Domingo, 10 de Fevereiro de 2019 às 15:22, por: CdB
Em meio à hiperinflação e com a economia combalida por um forte cerco econômico promovido pelo governo norte-americano, a ajuda humanitária se tornou um dos pontos críticos em uma cada vez mais grave crise política.
Por Redação, com Reuters - de Caracas, Manaus e Washington
Na Venezuela, os Pemon, povo indígena que vive na fronteira com o Brasil, estão determinados a permitir a entrada de qualquer ajuda estrangeira que chegue ao país, mesmo que isso signifique bater de frente com as forças de segurança venezuelanas e o governo do presidente Nicolás Maduro.
Em meio à hiperinflação e com a economia combalida por um forte cerco econômico promovido pelo governo norte-americano, a ajuda humanitária se tornou um dos pontos críticos em uma cada vez mais grave crise política. Parte dos produtos seriam armamentos para as forças de ultradireita, de oposição a Maduro, segundo dados da inteligência venezuelana.
Seis líderes da comunidade Pemon que vive no município de Grand Sabana, na fronteira com o Brasil, disseram à agência inglesa de notícias Reuters que a população necessitada deve ignorar qualquer politização da ajuda humanitária. A área de Gran Sabana, composta por campos planos com imensos chapadões esparsos e que fica no sul do estado de Bolívar, abriga a única via pavimentada que liga o Brasil e a Venezuela.
— Estamos fisicamente preparados – sem armas – e dispostos a abrir a fronteira para receber a ajuda humanitária. Nem a Guarda Nacional nem o governo podem parar isso — desafia o prefeito de Gran Sabana, Emilio Gonzales.
‘Ajuda humanitária’
As comunidades indígenas gozam de um grau maior de autonomia em relação a outros grupos na Venezuela. O governador de Bolívar e o chefe militar para a região de Guayana, que engloba os estados de Bolívar e Amazonas, não estavam disponíveis para comentar sobre o assunto.
— Somos os nativos de Gran Sabana e não vamos permitir que alguns generais de fora decidam por nós. Somos as autoridades legítimas — endossa Jorge Perez, conselheiro regional para as comunidades indígenas.
Nos últimos anos, a capital de Roraima tem sido o destino de dezenas de milhares de venezuelanos dissidentes, que fogem da crise em seu país. O Monte Roraima, de 2,8 mil metros de altitude e que fica encravado na fronteira, é território sagrado para os Pemon e considerado um símbolo espiritual por muitos venezuelanos.
O prefeito Gonzalez disse que as autoridades no Brasil ainda não o informaram sobre uma data precisa para a chegada de carregamentos de ajuda humanitária na fronteira. Uma representante do governo brasileiro não quis comentar sobre ajuda humanitária, mas confirmou que o transporte via terrestre até Gran Sabana é uma possibilidade.
Polêmica
Juan Guaidó, o auto-proclamado presidente interino da Venezuela, prometeu a chegada de ajuda humanitária à população e negociou o envio de medicamentos e alimentos com Estados Unidos, Canadá, Brasil, Colômbia e outros países da região. Maduro, no entanto, nega a autorização para entrada de ajuda e esta semana disse que os venezuelanos não são “pedintes. O governo venezuelano fechou a fronteira com a Colômbia para impedir a passagem de caminhões.
Guaidó, ainda neste domingo, elevou o tom contra Maduro. Ele diz que não descarta a hipótese de pedir uma intervenção militar externa para derrubar o presidente da República Bolivariana. Em entrevista à agência AFP, o mandatário da Assembleia Nacional disse que fará "tudo o que for possível" e que esse é um tema "muito polêmico”.
— Mas, fazendo uso de nossa soberania, do exercício de nossas competências, faremos tudo o que temos de fazer de maneira soberana e autônoma para colocar fim à usurpação — acrescentou.
Ele respondia a uma pergunta sobre uma eventual autorização para uma intervenção militar estrangeira na Venezuela. Segundo a Reuters, os Estados Unidos mantêm contatos diretos com membros do regime e do Exército venezuelano para convencê-los a abandonar Maduro, que tem amplo apoio entre os militares.
Ditadura
Enfrentando a pior crise desde que assumiu a presidência da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro considera que a tentativa da direita de formar um governo paralelo no seu país é expressão do conflito entre a independência e a soberania da Venezuela e a intenção imperialista estadunidense de recolonizar essa nação.
Em entrevista exclusiva com o jornal mexicano La Jornada, o presidente bolivariano negou que a Venezuela seja uma ditadura, com violação dos direitos humanos e crise humanitária. Segundo ele, os políticos que hoje estão presos são os organizadores de um golpe de Estado violento, que assassinaram, queimaram pessoas vivas e destruíram propriedades.
Ele assegura que a maioria massiva dos meios de comunicação está nas mãos de empresas privadas que se opõem ao governo. E a chamada “crise humanitária” seria um show montado pelo Comando Sul dos Estados Unidos para justificar uma intervenção militar.
Nicolás Maduro acredita que caso os Estados Unidos aposte por intervir militarmente em seu país, um novo Vietnã será criado na América Latina. Ele assegura que a Venezuela está moralmente pronta para responder aos ataques, que seu Exército está unido e aliado ao povo. Os ataques de Trump, diz, buscam apropriar-se do petróleo venezuelano.