O volume de pedidos surpreende e preocupa os prefeitos dos mais de 5 mil municípios brasileiros que, no front da realidade, sentem as cobranças da população na esteira do aumento da pobreza nas suas localidades.
Por Redação, com OESP - de Brasília
A crise econômica que causa a fome e o desemprego levaram 2,78 milhões de famílias a buscar o Auxílio Brasil, programa social do governo Jair Bolsonaro (PL) que não esperava tantos pedidos de ajuda. Até agora, já são 5,3 milhões de pessoas que têm o perfil para receber o benefício e estavam na fila em abril, de acordo com o mais recente mapeamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM).
O volume de pedidos surpreende e preocupa os prefeitos dos mais de 5 mil municípios brasileiros que, no front da realidade, sentem as cobranças da população na esteira do aumento da pobreza nas suas localidades. É nos municípios que as famílias fazem o cadastramento ao programa no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) para ter acesso à rede de proteção social do País.
O mapeamento da CNM, publicado no diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP), neste domingo, começa a ser divulgado 10 dias após a publicação do resultado do ‘Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19’, estudo que mostra a extensão da fome no Brasil de volta a patamares registrados pela última vez nos anos 1990.
'Alimenta Brasil'
Atualmente 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer no país, 14 milhões a mais do que no ano passado. Enquanto as prefeituras alertam para a necessidade de reforçar o programa, especialistas defendem uma grande mobilização para enfrentar o aumento da fome. Eles apontam falhas no desenho dos benefícios do ‘Auxílio Brasil’ e chamam atenção para a necessidade de direcionar recursos ao ‘Alimenta Brasil’, programa de aquisição de alimentos de agricultores familiares e doação para famílias em situação de insegurança alimentar.
Com a falta de exposição de dados pelo Ministério da Cidadania, responsável pela gestão do ‘Auxílio Brasil’, a CNM resolveu seguir com um acompanhamento próprio da situação nos 5.570 municípios.
O sentimento entre os técnicos experientes da pasta é de indignação, segundo o OESP, “com a falta de transparência de informações, que deveriam ser públicas”. Faltando quatro meses para as eleições, os dados detalhados do programa, que garante um benefício mínimo de R$ 400, são tratados como sensíveis nos bastidores do governo pelo seu potencial eleitoral.
Refúgio
O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, atribui a ausência de dados amplos à conjuntura eleitoral.
— Dentro do possível eles vão escondendo, mas nós na ponta podemos levantar e mostrar. E vai piorar ainda mais até a eleição — prevê.
Segundo o dirigente, o quadro preocupa porque a fila, que tinha diminuído no início do ano, já voltou ao patamar anterior. O problema acaba estourando nas prefeituras, reclama o presidente da instituição, que reúne prefeituras de todo o país.
De acordo com Ziulkoski, as escolas municipais acabam se transformando em refúgio para as crianças que chegam com fome e precisam de reforço alimentar antes de começar as aulas.