Possível junção das duas pastas no governo Bolsonaro é rejeitada não apenas por ambientalistas, mas também por setores do agronegócio, devido a potencial prejuízo para exportação de commodities agrícolas.
Por Redação, com DW - de Brasília
Os preparativos para a transição de equipes no Ministério do Meio Ambiente do governo atual para o do presidente recém-eleito Jair Bolsonaro, que teria início ainda em novembro, foram interrompidos pelo anúncio da fusão da pasta com a da Agricultura, na terça-feira. – Recebemos com surpresa e preocupação o anúncio da fusão com o Ministério da Agricultura – admitiu o atual ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, após a decisão ser divulgada pelo pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), apontado como futuro ministro da Casa Civil. Setores do agronegócio também receberam mal a notícia. "Essa junção pode passar para o mercado externo um sinal muito ruim, o que prejudica a nossa pauta de exportação. O agronegócio brasileiro exporta US$ 100 bilhões por ano em commodities", disse Luiz Cornacchioni, diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em entrevista para à agência alemã de notícias DW. Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro havia cogitado a possibilidade de unir os ministérios. Um pouco antes do segundo turno, após fortes críticas, o então candidato voltou atrás, para, dois dias depois de ser eleito, seu futuro ministro da Casa Civil novamente reafirmar a fusão. Dando continuidade ao vai e vem, na noite desta quarta-feira, a assessoria de Bolsonaro informou que o presidente eleito ainda não decidiu sobre a junção das pastas. O anúncio foi feito após o presidente eleito se reunir com o produtor rural Luiz Antônio Nabhan Garcia, que, ao deixar o encontro, disse não haver nada confirmado sobre a fusão e que Bolsonaro "quer ouvir todo mundo" antes de decidir. No contexto brasileiro, os dois ministérios têm funções quase opostas. O do Meio Ambiente, além de combater o desmatamento e atuar na conservação dos diferentes biomas brasileiros, cuida de questões ligadas ao saneamento, controle da poluição, licenciamento de obras de infraestrutura, como hidreléticas. O da Agricultura, por sua vez, é responsável pelo estímulo à agropecuária, ao agronegócio. "Temos mais a perder que ganhar", opina Cornacchioni sobre a fusão. "Essa não é a opinião de todos, mas é a da maioria", comenta sobre o setor. Com crescente relevância no PIB brasileiro nos últimos anos, para exportar, o agronegócio precisa atender a mercados que exigem respeito a leis ambientais. União Europeia (UE) e Japão são apontados como os mais exigentes. Após o anúncio de Onyz Lorenzonti sobre a fusão dos ministérios, nesta terça, o atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, também lamentou a medida. Segundo Maggi, a junção das pastas "trará prejuízos ao agronegócio brasileiro, muito cobrado pelos países da Europa pela preservação do meio ambiente". – Já não está fácil fazer negócio no cenário internacional, ainda mais com essa guerra comercial entre Estados Unidos e China. Imagine se a gente sofre uma redução de 10% na nossa pauta de exportação? São US$ 10 bilhões – diz o diretor executivo da Abag, pontuando que a perda equivaleria ao total exportado pelo agronegócio da Argentina.