O alinhamento do comportamento de voto masculino e feminino em relação ao principal partido de extrema-direita da França, observado desde 2012, foi acentuado na votação de junho.
Por Redação, com CartaCapital – de Paris
A banalização do partido, a imagem de Marine Le Pen como uma mulher forte e um voto “cada vez mais preocupado com a segurança diante do risco de agressão física ou sexual” explicam, em parte, essa adesão feminina a uma sigla que historicamente sempre desdenhou dos direitos das mulheres.
É o fim do “gender gap” (diferença baseada no gênero, neste caso, eleitoral) em relação à extrema-direita. Durante muito tempo, o partido Reunião Nacional, cofundado por Jean-Marie Le Pen, foi majoritariamente votado por homens, mas esse não é mais o caso após as recentes eleições europeias. O alinhamento do comportamento de voto masculino e feminino em relação ao principal partido de extrema-direita da França, observado desde 2012, foi acentuado na votação de junho.
Para fins de comparação, Jean-Marie Le Pen, quando era presidente do partido, e pai de sua atual figura de proa, Marine Le Pen, recebeu 26% dos votos masculinos na eleição presidencial de 2002, em comparação com 11% dos votos femininos.
– Não podemos mais falar de uma ‘diferença de gênero’ quando se trata da extrema direita – confirma Mariette Sineau, socióloga e diretora honorária de pesquisa do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica) e do Instituto de Estudos Políticos da Sciences Po de Paris.
– Marine Le Pen fez uso estratégico de seu gênero ao falar diretamente com as mulheres, dizendo: ‘Eu também sou mulher, estou lutando, tenho filhos para criar, sou divorciada’ – acrescenta. “Essa estratégia trouxe resultados, especialmente entre as mulheres em situação mais precária, que puderam vê-la como uma aliada na luta contra o alto custo de vida.”
‘Genro ideal’
Janine Mossuz-Lavau, diretora de pesquisa do CNRS no Cevipof, concorda: “Há, de fato, um ‘efeito Marine’, mas também um ‘efeito Jordan Bardella‘ entre as mulheres, já que esse homem de 28 anos, de extrema direita, presidente do RN a partir de 2021 e cabeça de lista nas últimas eleições europeias, aparece como o ‘genro ideal’”.
Um estudo do instituto de pesquisa Ifop para a revista Le Point e a Fundação Jean-Jaurès, publicado nesta sexta-feira, estima o crescimento do voto feminino no partido Reunião Nacional em 13% desde 2019.
– A maior parte do crescimento do RN em nível nacional se deve a um salto espetacular no eleitorado feminino. Esse eleitorado está cada vez mais preocupado com a segurança, com o risco de agressão física ou sexual – diz Jérôme Fourquet, cientista político do Ifop.
Preocupação das organizações feministas de esquerda
As organizações feministas de esquerda estão alarmadas com esse fenômeno. “As mulheres votam (quase) tanto quanto os homens no RN, apesar do fato de que as mulheres serão as vítimas” de suas políticas, exclamou, entre outras, Céline Piques, da organização Osez le féminisme!
Marine Le Pen usa “o pretexto de defender as mulheres para apontar a principal ameaça” a elas, “o Islã“, analisa a filósofa e especialista em pensamento feminista Camille Froidevaux-Metterie na quinta-feira em um artigo publicado no Le Monde.
Nesse contexto, mais de cem associações feministas convocaram um dia de mobilização em toda a França no domingo, 23 de junho, contra a extrema-direita, denunciando sua “imensa obsessão” em “minar os direitos e as liberdades” das mulheres em particular.