Domingo, 10 de Fevereiro de 2019 às 13:47, por: CdB
Presidente norte-americano e ícone do regime bolsonarista, Donald Trump também pagou a mesma promessa ao seu eleitorado evangélico.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
O discurso independente e a desenvoltura do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) complicaram a relação do Palácio do Planalto com o setor evangélico, elemento-chave para a sustentação do bolsonarismo. Nos últimos dias, líderes de igrejas expuseram a insatisfação com o vice, principalmente após ele se dizer contrário à transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, o que seria parte de uma profecia para o fim dos tempos.
Presidente norte-americano e ícone do regime bolsonarista, Donald Trump também pagou a mesma promessa ao seu eleitorado evangélico. No centro da teologia protestante está uma crença ligada aos dias finais da humanidade, segundo a leitura mais literal do texto bíblico. Não que Trump, presbiteriano; ou Bolsonaro, católico, compartilhem destas ideias, mas o financiamento e apoio desse segmento foi vital na campanha de ambos.
Para várias denominações evangélicas norte-americanas, idem no Brasil em outros lugares do mundo, o Estado judeu deve se estabelecer, plenamente, em Jerusalém para que Jesus Cristo possa voltar à Terra. A ideia da volta dos judeus, o povo eleito de Deus segundo o Velho Testamento, é central na crença de que o Messias retornará para protagonizar episódios narrados no livro do Apocalipse.
Bandeiras
Mourão, portanto, atrapalha tais planos. Assim, tornou-se alvo preferencial da bancada evangélica, que passa a pressionar Bolsonaro para que este o desautorize publicamente, mesmo enquanto permanece internado em São Paulo.
Enquanto exerceu, interinamente, a Presidência da República, Mourão recebeu o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben. No encontro, o presidente em exercício disse que a decisão quanto à mudança de endereço da embaixada ainda não é um fato concreto. A bancada evangélica conta com 108 deputados e 10 senadores na atual Legislatura, com uma atuação historicamente coesa em defesa de suas bandeiras.
— Vamos cobrar (do Bolsonaro) o cumprimento daquilo que foi tratado. Se o Mourão está a serviço de algum grupo de interesse contrário a que isso aconteça, tenho convicção que ele perdeu essa queda de braço. Mourão é um poeta calado. Sempre que abre a boca cria um problema para o governo — disse a jornalistas o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), principal porta-voz da Frente.
Católicos
O mesmo motivo que enfurece os evangélicos contra Mourão também serve ao Palácio do Planalto na tentativa de conter o avanço da Igreja Católica, cada vez mais engajada na oposição ao governo Jair Bolsonaro. Além de adversária natural dos planos pentecostais, a Igreja seria uma tradicional aliada do PT e está se organizando para liderar debates em conjunto com a esquerda.
O alerta ao governo veio de informes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), chefiada pelo general Heleno, e dos comandos militares. Os relatos são de encontros recentes de cardeais brasileiros com o papa Francisco para discutir o Sínodo sobre Amazônia, que reunirá em Roma, no mês de outubro, bispos de todos os continentes.
Durante 23 dias, o Vaticano debatera1 a situação da Amazônia e levantará pautas considerados pelo governo brasileiro como uma “agenda da esquerda”. O debate irá abordar a situação de povos indígenas, mudanças climáticas provocadas por desmatamento e quilombolas.
— Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí — disse a interlocutores o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que comanda a contraofensiva, segundo o diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo.
‘Vaticano comuna’
Ainda segundo o jornal “militares do GSI avaliaram que os setores da Igreja aliados a movimentos sociais e partidos de esquerda, integrantes do chamado 'clero progressista', pretenderiam aproveitar o Sínodo para criticar o governo Bolsonaro e obter impacto internacional.
— Achamos que isso é interferência em assunto interno do Brasil — disse Heleno.
O temor do general, no entanto, foi ironizado em uma mensagem do ex-presidenciável petista Fernando Haddad.
“Vaticano comuna: Bolsonaro vê Igreja Católica como opositora, por discutir temas considerados de esquerda, como situação de povos indígenas e quilombolas, e mudanças climáticas”, concluiu.