Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Lima Barreto beberrão

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Terça, 06 de Fevereiro de 2024 às 10:18, por: CdB

Nos inimigos, são maximizados os defeitos. Nos amigos, tudo é graça, elegância e beleza. Marx dizia: “os proletários se embriagam, os burgueses vão ao club”. As razões da difamação de Lima Barreto moram além da garrafa. Mora na filosofia. Ele foi o pioneiro da propaganda do marxismo no Brasil.


Por Urariano Mota – de São Paulo


Nas boas falas de professores e pesquisadores sobre o escritor, foi mencionado que Lima Barreto ganhou a fama, má fama, de beberrão. (No Recife, diríamos bebarrão). Com essa desculpa infâmia, ele foi barrado três vezes na Academia Brasileira de Letras, porque seria um homem de maus costumes.




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Lima Barreto começou a ter problema com a bebida a partir dos 35 anos de idade

Em determinado ponto do documentário, um professor observou muito bem que Lima Barreto começou a ter problema com a bebida a partir dos 35 anos de idade. Mas antes, ele havia publicado, pelo menos, uma obra máxima da literatura brasileira, “Triste fim de Policarpo Quaresma”. E estivera em plena atividade de luta e talento nos jornais. Então, por que ser afastado por um vício posterior?


Mas o ponto que desejo destacar aqui é o seguinte: em nenhum momento foi dito que o vício do álcool atingiu alguns dos maiores nomes da literatura no mundo. E neles, o álcool era um charme, uma bela característica da sua literatura. Sem pesquisa, lembro Hemingway, que bebia a partir do momento em que deixava a sua escrita a partir das 11 da manhã, todos os dias. Lembro de James Joyce, de Faulkner, que numa visita a São Paulo, depois de uma bebedeira abriu a janela do hotel e gritou: “O que foi que eu vim fazer em Chicago?!”


No Brasil, como esquecer o genial poeta e compositor Vinícius de Moraes? E o magnífico escritor e compositor Chico Buarque? Jamais sobre eles foi dito que eram beberrões, indignos do convívio humano. Pelo contrário, são dignos da civilização brasileira até hoje. E com absoluta razão, por obra, mérito e justiça.



Razões da difamação de Lima Barreto


As razões da difamação de Lima Barreto moram além da garrafa. Mora na filosofia. Ele foi o pioneiro da propaganda do marxismo no Brasil. Ele acompanhou a Revolução Russa com entusiasmo. Ele foi, é escritor de combate, que transformou o preconceito racial em sátira e literatura contra os poderosos. Ele foi o primeiro escritor feminista do Brasil. Essa era a sua maior cachaça. Daí que ganhou a fama de bêbado, beberrão, bebarrão, sujeito desclassificado, um negro que não reconhecia o seu lugar. Assim o honravam na sociedade de classes do Rio de Janeiro, a capital federal, metida a branca e europeia. Mas a sua literatura falou e não falhou ao apontar o ridículo da burguesia e a tragédia dos desclassificados do Brasil.


Nos inimigos, são maximizados os defeitos. Nos amigos, tudo é graça, elegância e beleza. Marx dizia: “os proletários se embriagam, os burgueses vão ao club”.


Lembram-se de Lula, o cachaceiro?


 

Urariano Mota, é Jornalista do Recife. Autor dos romances Soledad no Recife, O filho renegado de Deus e A mais longa duração da juventude.


As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil





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