Pesquisa do DesinfoPop da FGV detectou a participação de mais de 200 mil pessoas em 85 comunidades misóginas no Telegram. Desde 2019, quantidade de conteúdos cresceu 600 vezes.
Por Redação, com Vermelho – de Brasília
Ao menos 225 mil pessoas fazem parte de redes de ódio e violência contra mulheres, distribuídos em 85 comunidades do Telegram no Brasil. Os conteúdos gerados nesses espaços cresceram aproximadamente 600 vezes desde 2019. Os dados fazem parte de levantamento realizado pelo Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPop) da Fundação Getúlio Vargas.

A divulgação do estudo “Redes de ódio e violência contra mulheres: mapeamento da machosfera brasileira no Telegram e modelos de monetização” foi feita na terça-feira, 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
A pesquisa mapeou, pela primeira vez, sete milhões de mensagens publicadas em 85 comunidades desse tipo no aplicativo Telegram, entre setembro de 2015 e novembro de 2025. No período entre 2019 e 2025, os pesquisadores verificaram um crescimento de 597 vezes (ou de 59.643,51%).
Antes da pandemia, ainda em 2019, foram detectados 5.546 conteúdos (entre publicações e comentários) com esse tipo de teor, número que explodiu neste ano, quando ultrapassou os 3,3 milhões.
Ódio, supremacismo e lucro
Em meio a esses conteúdos, os pesquisadores identificaram cinco subgrupos da machosfera, que vão de incels e redpills até canais de guerra cultural e páginas de misoginia explícita, mostrando, conforme o estudo, “que ataques de gênero caminham junto com o racismo e o ressentimento de classe”.
O levantamento aponta ainda que “essas comunidades funcionam como porta de entrada para teorias conspiratórias e grupos neonazistas”.
Segundo o mapeamento, “os discursos misóginos aparecem frequentemente combinados com racismo e classismo, revelando um projeto identitário supremacista. A misoginia atua de forma
conjunta com outras formas de ódio, construindo identidade hierárquica excludente”.
Conforme explica Julie Ricard, pesquisadora do DesinfoPop/FGV e coordenadora do estudo, “todo esse ódio começa como ódio contra si mesmos. Os próprios homens publicam conteúdos autodepreciativos, como os ‘bingos incel’, antes de direcionar essa violência para mulheres e para outros homens. As normas tradicionais de gênero estão adoecendo a todos”.
Outro aspecto grave trazido pelo levantamento diz respeito ao fato de que esse tipo de conteúdo, além de estimular o ódio contra mulheres e outros grupos sociais, gera lucros tanto para a plataforma como para usuários, o que reforça a necessidade urgente de haver regulação e maior controle das redes sociais, a fim de estancar esse processo que estimula a violência e as desigualdades.
– Encontramos um verdadeiro mercado lucrando com essa radicalização. Mentorias, cursos, livros e infoprodutos transformam misoginia em negócio, monetizando inseguranças masculinas e ampliando a circulação de discursos violentos no Brasil – conclui Julie.
Além da coordenadora, o estudo contou ainda com os pesquisadores Ergon Cugler, Mario Aquino Alves, Guilherme Celestino, Gabriel Rocha e Stefanny Vitória, pesquisadores associados ao Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPop-CEAPG-FGV).