A declaração aconteceu nesta sexta-feira durante depoimentos de testemunhas no âmbito do processo que apura uma tentativa de golpe de Estado em 2022.
Por Redação – de Brasília
Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho disse, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira, que servidores responsáveis pelo sistema de espionagem FirstMile se recusaram a prestar informações durante uma fiscalização interna. Segundo afirmou, em juízo, os funcionários chegaram a agir de forma “agressiva” ao serem questionados.

A declaração aconteceu nesta sexta-feira durante depoimentos de testemunhas no âmbito do processo que apura uma tentativa de golpe de Estado em 2022. Coelho foi indicado como testemunha pela defesa do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin.
De acordo com as investigações da Polícia Federal, o FirstMile — software de monitoramento da empresa israelense Cognyte — foi utilizado de forma ilegal para rastrear autoridades públicas, com uso de geolocalização de celulares sem autorização judicial voltado para abastecer o esquema conhecido como ‘Gabinete do Ódio’ montado no Palácio do Planalto, segundo apurou a Polícia Federal (PF).
Servidor
Em seu depoimento, Coelho afirmou que havia realizado uma operação para investigar a contratação de todos os equipamentos de TI da Agência e quando chegou aos responsáveis por operar o FirstMile ele encontrou resistência.
O ex-diretor disse que, ao pedir para o gestor do contrato do software First Mile, Marcelo Furtado, se manifestar sobre a ferramenta, ouviu do servidor que “não se sentia à vontade para atestar o que havia sido solicitado”.
— O gestor de contrato, quando ele foi questionado sobre a regularidade da ferramenta e para prestar outras informações, ele se mostrou recalcitrante. Posteriormente, entrou em contato comigo dizendo que não estava se sentindo à vontade para prestar o que havia sido solicitado — afirmou.
Hostil
Coelho acrescentou que procurou o então diretor do Departamento de Operações de Inteligência da Abin, Paulo Maurício Fortunato, que teria reagido de forma hostil e disse que ele não deveria se intrometer naquela questão.
— Eu tive uma interação com o diretor do Departamento de Operação de Inteligência, o oficial Paulo Maurício, ele foi agressivo, disse que eu não tinha que me imiscuir em assuntos da atividade-fim e que aquilo deveria ser tratado no âmbito da direção-adjunta — acrescentou.
Segundo o delegado, a situação foi relatada a Alexandre Ramagem e ao diretor-adjunto da agência, que teriam tomado providências para apurar tanto a contratação quanto o uso do software. Ramagem, ainda segundo Coelho, acionou a corregedoria da Abin para investigar o caso.