No primeiro sábado após o decreto municipal que proíbe a abertura de quiosques, ambulantes e barraqueiros nas praias do Rio de Janeiro como forma de reduzir o fluxo de pessoas e conter a pandemia, a medida dividiu a opinião de turistas e cariocas.
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro
No primeiro sábado após o decreto municipal que proíbe a abertura de quiosques, ambulantes e barraqueiros nas praias do Rio de Janeiro como forma de reduzir o fluxo de pessoas e conter a pandemia, a medida dividiu a opinião de turistas e cariocas. Alguns apoiam a restrição, outros reclamam de não ter onde comprar sequer uma água. Já os trabalhadores demonstram receio de perder o emprego.
Para muitos, a medida foi injusta ao permitir que bares e restaurantes permaneçam abertos, ainda que em horário reduzido, embora sejam ambientes fechados, mais propensos à propagação do coronavírus do que os quiosques, que funcionam ao ar livre.
– Tenho medo pelo nosso emprego se continuar fechado. A gente fica ansioso. Acho que não adianta muito. O restaurante, que é fechado, abre até às 17h. E a gente, que é ambiente aberto, fica fechado. Não faz muito sentido – lamentou Tiago Maia, ajudante de garçom, que trabalha em um quiosque na Praia do Leme, junto a outros 22 funcionários.
Em frente aos quiosques fechados, alguns trabalhadores permaneceram cuidando do patrimônio. Entre eles, o medo de perder o emprego era grande. Alguns falaram à reportagem, mas sem se identificar totalmente.
– Não entendi eles fecharem os quiosques. O meu emprego, com certeza, vai correr risco. Porque, se o quiosque ficar fechado, não vai ter como arcarem com o meu salário – disse um funcionário que se identificou apenas como João, de um quiosque na Avenida Niemeyer, tradicionalmente frequentado por turistas, já que oferece uma ampla vista das praias do Leblon e de Ipanema.
Turistas
Enquanto isso, turistas que não sabiam das restrições demonstram frustração, por não ter onde comprar uma bebida para matar a sede.
– Atrapalha muito. O turismo depende disso aí. A gente quer tomar um refrigerante, uma bebida e não tem. Não adianta fechar os estabelecimentos. Quem tem de ter consciência é o povo. É ruim para quem vem frequentar e é ruim para quem presta o serviço – reclamou Sebastião Resende, empresário do ramo de carnes, que veio do Mato Grosso do Sul visitar o Rio com a esposa Juçara.
Outras pessoas preferiam que tivesse sido adotada uma medida intermediária, como a redução no horário dos quiosques ou do número de clientes, do que simplesmente fechá-los totalmente.
– Eu não estou achando que adianta porque muita gente precisa trabalhar. Poderia botar uma regra, com menos pessoas, em vez de parar tudo. Como as pessoas vão se manter? Fica difícil – disse Larissa Gomes de Souza, que trabalha passeando com cachorros na praia do Leme.
Mas a medida também teve apoiadores, preocupados com o aumento na transmissão da covid-19 no bairro.
– Eu acho que resolve. Qualquer medida para minimizar a transmissão do coronavírus entre a população é bem-vinda. Sou a favor. Não abrir os quiosques é mais para evitar que as pessoas venham para a praia. E Copacabana está com um dos maiores índices de transmissão – disse Igor Rodrigues, que trabalha na área de tecnologia da informação e passeava com o filho pequeno na carona da bicicleta.
Fiscalização
O secretário municipal de Ordem Pública, Breno Carnevale, defendeu a medida, como forma de não incentivar as pessoas a frequentarem as praias. Ele esteve pessoalmente coordenando as ações de fiscalização na orla.
– Esta decisão é técnica, do ponto de vista sanitário. A vigilância sanitária fez estudos e há demonstração de que quiosques, ambulantes e pontos fixos na praia favorecem muito a aglomeração de pessoas nas areias. E isso é um fator de gravidade para a circulação do vírus – disse Carnevale.
Enquanto os quiosques permanecem fechados na orla, nas ruas internas, era grande a quantidade de clientes nos bares e restaurantes, com pessoas bebendo próximas umas das outras. Questionado sobre isso, o secretário se limitou a dizer que a capacidade de atendimento especificada no decreto municipal é de 40% dos clientes, mas não respondeu como será feita essa fiscalização.