Os depoimentos do general e do filho dele, Caio Santos Cruz, nos questionamentos da PF tiveram como ponto central a atuação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Por Redação – de Brasília e Rio de Janeiro
Em depoimento à Polícia Federal (PF), o general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro no governo de Jair Bolsonaro (PL), revelou a relação da família do ex-mandatário neofascista com empresários israelenses que forneceram o software espião FirstMile, usado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar políticos, juízes e jornalistas.
Os depoimentos do general e do filho dele, Caio Santos Cruz, nos questionamentos da PF, segundo relatório vazado para a mídia conservadora, tiveram como ponto central a atuação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente também conhecido como ’02′, e a sua relação com os israelenses. Entre as informações coletadas pela PF está o fato que integrantes da família Bolsonaro se reuniram com os israelenses, por intermédio de Caio Cruz, antes mesmo de Bolsonaro assumir a Presidência.
O filho do general era um dos representantes no Brasil da empresa israelense Cognyte, responsável pelo fornecimento do software espião, adquirido durante o governo Michel Temer (MDB) por R$ 5,7 milhões. O filho do ex-ministro de Bolsonaro foi alvo de buscas na ‘Operação Última Milha’, deflagrada pela PF em outubro do ano passado.
Intenção
Enquanto Caio Cruz era questionado sobre a relação do ’02′ com os israelenses, o pai falava de seu conhecimento sobre a intenção de Bolsonaro em criar uma Abin paralela. Procurados pela reportagem do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, nesta sexta-feira, Carlos Bolsonaro, Carlos Alberto Santos Cruz e Caio Santo Cruz preferiram não se manifestar.
Os depoimentos do general Santos Cruz e de seu filho ocorreram no mês passado, em Brasília, mas somente após o vazamento dos dados, nesta manhã, o público tomou conhecimento da extensão dos fatos. Os investigadores também abordaram nas oitivas uma fala do ex-ministro de Bolsonaro Gustavo Bebianno, morto em 2020.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em março de 2020, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência disse ter ouvido dentro do governo conversas sobre a ideia de Bolsonaro e do seu filho Carlos de criar uma estrutura de inteligência paralela.
— Um belo dia o Carlos (Bolsonaro) me aparece com o nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela porque ele não confiava na Abin — afirmou Bebiano, à época.
Covid-19
O então ministro disse na entrevista não saber se a iniciativa de ’02′ teria sido levada adiante, ou não. Bolsonaro teria sido orientado a não colocar em prática a ideia do vereador, segundo ele.
Em 29 de janeiro deste ano, o vereador foi alvo de buscas da ‘Operação Última Milha’. Segundo a PF, ’02′ integrava o núcleo político da chamada Abin paralela e se beneficiava de informações sigilosas da agência, que foi comandada pelo hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). A quarta fase da ‘Operação Última Milha’, deflagrada em julho de 2024, apontou que integrantes da Abin paralela marcavam Carlos Bolsonaro em publicações falsas contra o senador Alessandro Vieira (MDB-RS).
Segundo os investigadores, Vieira se tornou alvo da Abin paralela depois de pedir a quebra do sigilo fiscal, bancário e telemático de Carlos Bolsonaro, na CPI da covid-19.