Rio de Janeiro, 04 de Maio de 2025

Moraes usa reciprocidade para negar extradição de espanhol

Decisão do ministro Alexandre de Moraes suspende extradição de Vasil Georgiev Vasilev, exigindo esclarecimentos do governo espanhol sobre reciprocidade em pedidos de extradição.

Quarta, 16 de Abril de 2025 às 20:51, por: CdB

Em sua decisão, conforme apurou o jornalista José Reinaldo em artigo publicado nesta quarta-feira, o ministro determina que o governo espanhol, por meio de sua representação diplomática no Brasil, preste esclarecimentos no prazo de cinco dias.

Por Redação, com José Reinaldo – de Brasília

Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes suspendeu, nesta terça-feira, a extradição do cidadão búlgaro Vasil Georgiev Vasilev, preso no Brasil a pedido do governo da Espanha. A medida é uma resposta direta à decisão das autoridades espanholas de rejeitar a extradição do blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, sob o argumento de que o pedido brasileiro teria “motivação política”.

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Em sua decisão, conforme apurou o jornalista José Reinaldo em artigo publicado nesta quarta-feira, o ministro determina que o governo espanhol, por meio de sua representação diplomática no Brasil, preste esclarecimentos no prazo de cinco dias e comprove a existência de reciprocidade em matéria de extradição.

“Em matéria extradicional, é pacífico o entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido da exigibilidade da reciprocidade pelo país requerente, sendo que, a ausência deste requisito obsta o próprio seguimento do pedido”, escreveu Moraes.

 

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Tráfico

O ministro, ainda, comunicou sua decisão aos Ministérios da Justiça e das Relações Exteriores e também intimou o embaixador da Espanha para prestar informações formais. Na mesma decisão, concedeu prisão domiciliar a Vasilev, que é acusado na Espanha por tráfico de drogas e estava detido no Mato Grosso do Sul desde 18 de fevereiro.

A recusa espanhola em extraditar Eustáquio, acusado de disseminar notícias mentirosas e aliado do ex-mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL), gerou forte reação por parte do ministro, que considera a medida uma violação ao princípio da reciprocidade, previsto tanto na Lei de Migração quanto no Tratado de Extradição firmado entre Brasil e Espanha em 1990. Segundo o tratado, os dois países se comprometem a entregar indivíduos processados ou condenados por crimes reconhecidos por ambas as jurisdições.

“Na decisão da Justiça espanhola, divulgada na segunda-feira, o Tribunal entendeu que não havia base legal para extraditar Eustáquio, uma vez que os atos que lhe são atribuídos no Brasil — entre eles, participação em manifestações antidemocráticas e incitação à tentativa de golpe — estariam protegidos pela liberdade de expressão no ordenamento jurídico espanhol”, apurou Reinaldo.

 

Investigações

O pedido de extradição contra Eustáquio foi formalizado por Moraes em setembro do ano passado, logo após o ministro determinar sua inclusão na difusão vermelha da Interpol. O influenciador bolsonarista está na Espanha desde 2023, onde vive enquanto responde às investigações no Brasil por incentivar atos contra a democracia e por supostamente perseguir agentes públicos envolvidos em inquéritos sobre a tentativa de golpe.

Eustáquio utilizou perfis próprios e de terceiros nas redes sociais — inclusive ligados aos filhos — para difundir mensagens que pregavam o fechamento do Congresso e do STF, segundo o pedido de extradição, bem como para intimidar autoridades policiais e judiciais. As acusações se enquadram nos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito e golpe de Estado, conforme tipificado na legislação brasileira.

Esta, no entanto, é a segunda negativa do Judiciário espanhol em relação à mesma matéria. Em março, outro pedido havia sido rejeitado com base no entendimento de que os fatos atribuídos a Eustáquio não configurariam crime na Espanha.

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