Lula também usou um tom crítico sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e citou “a mentalidade obsoleta da Guerra Fria e da competição geopolítica”.
Por Redação, com ABr - de Joanesburgo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em discurso na manhã desta quarta-feira durante a reunião de cúpula do grupo de países que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS, na sigla em inglês), retomou a defesa de uma saída para a ditadura do dólar nas operações internacionais de comércio. Lula propõe que os países membros do bloco operem suas transações em uma moeda comum, como alternativa à moeda norte-americana.
— Tenho certeza de que sob a liderança da minha companheira Dilma Rousseff, o banco [Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do BRICS, estará à altura desses desafios. A criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimentos entre os membros do BRICS aumenta nossas opções e reduz nossas vulnerabilidades — afirmou o presidente brasileiro.
Lula também usou um tom crítico sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e citou “a mentalidade obsoleta da Guerra Fria e da competição geopolítica”.
— Representamos (atualmente) 41% da população e somos responsáveis por 31% do PIB global, em paridade com o poder de compra. Mas enfrentamos um cenário mais complexo do que quando nos reunimos pela primeira vez. Em poucos anos retrocedemos de uma conjuntura de multipolaridade benigna para uma que retoma a mentalidade obsoleta da Guerra Fria e da competição geopolítica. Essa é uma insensatez que gera grandes incertezas e corrói o multilateralismo. Sabemos bem onde esse caminho pode nos levar. O mundo precisa compreender que os riscos envolvidos são inaceitáveis para a humanidade — afirmou.
Soberania
A guerra da Ucrânia, segundo Lula, “evidencia limitações no Conselho de Segurança (das Nações Unidas)”.
— Muitos outros conflitos e crises estão por vir. O BRICS se consolidou como um fórum para a discussão dos principais temas que afetam a paz e a segurança mundiais. Não podemos nos furtar a tratar o principal conflito da atualidade, que ocorre na Ucrânia, e tem efeitos globais. O Brasil tem uma posição histórica de defesa da soberania e da integridade territorial e de todos os propósitos e princípios das Nações Unidas — disse ainda.
O líder mundial também considera “positivo que o número crescente de países, entre eles os países do BRICS, também estejam engajados e em contato direto com Moscou e Kiev”.
— Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, tampouco podemos ficar indiferentes às mortes e à destruição que aumentam a cada dia. O Brasil não contempla fórmulas unilaterais para a paz. Estamos prontos para nos juntar a um esforço que possa efetivamente contribuir para um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura — acrescentou.
Fome no mundo
Na sequência, o presidente citou outros conflitos, alguns deles patrocinados pelos Estados Unidos.
— Muitos outros conflitos e crises não recebem a atenção devida, mesmo causando vasto sofrimento para suas populações. Haitianos, sírios, líbios, sudaneses e palestinos, todos merecem viver em paz. É inaceitável que os gastos militares globais em um único ano ultrapassem US$ 2 trilhões, enquanto a FAO nos diz que 735 milhões de pessoas passam fome todos os dias no mundo — concluiu.