A alta no custo da energia elétrica e do gás de botijão foi o principal fator que fez a inflação pesar mais no bolso dos mais pobres. Além disso, a escalada do preço dos alimentos também tem impacto proporcionalmente maior para os estratos de menor renda.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
O aumento da inflação tem tido impacto ainda maior sobre as famílias mais pobres. Para famílias com renda mensal superior a R$ 16.500, o Indicador de Inflação por Faixa de Renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) registrou aumento de preços de 7,11% nos últimos 12 meses. Contudo, para aqueles que ganham abaixo de R$ 1.650 por mês, esse índice ficou em 10,05%, diferença de quase 30%.
A alta no custo da energia elétrica e do gás de botijão foi o principal fator que fez a inflação pesar mais no bolso dos mais pobres. Além disso, a escalada do preço dos alimentos também tem impacto proporcionalmente maior para os estratos de menor renda.
De acordo com o diretor técnico do Diesse, Fausto Augusto Junior, historicamente os mais pobres são os mais afetados pela inflação. Isso porque enquanto os preços avançam dia a dia, mês a mês, os salários são corrigidos anualmente. Além disso, a maioria das categorias de trabalhadores formais nem sequer tem conseguido recompor as perdas no poder de compra. A situação dos trabalhadores informais é ainda mais crítica.
— Os estratos mais altos, bem ou mal, conseguem substituir produtos, adiar compras. Um dos fatores que mais pesou, por exemplo, foram as passagens aéreas. Para os estratos mais pobres, o peso da alimentação, do transporte e alguns outros produtos são inegociáveis — disse o executivo à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), nesta segunda-feira. Ele citou, por exemplo, o drama das famílias que estão usando lenha para cozinhar, devido à alta no preço do gás de cozinha, reajustado 14 vezes nos últimos três anos.
Juros altos
Fausto Augusto destacou, ainda, que a inflação tem registrado forte aumento nos preços administrados pelo Estado, como gasolina, gás e energia elétrica. Diante disse, o governo poderia alterar o rumo dessas políticas, buscando aliviar o sofrimento dos trabalhadores pobres. E são aumentos que impactam em toda a cadeia produtiva. No entanto, em vez disso, a opção adotada é a receita “clássica” para combater a inflação, com sucessivos aumentos da taxa básica de juros, a Selic.
Contudo, ao agir para o “resfriamento” da economia, elevando os juros, a principal consequência deve ser o aumento do desemprego, que já está em níveis recordes. O que deve reforçar ainda mais a perda de poder aquisitivo da população e o encolhimento do mercado de consumo, aprofundando a crise econômica.
— O mercado está encolhendo. Estamos caminhando para um modelo que está privilegiando os mais ricos, menos de um terço da população, enquanto mais de 70% vão ficando à deriva. À deriva porque não têm política de emprego de um lado, e não tem nenhuma política para conter a elevação dos preços, de outro. A lei de mercado, que tanto se defende, só beneficia os mais ricos. Os mais pobres vão ficando cada vez mais pobres — resumiu.