O grupo criminoso era composto, segundo a Polícia Federal, por 18 pessoas e utilizava o local para aprisionar dezenas de mulheres, muitas delas adolescentes, que posteriormente eram traficadas para a Suíça e submetidas a exploração sexual.
Por Redação, com ACS/MST - de Hidrolândia (GO)
Mais de 600 Famílias Sem Terra ocuparam a Fazenda São Lukas, no município de Hidrolândia, em Goiás, neste domingo. A área ocupada hoje integra o patrimônio da União desde 2016. Mas, antes, a propriedade pertencia a um grupo criminoso, condenado, em 2009, pelos crimes de exploração sexual e tráfico internacional de pessoas. A ação é parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, que ocorre em todo país durante o mês de março.
O grupo criminoso era composto, segundo a Polícia Federal, por 18 pessoas e utilizava o local para aprisionar dezenas de mulheres, muitas delas adolescentes, que posteriormente eram traficadas para a Suíça e submetidas a exploração sexual. O esquema foi mantido por três anos e as vítimas eram, principalmente, mulheres goianas de origem humilde das cidades de Anápolis, Goiânia e Trindade.
Violências
Segundo investigação da PF na época das investigações, a própria fazenda foi adquirida com dinheiro oriundo do tráfico humano. Membros da quadrilha chegaram a estar na lista de Difusão Vermelha da Interpol – para foragidos internacionais.
— Com nossa Jornada, denunciamos o crescimento das violências contra as mulheres do campo e esta área representa o grau de violências que sofremos — explica Patrícia Cristiane, da direção nacional do MST.
De acordo com Cristiane, a ocupação também busca recolocar a pauta da terra na agenda do dia.
— Exigimos que esta área, que antes era usada para violentar mulheres, seja destinada para o assentamento destas famílias, para que possamos produzir alimentos saudáveis e combater as violências — destacou.
Zâmbia
Entre os anos de 2019 e 2022 os casos de feminicídios cresceram 121,4% em Goiás. No último ano, foram registradas 322 ocorrências de estupro e mais de 15 mil ameaças contra mulheres. Já em todo país, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), estima que apenas 8,5% dos casos de estupro chegam ao conhecimento da polícia. Seguindo esta tendência, em 2019, o mesmo Instituto estimou que quase 45 mil estupros ocorreram em Goiás.
Neste ano, milhares de Mulheres Sem Terra se mobilizaram em 23 Estados, no Distrito Federal, além de Zâmbia, na África. Como parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, elas realizaram acampamentos pedagógicos, ocupações de terras, ações de solidariedade com doação de alimentos e de sangue, feiras com produtos da reforma agrária, plantio de árvores, espaços de formação e debates, e ocuparam as ruas do país, com marchas em parceria com movimentos e organizações populares urbanas e rurais.