Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 2025

Nem tudo o que é digital vale ouro

Luciano Siqueira questiona a ideia de que a comunicação digital substitui o diálogo profundo e a interação humana, defendendo a importância do encontro presencial.

Sexta, 19 de Dezembro de 2025 às 11:50, por: CdB

Entre o imediatismo das telas e a troca olho no olho, questiona-se a ideia de que o digital substitui o diálogo profundo, a leitura e o encontro humano.

Por Luciano Siqueira – de Brasília

É de Nelson Rodrigues a assertiva de que “toda unanimidade é burra”. Jornalista, cronista, dramaturgo e escritor, ele tinha autoridade para proclamar a sentença. Cá com meus modestíssimos botões, nela me inspiro para afirmar que nem toda generalização é errada.

Nem tudo o que é digital vale ouro | Evidente que a comunicação digital se alastrou
Evidente que a comunicação digital se alastrou

Mas muitas são — quando tentam simplificar em demasia fenômenos em curso.

“Ninguém se dispõe mais a ler artigos, reportagem ou livros” — errado!

“Amigos, colegas de trabalho ou de escola ou moradores do meu bairro já não topam participar de reunião, comunicam-se exclusivamente pelo celular” — igualmente errado!

Evidente que a comunicação digital se alastrou e envolve a grande maioria dos viventes mediante muitos atrativos e absurda simplificação da compreensão da realidade. E de estímulo aos sentimentos mais primários do ser humano.

Dizem os especialistas no assunto que um vídeo de 20 segundos, se razoavelmente concebido, vale mais do que centenas de conversas presenciais e de que milhares de palavras escritas.

Será? Tenho para mim que não. Pelo menos me parece equivocada tão drástica conclusão.

As gerações

Conheço gente de todas as gerações, desde os ainda quase analógicos aos viciados em smartphone e memes, que diante de determinados fatos ou fenômenos que nos acometem no cotidiano, desejam o debate, a leitura de opiniões fundamentadas, a reunião presencial.

Acontece comigo com frequência. Gente que quer discutir e aprofundar a compreensão de determinado assunto, logo sugere um encontro em torno de um cafezinho ou um chopp, que ninguém é de ferro.

E o bate-papo se estende às vezes para além da conta. Aqui e alhures, como garante o amigo Epaminondas citando o tailandês Sulak Sivaraksa, o paraibano Zé Limeira e o italiano Umberto Eco.

Ou seja, nem tudo o que é digital é ouro. O milenar hábito da conversa olhos nos olhos resiste e se afirma indispensável, levando em sua esteira o afeto e a convergência de ideias e propósitos.

 

Luciano Siqueira, é médico membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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