Pesquisadores e funcionários de museu nos EUA programam protesto e pedem cancelamento de evento com presidente. Prefeito da cidade se diz contra e chama brasileiro de "ser humano muito perigoso".
Por Redação, com DW - de Nova York
Um evento com o presidente Jair Bolsonaro, previsto para ocorrer em maio no Museu Americano de História Natural (AMNH), provoca controvérsia em Nova York. Após a própria administração da instituição expressar "profunda preocupação", funcionários e pesquisadores pedem o cancelamento da cerimônia. A sede da instituição alugou um de seus salões para o jantar de gala anual da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, programado para o dia 14 de maio, no qual Bolsonaro receberá o prêmio Pessoa do Ano. O AMNH insinuou nesta sexta-feira que tentará evitar que a festa ocorra em suas instalações. "O evento externo, privado, no qual o atual presidente do Brasil será homenageado foi agendado no museu antes que o homenageado fosse conhecido", justificou o órgão, em sua conta oficial no Twitter. "Estamos profundamente preocupados, e estamos explorando nossas opções", acrescentou. Segundo o portal de notícias The Atlantic, funcionários dos departamentos científicos, educacionais e da biblioteca e educacionais do museu estão preparando "várias iniciativas com a qual esperam pressionar o museu a desistir do evento". De acordo com o site, as ações previstas incluem um protesto durante o festejo de 150 anos do AMNH, a ser realizado no final deste mês. Em uma carta aberta à presidente do museu, Ellen Futter, estudantes, doutorandos, funcionários e pesquisadores da instituição pedem o cancelamento da homenagem a Bolsonaro, que chamam de "presidente fascista do Brasil", afirmando que a noite seria "uma mancha na reputação do museu". O texto é acompanhado por um abaixo-assinado que neste sábado já contava com mais de 500 assinantes. O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que é do Partido Democrata, engrossou o coro dos que não querem ver Bolsonaro sendo homenageado dentro do AMNH. Ele chamou o presidente brasileiro de "um ser humano muito perigoso”, em entrevista à rádio WNYC nesta sexta-feira. "Ele é perigoso não apenas por causa de seu racismo evidente e homofobia, mas porque ele é, infelizmente, a pessoa com maior capacidade de impactar no que acontece na Amazônia daqui para frente", disse o prefeito. Desde 1970, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos escolhe todos os anos duas personalidades para homenagear, uma norte-americana e outra brasileira. O nome do norte-americano homenageado este ano ainda não foi divulgado. Ano passado, os ganhadores da honraria foram o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg. A escolha de Bolsonaro para o prêmio foi alvo de críticas na internet. O portal Gothamist citou um ambientalista que ressalta ser "uma ironia particularmente amarga que um homem que tenta destruir um dos recursos naturais mais preciosos seja nomeado Pessoa do Ano dentro de um espaço dedicado à celebração do mundo natural". Em respostas ao tuíte do museu, centenas de pessoas, que se identificaram como ativistas e acadêmicos, pediram que o evento que inclui a entrega do prêmio a Bolsonaro fosse cancelado. Elas afirmaram que seria inapropriado que o presidente brasileiro fosse homenageado numa instituição de ciências devido a suas visões. – Ele nega a existência de mudanças climáticas antropogênicas e nomeou vários outros que também as negam para seu gabinete. E ele também está desmantelando as proteções ao meio ambiente no Brasil. Então, obviamente não se trata de algo para ser celebrado pela ciência – afirmou Philip Fearnside, norte-americano que leciona no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), à agência de notícias Reuters.