chegada dos coletes amarelos vindos do interior. Com uma semi-paralização da capital francesa, os policiais esperam poder impedir a ação dos manifestantes mais exaltados que, no sábado passado, atacaram, destruíram e saquearam lojas em diversas regiões de Paris.
Embora tenha havido um divisão entre os coletes amarelos, surgindo uma liderança disposta a negociar com o primeiro-ministro, surgiu uma outra frente violenta composta de estudantes colegiais protestando contra a nova maneira de se obter o diploma do curso colegial e contra o aumento exagerado das anuidades para os estudantes estrangeiros nas universidades francesas.
Durante esta semana, o presidente Emmanuel Macron permaneceu silencioso, mas foi obrigado a ceder pelos manifestantes. Depois de ter tentado negociar com uma moratória, acabou dando o sinal de que todos os impostos a serem incluídos no preço dos combustíveis foram anulados. Mesmo assim, os coletes amarelos não se consideram satisfeitos, embora tenha diminuído o número dos mais excitados que pretendiam manifestar em Paris.
Emmanuel Macron, enfraquecido, vai esperar o fim do sábado para falar aos franceses. Alguns falam em remanejamento ministerial e mesmo na queda do primeiro-ministro, para Macron anunciar ao povo o fim dos impostos nos combustíveis e o atendimento de algumas das reivindicações dos coletes amarelos.
Difícil ainda de se prever como se desenvolverão as manifestações neste sábado. Se, em lugar de Paris, serão deslocadas para outras cidades ou se a estratégia do governo conseguirá diminuir o impacto da revolta popular.
Mesmo que o presidente Emmanuel Macron consiga controlar os manifestantes, sua imagem sairá diminuída e, com apenas um ano e meio no governo, terá de continuar seu mandato diante da insatisfação da maioria, o que lhe impedirá levar adiante as grandes reformas por ele previstas, segundo um ângulo neoliberal e impopular. Dificilmente conseguirá manter a exoneração de impostos para as grandes fortunas, pois essas fortunas, não aproveitaram até agora a exoneração para serem aplicadas em atividades produtivas, pois os resultados que Macron prometera em termos de crescimento e de maior emprego não foram até agora atingidos.
Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI.
Editor do Direto da Redação.