A greve dos professores no Distrito Federal expõe a precarização estrutural e a desvalorização da educação pública.
Com apoio da comunidade, o movimento cobra investimentos reais e o cumprimento de direitos garantidos em lei.
Por Vitoria Carvalho, da sucursal de Brasília
Nesta segunda-feira, 9 de junho de 2025, a Escola Classe 115 Norte foi cercada de afeto e resistência. Um abraço simbólico, feito por professores, pais, estudantes e apoiadores, marcou mais um capítulo da greve da educação pública no Distrito Federal. À frente da mobilização, o professor Jânio Alcântara, integrante do comitê de greve da Escola Classe 115 Norte, conversou com o Correio do Brasil e denunciou as condições alarmantes enfrentadas por docentes e estudantes na capital do país.
Segundo Jânio, a paralisação visa denunciar a precarização das escolas, a superlotação das salas de aula, o excesso de contratações temporárias — que já somam cerca de 70% do quadro docente — e a desvalorização da carreira de professor. “O que estamos vivendo não é só uma crise administrativa. É um projeto. Um projeto que escolhe não investir na infância e que, por isso, reproduz a pobreza e a desigualdade”, afirmou.

Salário baixo
A greve também cobra do governo o cumprimento do Plano Distrital de Educação, que prevê a isonomia salarial dos professores com outras carreiras de nível superior. Hoje, o salário da categoria está 57% abaixo do que deveria. “Enquanto juízes e outras carreiras têm reajustes e valorização, os professores são deixados para trás. E não por acaso: um povo educado não é facilmente manipulado”, disse o professor.
A realidade nas escolas públicas do DF é marcada por carências estruturais e humanas. “Faltam psicólogos, educadores de artes, professores especializados, especialmente para crianças com necessidades educacionais específicas. E mesmo assim querem terceirizar mais, reduzir ainda mais a estrutura das escolas”, denuncia Jânio. Ele critica o fechamento das escolas parque e o esvaziamento de políticas de apoio ao desenvolvimento integral das crianças. “Educação infantil não é depósito de criança, é o lugar onde a gente constrói o futuro.”

Jânio rebate os argumentos do GDF de que não há orçamento para reajustes. “O governo mente. Gasta abaixo do limite prudencial, prioriza obras e publicidade, enquanto corta investimento em educação. A queda da fatia do orçamento destinada à educação em relação ao PIB do DF é um dado concreto”, afirma.
Para ele, o projeto de manter a precarização da escola pública tem objetivos claros: “É uma forma de garantir que essas crianças, quando chegarem à vida adulta, não disputem os espaços de trabalho mais qualificados. É manter a população pobre sem acesso a empregos dignos, de maior valor social e econômico. É limitar seus horizontes desde agora.”
Apoio da comunidade
A mobilização tem contado com apoio crescente da comunidade escolar. “As famílias entendem o que está em jogo. Muitas delas vivem a educação como um caminho possível de mudança, de transformação. E por isso aderem à greve, apoiam o movimento. Esse apoio é fundamental para mostrarmos que a luta não é só por salário, é por dignidade e por um futuro melhor para todos.”
A greve continua e o movimento segue com atividades em várias escolas, atos públicos e tentativas de negociação com o governo. Jânio encerra citando Darcy Ribeiro: “A crise na educação não é uma crise; é um projeto.” E reforça: “Mas nós temos outro projeto. Um projeto de escola pública, de inclusão, de transformação. É por ele que estamos aqui.”