O papel do representante brasileiro, segundo Lula, ”não é escolher presidente dos Estados Unidos”.
Por Redação – de Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira, aos correspondentes estrangeiros que o entrevistaram no Palácio da Alvorada, que a decisão do presidente dos EUA, Joe Biden, de desistir da candidatura à reeleição foi pessoal porque somente ele sabia das suas reais condições. Lula garantiu, no entanto, que as relações entre Brasil e Estados Unidos continuarão a ser “civilizadas” independentemente do vencedor da disputa presidencial.
— À medida que o presidente Biden resolveu tomar posição, o meu papel é torcer para que eles escolham um candidato ou uma candidata que disputa as eleições e que vença aquele que for o melhor, aquele que o povo norte-americano for votar — afirmou Lula.
Conservador
O papel do representante brasileiro, segundo Lula, ”não é escolher presidente dos Estados Unidos”.
— Meu papel é conviver com quem é o presidente dos Estados Unidos. Então seja um candidato democrata, seja o Biden, seja o Trump, a nossa relação vai ser uma relação civilizada de dois países importantes que têm uma relação diplomática de séculos e que a gente quer manter. E que temos parcerias estratégicas importantes com os Estados Unidos, nós queremos manter — acrescentou.
A decisão de Biden de desistir da candidatura à Casa Branca também rendeu elogios entre alguns ministros do governo.
– Política não é personalismo, mas, sim, serviço a favor das ideias e valores. Biden dá demonstração enorme de grandeza política ao compreender que os democratas precisam de um fato novo para enfrentar o conservadorismo extremista que ameaça o mundo – pontuou a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.
Trumpismo
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, também se manifestou, escrevendo na rede X que a desistência de Biden é uma “grande decisão para derrotar a extrema direita norte-americana”. Já o ministro José Renan Filho, à frente da pasta dos Transportes, afirmou no Instagram que a desistência de Joe Biden é “um gesto de grandeza”. Segundo ele, Biden demonstrou “desprendimento em momento crítico”.
Para a deputada comunista Jandira Feghali (PC do B-RJ), no entanto, mais do que vencer as eleições norte-americanas, as forças de esquerda precisam derrotar o movimento trumpista. Em mensagem na rede X (ex-Twitter) sobre a decisão do presidente Biden, Feghali destacou a importância de unir as forças democráticas globais para derrotar Donald Trump, a quem ela descreve como uma representação do ódio e do fascismo, comparando-o ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
“Joe Biden desistiu da campanha à reeleição nos Estados Unidos. É hora de unir as forças democráticas no mundo para derrotar Donald Trump, que é a representação do ódio e do fascismo, assim como Bolsonaro no Brasil. Estamos na torcida pela escolha e eleição de uma mulher negra (Kamala Harris) para o comando da Casa Branca”, escreveu Feghali em sua publicação.
Mesma coisa
Mas, nos EUA, para o representante do comunismo norte-americano, o cenário de mudança na campanha democrata para a Presidência dos Estados Unidos após a desistência de Biden, na noite passada, e o favoritismo de Kamala Harris, é visto com ceticismo por partidos de esquerda no país.
Em entrevista ao site de notícias Brasil de Fato, Danny Shaw, do Partido Comunista norte-americano, aponta que a candidatura de Harris representa a continuidade do governo Biden, principalmente em relação à política externa, que considera um “modelo falido do unilateralismo”.
— Não tem grande diferença, é a mesma ideologia, o mesmo genocídio em Gaza, a mesma guerra por procuração contra os interesses russos, a mesma pressão contra a China. É o modelo falido do unilateralismo. Eles querem hegemonia onde quer que seja, eles tem medo do mundo multipolar — concluiu.