Os ativos totais do ETF EMXC, que investe em ações de emergentes excluindo a China, deram um salto de quase 50% nos últimos dois meses, para US$ 8 bilhões, ultrapassando o maior ETF de ações com foco no país asiático. Há apenas três anos, este último superava em mais de 50 vezes o fundo que exclui a China.
Por Redação, com Bloomberg - de Londres
O declínio da China como o principal porto de destino para os grandes investidores mundiais tem levado à busca de oportunidades de crescimento em mercados emergentes. Os fluxos para o maior fundo de índice dedicado a ações de economias em desenvolvimento fora do país estão em alta.
Os ativos totais do ETF EMXC, que investe em ações de emergentes excluindo a China, deram um salto de quase 50% nos últimos dois meses, para US$ 8 bilhões, ultrapassando o maior ETF de ações com foco no país asiático. Há apenas três anos, este último superava em mais de 50 vezes o fundo que exclui a China.
Essa migração nos fundos só tende a ganhar força, de acordo com analistas e gestores de ativos. Os mercados acionários de Índia, Brasil e México atingiram recordes na semana passada em meio à perspectiva de queda dos juros nos EUA, enquanto o índice de referência da China, o CSI 300, caiu para o menor nível em quase cinco anos.
Emergentes
A América Latina é “nossa geografia favorita no espaço dos mercados emergentes”, disse Todd Jablonski, diretor de investimentos para alocação de ativos da Principal Asset Management.
— México, Brasil e Chile têm sido negociados com profundos descontos históricos em relação aos seus ‘valuations’ tradicionais — acrescentou.
A projeção do Morgan Stanley (MS) de 17 de novembro de que o índice MSCI Emerging Markets Latin America atingiria 2.900 pontos até o final de 2024 já corre o risco de parecer conservadora. Com o rali no último mês, a previsão representaria um ganho de apenas 12%.
Ainda assim, o indicador tem ampla margem para subir ainda mais, sendo negociado a cerca de 9,1 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, bem abaixo da média de 10 anos, de 12,1 vezes.
— Mesmo que o desempenho econômico decepcione, os preços dos ativos estão muito baixos para serem ignorados na Colômbia e na América Latina em geral. Investidores que ficam de fora devido à desconfiança em relação a políticos de esquerda ignoram o fato de que esses países têm proporcionado estabilidade macroeconômica e fortes retornos — disse Gustavo Medeiros, chefe de pesquisa da Ashmore, de Londres.
‘Orfanato’
Do outro lado do mundo, a China começa a parecer um “orfanato de mercados emergentes”, à medida que muitos investidores retiram o país de seus portfólios com foco nessas regiões, segundo estrategistas do JPMorgan (JPM).
O banco afirma que investidores buscam substituir o país em suas carteiras de renda variável por geografias que ofereçam perspectivas de crescimento convincentes – como Índia, Arábia Saudita e México. Também olham para países com exposição indireta à China – como o Brasil e o Chile – com base nas expectativas de que o crescimento do gigante asiático irá impulsionar os preços das commodities.
— A Índia surge progressivamente como uma oportunidade a longo prazo, com sua força de trabalho em expansão e um sistema bancário mais estável, ambos contribuindo para um ciclo ascendente de crédito e investimento — disse Sunny Ng, gestor de portfólio da PineBridge Investments.
O índice MSCI China negocia a 10,2 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, contra uma média de 10 anos de 12,6 vezes, mostram dados compilados pela Bloomberg. No entanto, isso não é suficiente para atrair investidores preocupados com tensões geopolíticas persistentes, riscos regulatórios e receio de interferência estatal.
— Numa visão de médio prazo, não tenho muita confiança no lado chinês. Prefiro colocar meus ovos na Índia, na Arábia Saudita e no Brasil. E no México, porque está cada vez mais ligado aos EUA — afirmou Dubravko Lakos-Bujas, estrategista-chefe de ações globais do JPMorgan.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou um marco fiscal que ajudou a sustentar os preços dos ativos, enquanto o mexicano Andrés Manuel López Obrador adotou uma abordagem orçamentária rigorosa durante a pandemia.
Dívidas
Quanto ao vizinho brasileiro mais endividado, o governo da China piorou muito a situação argentina ao suspender, nesta quarta-feira, o financiamento de US$ 6,5 bilhões (R$ 31,6 bilhões) a partir de linha de swap cambial para a Argentina, parte de um acordo entre o então presidente argentino Alberto Fernández e seu homólogo chinês, Xi Jinping. Parte desse valor seria utilizado para pagar as dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A decisão, divulgada pela agência norte-americana REDD Intelligence, citando fontes do governo argentino, coincide com a posse presidencial de Javier Milei, que já afirmou em outras ocasiões que romperia relações com a “ditadura comunista” da China.