Apesar de diferenças internas, o Conselho de Ministros de Israel deve se reunir nesta quinta-feira para avaliar o acordo.
Por Redação, com CartaCapital – de Jerusalém
Israel acusou nesta quinta-feira, o movimento islamista palestino Hamas de provocar “uma crise de último minuto” ao desistir de alguns pontos do acordo de trégua em Gaza anunciado na quarta-feira.

“O Hamas não cumpriu partes do acordo alcançado com os mediadores e Israel em uma tentativa de obter concessões de último minuto”, disse o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em um comunicado, acrescentando que a situação criou uma “crise de último minuto”.
“O gabinete de segurança israelense não se reunirá (para aprovar o acordo) até que os mediadores tenham notificado Israel que o Hamas aceitou todos os elementos do acordo”, acrescentou o texto.
Após mais de um ano em ponto morto, as negociações indiretas entre Israel e Hamas aceleraram nos últimos dias antes de o presidente dos EUA, Joe Biden, deixar a Casa Branca para ser substituído pelo republicano Donald Trump na segunda-feira.
Na noite de quarta-feira, os países mediadores anunciaram um acordo em três fases que prevê uma trégua a partir do domingo, uma primeira troca de 33 reféns israelenses por presos palestinos e um aumento da ajuda humanitária.
O Conselho de Ministros de Israel tem que se reunir durante esta quinta-feira para avaliar o acordo e aprová-lo, apesar das diferenças internas.
Os detalhes do anúncio de acordo por cessar-fogo em Gaza
Qatar e Estados Unidos anunciaram na quarta-feira um acordo de trégua entre Israel e Hamas em Gaza, que inclui a libertação de reféns nas mãos do movimento islamista palestino, após mais de 15 meses de uma guerra que deixou dezenas de milhares de mortos.
Após o anúncio do acordo, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, destacou que ainda restavam questões a serem resolvidas, mas que esperava fechar os pontos pendentes nesta noite.
O primeiro-ministro de Catar, Mohammed bin Abdulrahman al Thani, afirmou em uma coletiva de imprensa que o acordo entrará em vigor no domingo.
Ele disse esperar que a trégua se tornasse “permanente” e deu detalhes sobre a primeira fase do pacto, que durará 42 dias.
– O Hamas libertará 33 prisioneiros israelenses, incluindo mulheres civis, crianças, pessoas idosas, civis doentes e feridos, em troca de vários prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses – explicou. “Os detalhes sobre as fases dois e três serão definidos durante a implementação da primeira fase.”
Em Tel Aviv, manifestantes que pediam a libertação de reféns se abraçaram assim que souberam da notícia. Na Faixa de Gaza, milhares de palestinos celebraram o pacto, que deve pôr fim aos bombardeios que devastaram quase todo o território.
– Não posso acreditar que este pesadelo de mais de um ano esteja chegando ao fim. Perdemos tantas pessoas, perdemos tudo – disse Randa Sameeh, uma mulher de 45 anos, deslocada da Cidade de Gaza para o campo de refugiados de Nuseirat, no centro da faixa.
O Hamas, que governa o território sitiado, afirmou que o acordo foi fruto da “tenacidade” do povo palestino e da “corajosa resistência” do movimento islamista.
“Não esqueceremos e não perdoaremos” o sofrimento da população durante a guerra, sublinhou o principal negociador do grupo palestino, Jalil al Hayya. Quase todos os 2,4 milhões de habitantes foram deslocados pelo conflito e o cerco israelense provocou uma grave crise humanitária na faixa.
A pressão aumentou nos últimos dias para pôr fim aos combates, e Egito, Estados Unidos e Qatar, os três mediadores, intensificaram os esforços para alcançar um acordo. O anúncio ocorre a menos de uma semana da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.
Trump comemora acordo “épico”
O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que estava “empolgado” e que o acordo “irá deter os combates em Gaza, proporcionará a tão necessária ajuda humanitária aos civis palestinos e reunirá os reféns com suas famílias”.
A guerra eclodiu em 7 de outubro de 2023, após o ataque de Hamas no sul de Israel, no qual os comandos islamistas mataram 1.210 pessoas, na sua maioria civis, e sequestraram outras 251, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais.
Dos sequestrados, 97 ainda estão cativos em Gaza, mas o exército israelense estima que 34 deles morreram.
Após o ataque, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre na Faixa de Gaza que matou pelo menos 46.707 pessoas, principalmente civis, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, que a ONU considera confiáveis.
Desde o início da guerra, apenas uma trégua de uma semana havia sido alcançada, no final de novembro de 2023. E as negociações indiretas estavam em ponto morto desde então.
Trump advertiu nos últimos dias que a região viraria um “inferno” se os reféns não fossem liberados antes de sua chegada ao poder.
“Este acordo de cessar-fogo ÉPICO só poderia ter acontecido como resultado de nossa histórica vitória em novembro”, escreveu o republicano em sua rede Truth Social.
Enviados tanto de sua futura administração quanto do govero Biden estiveram presentes nas últimas negociações.
– Continuaremos trabalhando de forma estreita com Israel e com nossos aliados para garantir que Gaza NUNCA se torne um santuário terrorista – acrescentou o presidente eleito.
Ajuda humanitária
O presidente egípcio, Abdel Fatah al Sissi, aplaudiu o acordo e destacou a “importância de acelerar a entrada de ajuda humanitária de emergência para a população de Gaza”.
Pouco após o anúncio, começaram as negociações para reabrir o posto de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito, informou o meio egípcio Al-Qahera News, próximo aos serviços de inteligência, que citou uma fonte de segurança.
O posto fronteiriço, por onde passa parte da ajuda humanitária, está fechado desde maio, quando o Exército israelense se apoderou da área e fechou o lado palestino do posto.
– É imperativo que este cessar-fogo elimine os importantes obstáculos políticos e de segurança que dificultam a entrega de ajuda em Gaza – declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Tanto a permanência do cessar-fogo quanto a retirada das tropas israelenses e a quantidade de ajuda humanitária que deve entrar em Gaza representaram obstáculos nas negociações.
Israel, que prometeu destruir o Hamas após o ataque de 7 de outubro, rejeita uma retirada total do território e se opõe a que seja administrado pelo Hamas ou pela Autoridade Palestina.
Os palestinos, por sua vez, afirmam que o futuro de Gaza lhes pertence e que não tolerarão qualquer ingerência estrangeira.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, propôs na terça-feira enviar uma força internacional de segurança para Gaza e colocar o território sob responsabilidade da ONU.