Considerada a maior ação de rastreamento de câncer de intestino do mundo, o mutirão foi realizado entre os dias 16 e 22 março.
Por Redação, com ABr – do Rio de Janeiro
Uma ação de rastreamento de câncer de intestino resultou na identificação de 462 lesões em 231 pacientes (54%), com pelo menos quatro casos de câncer avançado já encaminhados para tratamento. Na mobilização, realizada na Cidade de Goiás (GO), foram oferecidos 8 mil testes fit (exame de sangue oculto nas fezes) com uma taxa de positividade em torno de 8%.

Foram encaminhados para a colonoscopia 563 pacientes, sendo que 423 realizaram o exame.
Considerada a maior ação de rastreamento de câncer de intestino do mundo, o mutirão foi realizado entre os dias 16 e 22 março, envolvendo 65 médicos voluntários, profissionais de enfermagem, servidores da policlínica da cidade de Goiás e da prefeitura da Cidade de Goiás.
Todos os moradores entre 45 e 70 anos da cidade foram convocados para participar da ação de rastreamento. O estudo foi uma parceria entre a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED).
Segundo o presidente da SBCP, Sérgio Eduardo Alonso Araújo, na literatura médica, há cada vez mais evidências do aumento significativo de novos casos de câncer do intestino entre pacientes com menos de 50 anos, e a mortalidade nessa faixa etária também tem aumentado.
– Assim, diversas sociedades no mundo passaram a recomendar os exames diagnósticos mais cedo, aos 45 anos, o que passamos a adotar e a fazer o alerta – explicou
A idade de rastreamento sugerida pelas entidades foi reduzida este ano de 50 para 45 anos. De acordo com recente pesquisa divulgada pela Fundação do Câncer, os casos de câncer colorretal devem aumentar 21% até 2040.
Diagnóstico
Cerca de 65% dos casos de câncer de intestino são diagnosticados em estágios avançados, o que dificulta a recuperação dos pacientes, além de exigir procedimentos mais agressivos, como quimioterapia, radioterapia e cirurgias mais complexas e invasivas.
O câncer de intestino é o único que pode ser prevenido ao se localizar um pólipo adenomatoso e retirá-lo em colonoscopia, evitando que vire uma lesão cancerosa.
Casos de câncer colorretal
Um estudo inédito da Fundação do Câncer divulgado no último dia 27 projeta um aumento expressivo de casos de câncer colorretal no Brasil para os próximos anos. Segundo o levantamento, o número de novos casos deve ter um crescimento estimado de 21% entre 2030 e 2040.
De acordo com a fundação, o aumento pode ser atribuído ao envelhecimento da população brasileira, à baixa adesão a hábitos saudáveis e, sobretudo, à falta de programas de rastreamento eficazes.
Também chamado de câncer de cólon e reto ou câncer de intestino grosso, o câncer colorretal figura entre os cinco principais tipos de câncer que acometem homens e mulheres em todo o mundo.
A fundação alerta que, atualmente, não existe um protocolo específico no Brasil para rastreamento do câncer colorretal. Na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, a indicação é que o exame de colonoscopia seja feito a cada dez anos, a partir dos 50 anos de idade, para pacientes assintomáticos.
De acordo com o estudo, a maioria dos casos de câncer colorretal no país será observada entre pessoas com mais de 50 anos, grupo considerado de maior risco. A estimativa é que mais de 88% dos casos em 2040 estarão concentrados nessa faixa etária.
Entenda
O levantamento mostra uma projeção da evolução da doença entre homens e mulheres para 2030-2035-2040, feita com base nos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), nos números de óbitos registrados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e nas projeções populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para os anos de 2030, 2035 e 2040.
As estimativas de casos novos no Brasil indicam um aumento de cerca de 21% entre 2030 e 2040 (de 58.830 para 71.050 casos, respectivamente). As regiões Centro-Oeste (32,7%) e Norte (31,13%) devem registrar os maiores incrementos da doença e o Sudeste, o menor (18%).
Apesar do menor percentual de crescimento em relação à média brasileira, o Sudeste apresenta números absolutos maiores que outras regiões. A projeção é de um crescimento de 32.410 casos em 2030 para 38.210 em 2040.
A incidência da doença, segundo o estudo, é equivalente entre os sexos feminino e masculino, com exceção das regiões Centro-Oeste e Sul, onde os homens apresentam valores levemente superiores aos das mulheres.
Para que essas tendências não se concretizem, a fundação reforça a importância de adaptar estratégias de prevenção e de diagnóstico às realidades locais do país, por meio de ações regionalizadas, permitindo a ampliação de programas de rastreamento, fundamentais para a detecção precoce e, consequentemente, redução da mortalidade.
De acordo com a entidade, a detecção precoce por meio de exames como colonoscopia e pesquisa de sangue oculto nas fezes é fundamental para reduzir a mortalidade causada pela doença.
“No entanto, o rastreamento populacional organizado ainda é um desafio no Brasil, especialmente considerando as dificuldades enfrentadas por países de baixa e média renda”, avaliou a fundação, citando pontos como infraestrutura inadequada dos sistemas de saúde, dificuldade de acesso aos exames e adesão reduzida da população devido à falta de conscientização e ao medo do diagnóstico.
Além da regionalização de políticas públicas e da alocação de recursos de acordo com as necessidades específicas de cada região, a entidade considera fundamental reduzir desigualdades no acesso ao diagnóstico e ao tratamento do câncer colorretal.
Outra estratégia consiste em ações que impactam nos fatores sociais de prevenção à doença, como mudanças no estilo de vida, por meio de práticas saudáveis na alimentação, na atividade física e na redução de fatores de risco, incluindo tabagismo e consumo de carne processada.