Procuradores dos Estados Unidos acusam Meng, filha do fundador da Huawei Technologies, de enganar bancos multinacionais sobre transações ligadas ao Irã.
Por Redação, com Reuters - de Vancouver/Hong Kong
A vice-presidente financeira executiva da Huawei, Meng Wanzhou, solta no Canadá após pagamento de fiança na última terça-feira para esperar uma decisão sobre extradição para os Estados Unidos, pode ter recebido uma munição muito bem vinda nos tribunais de uma fonte improvável: o presidente norte-americano, Donald Trump.
Enquanto a audiência se desdobrava em uma corte canadense, Trump disse à agência inglesa de notícias Reuters que iria intervir no caso, junto ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, contra Meng se isso ajudasse os interesses de segurança nacional ou ajudasse a fechar um acordo comercial com a China.
Especialistas jurídicos e autoridades canadenses disseram que os comentários permitiriam que os advogados de Meng utilizassem a tese de que a prisão da executiva foi politicamente motivada, um argumento que funcionaria no Canadá, onde juízes são particularmente cautelosos em relação a abusos no sistema judiciário.
– Ele deu aos advogados uma oportunidade para argumentar que o processo foi politizado e que os procedimentos de extradição deveriam ser encerrados – disse Robert Currie, professor de Direito Internacional na Universidade Dalhousie, em Halifax. Uma autoridade canadense concordou que esses comentários poderiam ser feitos.
Procuradores dos Estados Unidos acusam Meng, filha do fundador da Huawei Technologies, de enganar bancos multinacionais sobre transações ligadas ao Irã e que colocaram instituições financeiras sob risco de violação de sanções impostas pelos Estados Unidos. Meng alega ser inocente.
Se um juiz canadense decidir que o caso é sólido o bastante, o ministro da Justiça canadense precisará decidir em seguida se promove a extradição de Meng para os Estados Unidos. Se sim, Meng enfrentaria acusações de conspiração para fraudar múltiplas instituições financeiras, com uma condenação que pode chegar a 30 anos para cada acusação.
O Departamento de Justiça dos EUA se irritou com os comentários de Trump, que se referiram aos atuais esforços entre China e Estados Unidos para negociar um acordo de comércio e resolver a guerra comercial entre os dois países.
Perguntado sobre os comentários em audiência do Comitê Judiciário do Senado na quarta-feira, o Assistente do Procurador Geral John Demers disse que seu departamento não era uma “ferramenta para o comércio”.
– O que fazemos no Departamento de Justiça é a aplicação da lei. Não fazemos comércio – disse Demers, o principal oficial de segurança nacional do Departamento.
O advogado de Meng não estava disponível para comentário na quarta-feira. A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido para comentário.
A ministra canadense das Relações Exteriores, Chrystia Freeland, disse que o processo legal não deveria ser sequestrado por propósitos políticos e que os advogados de Meng teriam a possibilidade de mencionar os comentários de Trump se eles decidirem lutar contra a possibilidade de extradição.
– Nossos parceiros na extradição não deveriam buscar politizar o processo ou usá-lo para fins que não sejam a busca pela Justiça e o cumprimento da lei – disse.