Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

No país do Mandrião, Ciência é palavrão

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Quarta, 13 de Outubro de 2021 às 06:49, por: CdB

 

E aqui estamos nós, encalacrados com esse governo negacionista e que tem um ódio especial pela Ciência, que agora resolveu simplesmente cortar mais de 90% dos recursos destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Por Wellington Duarte– de Brasília

Numa das suas muitas falas destrambelhadas, o presidente da república (com erre minúsculo) pediu que não o chamassem de “negacionista”, ao mesmo tempo em que defendeu, de novo, o tratamento precoce e uso da cloroquina e a ivermectina. Pouco depois foi ao Santuário Nacional de Aparecida, sendo recebido com aplausos e mugidos, do seu gado fascista, e com vaias, restando saber que tipo de católico defende esse indivíduo.
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E aqui estamos nós, encalacrados com esse governo negacionista
Se Bolsonaro tivesse o mínimo de empatia, ele falaria dos 180 mil órfãos da covid-19, mas isso é pedir demais. Deve-se ressaltar, porém, que muitos católicos, que. estavam inclusive com a imagem da Santa, reverenciavam sem nenhum pudor, o Mensageiro da Morte e, aliás, muitos o saudaram com o tradicional “mito”, uma espécie de “Heil Hitler” tupiniquim. Enquanto o badernista ri efusivamente dos milhões de braZileiros que ingressaram no sombrio mundo da fome e ocorre uma grande trinca na estrutura social devido à desestruturação das relações de trabalho e o retorno do “salve-se quem puder”, a economia caminha como uma tartaruga que tenta chegar ao mar lentamente, mas as ondas não deixam. No segundo trimestre desse ano, 24,8 milhões de pessoas declararam estar “trabalhando por conta própria, ou seja, 28,2% de toda a força de trabalho desse país está no “salve-se quem puder”. As polianas da economia se apressam em colocar o selo de “empreendedor por necessidade”, um eufemismo tosco utilizado para engabelar os tolos que ainda se apegam a tese de que o esfacelamento do Estado brasileiro foi uma ótima opção. Realmente é muito “empolgante” viver um estudante universitário, em fase de formação de pós-graduação e desempregado, vendendo doces como forma de manter-se vivo e operante. Esse segmento de trabalhadores e de futuros trabalhadores, estavam em busca de penetrar no mundo da Ciência e Tecnologia, mola mestra do desenvolvimento de qualquer nação, mas agora, com o governo praticamente extinguindo os recursos dessa área, o que restará? E aqui estamos nós, encalacrados com esse governo negacionista e que tem um ódio especial pela Ciência, que agora resolveu simplesmente cortar mais de 90% dos recursos destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia, comandada pelo astronauta e vendedor de travesseiros, Marcos Pontes. Essa área foi basicamente destroçada e não foi apenas no governo Bolsonaro, pois já em 2018 as chamadas para novos projetos foram suspensas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e agora, com esses novos cortes, já para 2022, poderemos, em breve ter um “apagão científico”, como disse o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine Ribeiro. A palavra “ciência”, no ministério do governo Bolsonaro, é um palavrão horroroso, sendo que muitos dos seus ministros encaram essa palavra como “coisa do demônio” ou “coisa de comunista”, bastando ver como os assuntos dessa área são tratados por essa horda grotesca.

Um governo pode destruir uma nação

Não deixa de ser estarrecedor o quanto um governo pode destruir uma nação e isso passa inexoravelmente pela forma de como nos dispomos a enviar para a Câmara de Deputados e para o Senado da República, políticos completamente desqualificados; sem nenhuma preocupação social, olhando seu mandato como um “empreendedorismo feliz”, que trás vantagens pessoais imensas; de “delegados” das grandes corporações financeiras, dos latifundiários e da elite rastaquera que se espalha pelos vários setores da economia. Bolsonaro é um produto de 2018, o ano em que as fake News se tornaram, em todo mundo, instrumentos políticos para chegar ao poder, por voto ou na porrada, e a Câmara eleita naquele ano, não nos esqueçamos, foi uma tragédia em termos de representação política. O “enxugamento” calamitoso da área da Ciência e Tecnologia, foi ordenada pelo governo, através do falastrão Paulo Guedes, mas foi concretizada por parlamentares que caminham lado a lado com o negacionista. Pensemos nisso.

Wellington Duarte, é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Gande do Norte - UFRN, doutor em Ciência Política e presidente do Sindicato dos Professores da UFRN (ADURN-sindicato).

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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