O Executivo entregou a chave do cofre ao grupo político que comanda hoje a presidência da Câmara dos Deputados. E abandonou de vez suas promessas de campanha de representar uma suposta nova política e ainda prometeu um reajuste para os servidores.
Por Thiago Modenesi– de Brasília
A polêmica que envolve os recursos destinados ao fundo eleitoral não é nova no Brasil do século XXI. A ideia de um fundo público que substitua o financiamento privado busca tornar as disputas em nossas eleições mais isonômicas e democráticas. Algo positivo e necessário. Mas, o aumento acima da casa dos 200%, de um pleito para outro, choca e revolta a opinião pública. Vale lembrar das disputas nas décadas de 80 e 90 do século XX, marcadas por abuso explícito do poder econômico. Os barulhentos carros de som, distribuição de camisas, broches, dentaduras, muros pintados e outdoors. Tudo isso regado com dinheiro das empresas privadas e posteriores contas a serem cobradas por elas dos governos, que se elegiam em todas as esferas da República. Pouco a pouco, tudo isso foi sendo suprimido das nossas eleições, na perspectiva de valorizar uma disputa com foco nas ideias, com condições mais justas nas disputas.Preservação de instrumentos
Embora a Democracia e a preservação de instrumentos que a garantam nos pleitos não tenham preço, números estratosféricos se tornam uma pedra no sapato do governo federal, no momento que este corta verbas de setores estratégicos como ciência e tecnologia, em pesquisas que são fundamentais em momentos como o que vivemos na saúde, educação, meio ambiente e saneamento. Tudo para incentivar a aprovação de vultuoso fundo eleitoral em tempos de pandemia para agradar o Centrão. O Centrão não terá só os R$ 4,9 bilhões do Fundo Eleitoral no Orçamento. Tem também os R$ 16 bilhões destinados às emendas de relator em suas mãos. Na verdade, os três partidos do Centrão controlarão praticamente os R$ 140 bilhões do Orçamento. Como se vê, o Executivo entregou a chave do cofre ao grupo político que comanda hoje a presidência da Câmara dos Deputados. E abandonou de vez suas promessas de campanha de representar uma suposta nova política e ainda prometeu um reajuste para os servidores, sem alocar recurso suficiente para garantir isso, o que gerará uma grande reação.Thiago Modenesi, é licenciado em História, Especialista em Ensino de História e Ciência Política, Pedagogo, Mestre e Doutor em Educação, é professor e pesquisador sobre charges, cartuns e histórias em Quadrinhos e editor do selo de histórias em quadrinhos Quadriculando, além de presidente do PCdoB em Jaboatão dos Guararapes/PE .
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil