A cerimônia, que marca o início da Semana Santa na Igreja Católica e antecede o tríduo pascal, ocorre um dia depois do Pontífice receber alta médica do hospital Policlínico Gemelli, em Roma.
Por Redação, com ANSA - da Cidade do Vaticano
O papa Francisco participou na manhã deste domingo da celebração do Domingo de Ramos na Praça São Pedro, no Vaticano, e fez um alerta sobre a indiferença da humanidade perante os milhões de "abandonados" em todo o mundo.
A cerimônia, que marca o início da Semana Santa na Igreja Católica e antecede o tríduo pascal, ocorre um dia depois do Pontífice receber alta médica do hospital Policlínico Gemelli, em Roma, após um tratamento contra uma bronquite infecciosa.
Perante mais de 60 mil fiéis, segundo estimativas da gendarmaria vaticana, o Papa lembrou que para os católicos, as pessoas "rejeitadas e excluídas" são "ícones vivos de Cristo".
– Peçamos hoje esta graça: saber amar Jesus abandonado e saber amar Jesus em cada abandonado, em cada abandonada. Peçamos a graça de saber ver e reconhecer o Senhor que continua a clamar, neles.
Não permitamos que a sua voz se perca no silêncio ensurdecedor da indiferença", declarou ele na homilia da missa que presidiu o ritual de bênção dos ramos de oliveira.
Segundo o argentino, "para nós, discípulos do 'Abandonado', ninguém pode ser marginalizado, ninguém pode ser deixado por sua conta". "Não fomos deixados sozinhos por Deus, cuidemos de quem é deixado só", acrescentou.
Jorge Bergoglio alertou ainda que há "muitos 'cristos' abandonados" no mundo contemporâneo e lembrou, por exemplo, de um morador de rua alemão que, há algumas semanas, "morreu sozinho na praça São Pedro".
– Há povos inteiros explorados e deixados à própria sorte; há pobres que vivem nas encruzilhadas de nossas ruas e cujos olhos não temos a coragem de olhar; migrantes, que já não são mais rostos, mas números; presos rejeitados, pessoas classificadas como problemas – listou.
O líder da Igreja Católica enfatizou que "tantas pessoas precisam da nossa proximidade, tantos abandonados". "Eu também preciso que Jesus me acaricie, que se aproxime de mim, e para isso vou procurá-lo nos abandonados, nos solitários".
O Santo Padre alertou ainda sobre os "abandonados invisíveis, escondidos, que são descartados com luvas brancas: crianças por nascer, idosos deixados sozinhos, que podem ser seu pai, sua mãe, avô e avó abandonados em lares geriátricos, pessoas doentes não visitadas, deficientes ignorados, jovens que sentem um grande vazio dentro de si sem que ninguém realmente ouça seu grito de dor e não encontram outra saída senão a do suicídio".
Durante a homilia, Francisco citou "os sofrimentos de Jesus", recordando que "estamos perante o sofrimento mais dilacerante, o do espírito".
– Podemos nos perguntar por que (Jesus) foi tão longe? A resposta é uma só: por nós. Ele foi solidário conosco até ao ponto extremo, para estar conosco até ao fim, para que nenhum de nós se possa imaginar sozinho e irrecuperável. Experimentou o abandono para não nos deixar reféns da desolação e permanecer ao nosso lado para sempre – explicou.
Mensagem de esperança
Por fim, o religioso deixou uma mensagem de esperança para todas as pessoas que enfrentam o "abismo do abandono", ressaltando que Jesus salva a partir dos "porquês" de cada existência e transforma "corações de pedra em corações de carne, capazes de piedade, ternura e compaixão".
– Cristo, abandonado, impele-nos a procurá-lo e a amá-lo nos abandonados. Porque neles, não temos apenas necessitados, mas temos a Ele, Jesus Abandonado, aquele que nos salvou descendo até ao fundo da nossa condição humana – lembrou ele na cerimônia, que foi confiada ao cardeal dom Leonardo Sandri, vice-decano do Colégio Cardinalício.
No final da missa, o papa fez um longo percurso no papamóvel pela Praça São Pedro para saudar os fiéis. Ele sorriu, abençoou a todos e fez um sinal de positivo para um grupo de fiéis com a bandeira ucraniana.