Número de alemães que deixaram a instituição bateu recorde em 2022, apontam números oficiais. Evasão segue uma série de escândalos de abuso sexual na Igreja.
Por Redação, com DW - de Berlim
Um número recorde de pessoas abandonou a Igreja Católica na Alemanha em 2022, informou a Conferência Episcopal Alemã (DBK, na sigla em alemão) na quarta-feira.
No ano passado, um total de 522.821 fiéis encerrou seu relacionamento oficial com a Igreja, superando o recorde do ano anterior, quando 359.338 pessoas o fizeram.
Apesar do número crescente, a Alemanha ainda registra 20,94 milhões de membros registrados oficialmente na Igreja Católica. Esse total representa pouco menos de um quarto da população alemã.
A DBK não explicou as razões para o número recorde de saídas, mas elas seguem uma série de escândalos de abuso sexual infantil que abalaram a Igreja Católica na Alemanha e em vários lugares.
Irme Stetter-Karp, presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), um influente órgão composto por representantes de várias organizações católicas do país, afirmou que estava "triste" com o recorde, "mas não surpresa".
– A Igreja desperdiçou a confiança, principalmente como resultado do escândalo de abusos. Mas também não está mostrando determinação suficiente no momento para implementar visões para um futuro da vida cristã na Igreja – acrescentou.
Relatórios denunciaram abusos
Um relatório encomendado pela própria Igreja e publicado em 2018 denunciou que pelo menos 3.677 pessoas, a maioria crianças menores de 13 anos, foram abusadas pelo clero católico entre 1946 e 2014.
Outro relatório, publicado em janeiro de 2022, estabeleceu que o papa Bento 16, morto em dezembro passado, falhou em evitar o abuso infantil durante seu tempo como arcebispo de Munique e Freising, de 1977 a 1982.
Nesta semana, inclusive, a polícia fez buscas em locais ligados ao arcebispo de Colônia, o cardeal Rainer Maria Woelki, sob alegações de falsas declarações que ele teria feito em relação a seu suposto conhecimento de abusos cometidos por membros do clero.
O "imposto da Igreja" na Alemanha
Os fiéis oficialmente registrados na Alemanha pagam um chamado "imposto da Igreja", que varia entre 8% e 9% do imposto de renda, dependendo do estado. A taxa é recolhida pela Receita Federal alemã e vai diretamente para a Igreja, seja católica ou protestante – isso sem contar com os milhões pagos pelo Estado com o dinheiro do contribuinte.
Ou seja, a perda de fieis também significa uma redução nos fundos da Igreja.
– A Igreja Católica está morrendo de forma agonizante diante dos olhos do público – afirmou Thomas Schüller, especialista em direito canônico católico da Universidade de Münster e observador atento da Igreja Católica alemã, à agência de notícias alemã DPA.
Mas não só a Igreja Católica tem estado em maus lençóis. As igrejas protestantes tradicionais também viram seu número de fiéis cair. Em 2022, cerca de 380 mil pessoas deixaram a Igreja Evangélica da Alemanha.