Segre liderou temporariamente as sessões de eleição de presidente da Casa por ser a mais velha representante no Senado. A função inicialmente seria do senador Giorgio Napolitano, mas ele não pode realizar a sessão solene por problemas de saúde.
Por Redação, com ANSA - de Roma
A senadora Liliana Segre, sobrevivente do campo de extermínio nazista de Auschwitz, presidiu nesta quinta-feira a primeira sessão parlamentar da 29ª legislatura da Itália e, em seu discurso inicial, fez uma forte defesa da Constituição e lembrou dos horrores do Holocausto.
Segre liderou temporariamente as sessões de eleição de presidente da Casa por ser a mais velha representante no Senado. A função inicialmente seria do senador Giorgio Napolitano, mas ele não pode realizar a sessão solene por problemas de saúde.
– Hoje estou particularmente emocionada perante esse papel que realizarei durante esse dia e que a sorte me reservou. Nesse mês de outubro, no qual ocorre o centenário da Marcha sobre Roma, que deu início à ditadura fascista, cabe a uma pessoa como eu assumir momentaneamente a presidência desse templo da democracia que é Senado da República – disse ao abrir o discurso.
– E o valor simbólico dessa circunstância casual se amplifica na minha mente porque, vejam, nos meus tempos, as aulas começavam em outubro. E é impossível não ter uma espécie de vertigem lembrando que essa mesma menina, que em um dia de 1938, desconsolada e perdida, foi obrigada por leis racistas a deixar vazio seu banco na escola, agora ocupa por um estranho destino uma posição no banco mais prestigioso do Senado – acrescentou.
Nesse momento, todos os senadores presentes na sessão a aplaudiram de pé pela fala.
Segre destacou a importância da Constituição italiana e disse que, apesar de toda Carta Magna poder receber emendas para melhorar, o documento "deixa o país mais justo e ainda mais feliz".
– O meu pensamento vai ao Artigo 3, no qual os pais e as mães constituintes não se contentaram só em banir as discriminações baseadas no 'sexo, raça, língua, religião, opinião política, condições pessoais e sociais', base do antigo regime. Eles quiseram deixar uma missão perpétua para a 'República': 'remover os obstáculos de ordem econômico-social e que definem de fato a liberdade e a igualdade dos cidadãos. Isso não é poesia, nem utopia. É a estrela polar que deve guiar a todos, mesmo se temos programas diferentes – acrescentou.
Linguagem do ódio
A senadora também pediu para que seus colegas atuem e "assumam uma responsabilidade comum" que é a "luta contra a difusão da linguagem do ódio, contra a barbárie no debate político, contra a violência dos preconceitos e das discriminações".
A própria Segre é um alvo constante de ataques desses discursos nas redes sociais e faz parte de uma comissão do Senado que analisa e atua contra esse tipo de ação.