A ideia do livro surgiu em 2019, quando Mariana Salomão leu uma reportagem sobre epidemias de suicídio no Rio Grande Sul.
Por Redação, com ABr – de São Paulo
A questão da saúde mental é extremamente grave no Rio Grande do Sul. Historicamente, o Estado registra altos índices de depressão e suicídio, segundo boletim da Secretaria de Saúde do Estado publicado em 2023. O fato inspirou Mariana Salomão Carrara a escrever A Árvore Mais Sozinha do Mundo que, nesta semana. ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura 2025.

A conquista na categoria de Melhor Romance do Ano surpreendeu a escritora, que ganha o prêmio pela segunda vez.
– Confesso que fui imaginando que ‘pô, dessa vez não vai dar. Eu tinha acabado de ganhar – afirmou Mariana, que também venceu a edição referente a 2023 com a obra “Não Fossem as Sílabas do Sábado”.
No trabalho premiado agora, a escritora mostra uma família de baixa renda que trabalha na plantação de tabaco, que é um dos setores que mais movimenta a economia no Sul. Os personagens passam por dificuldades, enfrentando dívidas e intoxicação pelo uso de agrotóxicos.
Uma enorme árvore, uma caminhonete, um espelho colonial e uma roupa de segurança atuam como câmeras na vida desta família. Os objetos proporcionam uma visão íntima e cotidiana.
A escritora explica que escolheu usar esses objetos como foco da narrativa para criar incerteza sobre o que está sendo narrado e alienar a família do contexto em que estão.
– Escolhi para não dar voz e consciência a essa família sobre o que está acontecendo. Uma ideia de que os objetos vão percebendo aos poucos e a família não necessariamente. Também foi por uma necessidade literária para criar uma história que ninguém tem certeza do que faz – disse Mariana.
Processo de criação
A ideia do livro surgiu em 2019, quando Mariana Salomão leu uma reportagem sobre epidemias de suicídio no Rio Grande Sul. A escritora descobriu que a epidemia estava associada aos agrotóxicos do tabaco, que causam depressões graves.
Um outro fator é o endividamento das famílias, em que muitas entram no “efeito bola de neve negativo”, ou seja, dívidas com juros compostos, que podem aumentar exponencialmente ao longo do tempo.
– Isso me chamou muito a atenção como ser humano, mas logo me pareceu um ótimo material literário. Eu estava com muita vontade de mergulhar em um ofício, então veio a calhar – explicou.
Contudo, o projeto foi engavetado durante a pandemia de covid-19. Para Mariana, continuar a escrever era desafiador por considerar “um exercício de imaginação e fuga da própria vida”, algo que para a escritora não era possível ser feito durante o afastamento social.
Após terminar o romance Não Fossem as Sílabas do Sábado, em 2022, a escritora retornou ao projeto do livro. O conceito de obra fugia do conhecimento de Mariana, que sempre viveu nas grandes metrópoles. A autora contou que, pela primeira vez, fez uma grande pesquisa para escrever um livro.
– Foi um mergulho muito grande numa realidade distante da minha. Meus outros livros costumam envolver uma pesquisa mais íntima e sentimental. Dessa vez, eu tive que pesquisar mestrados, ler reportagens, entrevistar pessoas e, até mesmo, assistir a vídeos de adolescentes que eles mesmos gravam e postam no Tik Tok. Foi uma pesquisa muito ampla de vários anos – apontou Mariana.
Prêmio São Paulo de Literatura
O Prêmio São Paulo de Literatura é um projeto da Secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativa, do Governo do Estado de São Paulo. Além da Mariana Salomão, o escritor Marcílio França Castro também teve uma vitória, na categoria de Melhor Romance de Estreia do Ano de 2024, com o ensaio O Último dos Copistas.
Os dois receberão um prêmio de R$ 200 mil cada e receberão um convite para participar da programação da 40ª Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, em 2026.