O comparecimento no segundo turno das eleições parlamentares da França é o mais alto para uma eleição legislativa desde 1981 (28,3%), quando a esquerda chegou ao poder. Entretanto, muitos preferem se abster da decisão.
Por Redação, com CartaCapital – de Paris
A campanha eleitoral terminou no final da noite de sexta-feira, quando a França entrou em um período chamado de “reserva eleitoral”, o que significa que nem os candidatos e nem as mídias podem abordar assuntos que influenciem os resultados da votação.
A França já elegeu 76 deputados para as 577 cadeiras da Assembleia Nacional logo no primeiro turno do pleito. Destes, 39 são do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen, Jordan Bardella e seus aliados, 32 da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), dois da aliança macronista, dois de legendas independentes da direita e um do partido conservador Os Republicanos.
Em Paris, foram eleitos nove deputados diretamente no primeiro turno, sendo todos da coligação NFP. Apenas metade das 18 zonas eleitorais da capital francesa participam do segundo turno.
Na primeira zona eleitoral da capital, no noroeste de Paris, o segundo turno ficou entre um candidato da base eleitoral de Macron, Sylvain Maillard, que busca a reeleição, e um candidato da coligação de esquerda, Raphael Kempf. A capital francesa tem apenas um candidato da extrema direita disputando vaga neste segundo turno, na 14ª zona eleitoral.
A franco-brasileira Myrian Pradat foi às urnas do seu local de votação, na primeira zona eleitoral, em um centro comunitário próximo ao Arco do Triunfo, acompanhada do filho Leandro, 7 anos. Ela lembra que ao contrário do Brasil, o voto não é obrigatório na França, mas acredita ser “muito importante” exercer seu direito democrático.
– Hoje é um dia histórico. A extrema direita nunca esteve tão perto do poder e eu quero mostrar, como exemplo para o meu filhinho, como francesa e brasileira, a importância do voto – explica Myriam.
A mãe do pequeno Leandro acrescentou ainda ter “esperanças” de que a extrema direita não vença a maioria neste segundo turno das eleições francesas, e lamentou, principalmente, a “ausência de preocupações ecológicas” demonstradas pelo partido RN.
Comparecimento histórico
O comparecimento no segundo turno das eleições parlamentares da França é o mais alto para uma eleição legislativa desde 1981 (28,3%), quando a esquerda chegou ao poder. Entretanto, muitos preferem se abster da decisão.
Para o engenheiro franco-brasileiro Lucas-Fraçois Calas, 33 anos, o voto na extrema direita é um tipo de protesto popular. Segundo ele, “o eleitor que tem o sentimento de abandono quer um culpado e a extrema direita dá o nome do culpado”, diz. O jovem decidiu não votar neste pleito antecipado por Macron, pois reconhece que seu voto seria apenas emocional para barrar o RN.
Essas eleições legislativas foram convocadas de surpresa pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em 9 de junho. O pleito tem previsão de ter mais uma vitória do partido de Marine Le Pen e Jordan Bardella. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, a Assembleia Legislativa francesa pode ter uma maioria de deputados da extrema direita.
Eleitores de territórios ultramarinos franceses votaram no sábado 6 e alguns resultados já foram divulgados: no Caribe, na ilha de Guadalupe, quatro deputados independentes de esquerda foram eleitos; na Martinica, quatro deputados da NFP; assim como na Guiana Francesa, na América do Sul, que elegeu dois deputados da mesma aliança da esquerda.
Tendência para a extrema direita
Duas pesquisas divulgadas na sexta-feira mostram que o Reunião Nacional deve obter uma maioria simples na Assembleia legislativa da França. Segundo o instituto Opinion Way, a legenda da extrema direita conseguiria até 230 assentos, distante dos 289 assentos que representam a maioria absoluta do plenário.
A coligação de esquerda Nova Frente Popular, em segundo lugar, alcancaria até 175 deputados, segundo o Opinion Way. Em terceiro, chegaria a aliança de centro-direita macronista Juntos, que pode alcançar com até 162 vagas na Assembleia Nacional, de acordo com o mesmo instituto. Se a previsão se confirmar, o bloco perderia quase 90 cadeiras em relação às 250 que ocupava antes da dissolução.
Para este domingo histórico, 30 mil policiais foram mobilizados em toda a França, 5 mil apenas em Paris. A campanha foi marcada por tensões e violências: 51 agressões físicas contra candidatos e militantes foram registradas. As autoridades temem confrontos entre grupos de militantes políticos rivais após o anúncio dos resultados.
A previsão é que os primeiros números sejam anunciados às 20h pelo horário local, 15h pelo horário de Brasília.