Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Obra no aeroporto de Jacarepaguá corre risco de ter desmatamento suspenso

Ministério Público contesta licença ambiental do Inea para desmatamento na restinga da Lagoa de Jacarepaguá. Entenda os impactos e as alegações.

Quinta, 09 de Outubro de 2025 às 13:09, por: CdB

Ministério Público contesta licença ambiental concedida pelo Inea para intervenções em área de restinga na Lagoa de Jacarepaguá.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

A concessionária PAX Aeroportos, responsável pela administração do Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, enfrenta uma ação judicial que pode paralisar o desmatamento de uma área de 22 hectares de restinga situada às margens da Lagoa de Jacarepaguá. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) questiona a legalidade da licença ambiental concedida pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e afirma que o empreendimento ameaça uma zona de amortecimento do Parque Natural Municipal Bosque da Barra, importante área de preservação ambiental da região.

Obra no aeroporto de Jacarepaguá corre risco de ter desmatamento suspenso | Aeroporto de Jacarepaguá
Aeroporto de Jacarepaguá

Segundo a empresa, a retirada da vegetação é indispensável para o funcionamento do aeroporto. Em nota, a PAX declarou que as obras têm como objetivo “remoção de obstáculos e a adequação da infraestrutura às normas da aviação civil, ações indispensáveis para garantir a segurança operacional de aeronaves e passageiros”. A concessionária informou ainda que recebeu autorização do Inea, realizou inventário florestal das espécies presentes e promete compensar o impacto com a recuperação de cerca de 70 hectares de vegetação.

Licença ambiental sob questionamento

O Ministério Público, por meio do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema), ingressou no fim de setembro com uma ação na 6ª Vara de Fazenda Pública pedindo a suspensão imediata das obras. O órgão argumenta que a autorização concedida pelo Inea apresenta “inconsistências técnicas e legais” e que o projeto carece de justificativas adequadas para o tamanho da área a ser suprimida.

De acordo com o parecer do Grupo de Apoio Técnico Especializado (GATE/MPRJ), entre as 14 intervenções apresentadas pela concessionária, apenas quatro seriam realmente necessárias à operação do aeroporto. O Ministério Público afirma que o pedido inicial previa o desmatamento de 14 hectares, mas a empresa ampliou a área duas vezes sem apresentar novas razões técnicas.

Falhas nos estudos e espécies ameaçadas

O relatório do MPRJ também aponta falhas consideradas graves nos estudos ambientais apresentados. O documento indica que não houve levantamento da fauna local e critica a conclusão de que a região teria baixa diversidade de espécies vegetais, lembrando que duas delas — a caixeta (Tabebuia cassinoides) e o cedro-rosa (Cedrela fissilis) — estão ameaçadas de extinção.

Além disso, o órgão sustenta que o projeto indica uma área genérica de desmatamento, sem detalhar qual parte do terreno corresponde a cada intervenção planejada. Para o Ministério Público, essa falta de precisão compromete a avaliação dos impactos e inviabiliza o controle sobre o cumprimento das medidas compensatórias.

Pedido de suspensão e multa milionária

Na ação judicial, o MPRJ solicita a suspensão imediata da licença ambiental até que sua validade seja analisada pela Justiça. O órgão requer também que o aeroporto se abstenha de iniciar qualquer obra ou ocupar áreas já desmatadas, propondo multa mínima diária de R$ 1 milhão em caso de descumprimento.

O pedido inclui ainda a reparação integral de eventuais danos ambientais, a ser custeada pela concessionária e pelo próprio Inea, caso se comprove omissão no processo de fiscalização.

Inea defende processo de licenciamento

Em resposta, o Inea afirmou que “em todos os processos que envolvem pedidos de supressão de vegetação são devidamente avaliados os aspectos relacionados à fauna existente no local”. O instituto acrescentou que “antes da emissão da autorização, realizou vistoria técnica no local e estabeleceu condicionantes, exigindo medidas compensatórias para a supressão”, além de ter comunicado a Secretaria Municipal de Ambiente e Clima (Smac), sem ter recebido manifestação contrária da pasta.

A decisão da 6ª Vara de Fazenda Pública ainda não foi divulgada. Caso a Justiça acate o pedido do Ministério Público, o desmatamento no entorno da Lagoa de Jacarepaguá ficará suspenso até a conclusão da análise sobre a legalidade da licença emitida pelo Inea.

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