O PIB brasileiro contraiu 1,5% no primeiro trimestre deste ano sobre os três meses anteriores, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A marca aponta para uma profunda depressão, à frente.
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro
Ao contrário do discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a economia brasileira teria alçado voo, interrompido pela pandemia do novo coronavírus, o Produto Interno Bruto (PIB) iniciou este ano na mais forte retração desde 2015, no primeiro trimestre. Os primeiros sinais dos impactos das restrições devido às medidas para conter a disseminação do coronavírus ainda não estavam em curso.
O PIB brasileiro contraiu 1,5% no primeiro trimestre deste ano sobre os três meses anteriores, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A marca aponta para uma profunda depressão, à frente.
Esta é a primeira vez que a economia apresenta queda na base trimestral desde o recuo de 0,1% do quarto trimestre de 2018. O declínio do primeiro trimestre de 2020 é o mais forte desde o segundo trimestre de 2015 (-2,1%).
Suprimentos
O resultado mostra a forte deterioração da atividade depois de um aumento de 0,4% no quarto trimestre de 2019, em dado revisado pelo IBGE de alta de 0,5% informada anteriormente, quebrando sequência de quatro trimestres positivos.
Depois de um ritmo fraco no ano passado, com crescimento de 1,1%, qualquer expectativa positiva que existisse no início de 2020 caiu por terra com o início da pandemia de coronavírus, que deve pesar ainda mais no segundo trimestre. A epidemia, cujos efeitos não foram sentidos totalmente no primeiro trimestre, obrigou o fechamento de empresas e negócios e levou pessoas a ficarem confinadas em casa.
As consequências do vírus também prejudicam as cadeias de suprimento, já que abalam o mundo todo, e tem sido um dos motivos, entre outros, da expressiva alta do dólar ante o real neste ano.
Sinal positivo
Os dados do IBGE mostram que, do lado das despesas, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimento, teve desempenho destacado com alta de 3,1% sobre os três meses anteriores, puxado por importação líquida de máquinas e equipamentos pelo setor de petróleo e gás.
Entretanto, as Despesas das Famílias recuaram 2,0%, maior perda desde a crise de energia elétrica em 2001. Já as Despesas do governo tiveram avanço de apenas 0,2%. Em relação ao setor externo, as Exportações de Bens e Serviços caíram 0,9% no período, enquanto as importações subiram 2,8%.
Do lado da produção, a Agropecuária foi o único setor com sinal positivo, ao expandir 0,6% no primeiro trimestre. Já as atividades de Indústria e Serviços contraíram respectivamente 1,4% e 1,6%.
Contração
A retração da economia no primeiro trimestre teve como principal influências as perdas no setor de serviços, que, segundo o IBGE representa 74% do PIB, em meio às medidas de isolamento social.
— Aconteceu no Brasil o mesmo que ocorreu em outros países afetados pela pandemia, que foi o recuo nos serviços direcionados às famílias devido ao fechamento dos estabelecimentos. Bens duráveis, veículos, vestuário, salões de beleza, academia, alojamento, alimentação sofreram bastante com o isolamento social — explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
O Ministério da Economia já passou a projetar contração do PIB em 2020 de 4,7%, contra expectativa em março de alta de 0,02%. Esse seria o pior resultado da série história que começou em 1900.