Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

O grito de mulheres dominicanas para o mundo

Arquivado em:
Sexta, 07 de Abril de 2023 às 07:22, por: CdB

A série cinematográfica O Grito das Mariposas ajuda a desmontar a falsa tese, defendida por muita gente, de que os Estados Unidos são o baluarte da democracia no mundo.


Por Marcos Aurélio Ruy – de Brasília


A saga das irmãs Mirabal, contada em prosa e verso em todos os cantos do mundo, virou a série O Grito das Mariposas, dirigida por Inés Paris, em cartaz no streaming Star+. Mais uma oportunidade para se pensar sobre a resistência às ditaduras sangrentas da América Latina.




mulheres.jpg
série cinematográfica O Grito das Mariposas ajuda a desmontar a falsa tese, defendida por muita gente

Em 13 episódios feitos para a TV, a série mistura ficção e realidade ao mostrar a força das mariposas, como eram conhecidas as irmãs Maribal em seu país, em organizar a luta contra a ditadura de Rafael Trujillo (1891-1961) na República Dominicana, que durou de 1930 a 1961.


A série também foca o relacionamento entre Trujillo e a imigrante espanhola Arantxa Oyamburu (Susana Abaitua), amiga de infância de Minerva Mirabal. Nela, fica patente a liderança das irmãs Mirabal no partido de esquerda Movimento 14 de Junho, em homenagem aos defensores da liberdade torturados e mortos em 14 de junho de 1959. Principalmente Minerva Mirabal (1926-1960), a primeira mulher a cursar Direito na República Dominicana, mas impedida de exercer a profissão pela ditadura, pois era a mais  ativa com seus discursos potentes.



“As borboletas”


A obra cinematográfica mostra também a criação de um livro, encomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU), para contar a história das Mirabal, traduzido também como “as borboletas”. Tanto que o título do livro de Julia Álvarez é No Tempo das Borboletas, publicado em 1994. Ele deu base ao filme de 2001, de mesmo nome. 


A importância dessas irmãs é tão gigantesca que a ONU decretou o 25 de novembro como Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, em 1999, 39 anos após o bárbaro assassinato de Minerva, María Teresa e Patria pela ditadura nessa data.


Também é importante destacar o apoio da Espanha, governada pelo ditador fascista Francisco Franco (1892-1975), e dos Estados Unidos ao general Trujllo, com o discurso, ainda persistente, do “fantasma do comunismo” para justificar atrocidades desumanas e corrupção desenfreada. Qualquer semelhança com outros países será mera coincidência?


A série ajuda a desmontar a falsa tese, defendida por muita gente, de que os Estados Unidos são o baluarte da democracia no mundo. Muito pelo contrário, eles patrocinaram e patrocinam ditaduras, em nome da liberdade, e produziram e produzem guerras em nome da paz.



Os fascistas


Transparece a hipocrisia de setores de uma burguesia sórdida e subserviente ao imperialismo, que defende a democracia desde que não mexam em seus interesses e lucros. Querem a liberdade para eles, mas não para quem vive do trabalho. Tanto quanto a violência política de gênero, porque a repressão às mulheres é mais cruel. Os fascistas não toleram as mulheres empoderadas.


Isso fica muito claro na série, quando o general-presidente Trujillo apalpa as nádegas de Minerva, quando dançavam em uma festa e ela o rechaça com vigor. E a perseguição à família Mirabal se intensifica a partir de então. Essa violência pela condição de gênero também é mostrada quando Trujillo espanca a sua amante Arantxa por ela ter se contraposto, em seu programa de TV, ao assassinato de opositores do regime.


A história das mariposas é contada pela quarta irmã, Adela (Dedé), a única que escapou da morte por não ser ativista política, e por Arantxa, que fugiu para a Espanha.


Além de instituir o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, a ONU criou também a campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres. A luta das irmãs Mirabal não foi em vão.


Como disse Minerva em um discurso quando recebeu a notícia sobre a ameaça à sua vida, “se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”. A força dela e de suas irmãs reside na luta das mulheres em todo o mundo por liberdade, justiça, igualdade e paz. Porque a história não perdoa.




 

Marcos Aurélio Ruy, é jornalista.


As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil



Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo