O acesso a telefones celulares ou a chantagem por meio de redes são algumas das violências digitais identificadas.
Por Redação, com Europa Press – de Madri
Um estudo da Fundação Ferrer i Guàrdia, divulgado às vésperas do 25N, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, apontou que as mulheres jovens consideram “inevitável” sofrer algum tipo de violência na Internet e que é difícil para elas identificar uma situação vivida como violência digital.

Esses são os resultados preliminares da pesquisa “Violência digital: território, gênero e tecnologia”, promovida pela Fundação Ferrer i Guàrdia com o apoio do Ministério da Igualdade, da Generalitat e da Prefeitura de Barcelona, e que foi apresentada nesta segunda-feira em uma coletiva de imprensa on-line.
A coordenadora do projeto da fundação, Sandra Gómez, referiu-se a diferentes formas de violência digital, como acesso a dispositivos móveis ou monitoramento constante; acesso não consensual a contas ou senhas; chantagem, coerção ou ameaças digitais; ou a disseminação, encaminhamento ou manipulação de imagens íntimas sem consentimento, entre outros comportamentos.
Ela lembrou que, de acordo com um relatório da Unicef de novembro deste ano, um em cada três adolescentes com um parceiro afirma ter sofrido violência digital pelo menos uma vez por mês; e que outros estudos indicam que 59% das meninas e mulheres jovens na Espanha sofreram assédio on-line ou que 33% das mulheres entre 18 e 29 anos sofreram “perseguição”.
Violência digital em casais
O estudo aponta que os comportamentos mais comuns estão relacionados ao controle, como verificar telefones celulares sem permissão, pressionar para saber onde estão ou com quem estão ou questionar amizades nas redes.
Ela também explica que as meninas que mais sofrem com essa violência são aquelas que têm menos apoio social ou que vivem em ambientes com menos recursos, e acrescenta que mais de 25% das mulheres entre 16 e 25 anos já receberam insinuações consideradas inadequadas por meio das redes.
A fundação insiste que a violência digital é estrutural, não individual, e que “não se trata de pedir às mulheres jovens que se protejam”, mas de elaborar políticas públicas abrangentes, fortalecer a educação digital crítica, garantir serviços especializados e incorporar uma abordagem feminista e interseccional que leve em conta a diversidade dos grupos.
“Dinâmicas profundamente prejudiciais”
Por outro lado, a pesquisadora da fundação, Marta Fullola, concentrou-se no aumento da violência digital na atualidade e em como ela afeta as mulheres jovens, e destaca que “o que é normal para elas nas redes inclui dinâmicas que são profundamente prejudiciais”.
Ela diz que as mulheres jovens identificam a violência como controle e vigilância, cyberbullying, pressões estéticas e “dinâmicas de poder muito marcantes em ambientes digitais”, e acredita que o ponto principal é que muitas dessas formas de violência ainda estão presentes na experiência cotidiana e que ainda é difícil rotulá-las como violência.
Ela também destacou que há uma minimização do dano causado pelo fato de se conhecer o agressor: “Há certos perfis de pessoas que todo mundo conhece e isso às vezes minimiza o que acontece porque se diz que essa pessoa é assim”.
Ela se referiu à situação nos vilarejos, onde “não há nenhum serviço especializado por perto e isso significa que, quando ocorre uma situação de violência, as jovens têm de viajar para longe ou resolver o problema sozinhas” e acredita que elas não veem as instituições como um espaço seguro e que há uma falta de coordenação institucional.
Medidas
A diretora do Servei d’Intervenció Especialitzada (SIE) de Alt Pirineu i Aran (Lleida), Andrea Colomer, considerou que as medidas mais urgentes para lidar com essa violência envolvem treinamento, prevenção e autoproteção, bem como “ser capaz de identificar ‘deepfakes'” e lamenta a revitimização das pessoas que sofrem essas situações e acredita que é necessário mais acompanhamento.
Por outro lado, a diretora do Instituto de Pesquisa em Estudos de Gênero da Universidade de Alicante, Alejandra Hernández, pediu a criação de um observatório digital de gênero, que forneça anualmente números para “agir com base em evidências”; campanhas específicas de conscientização sobre a violência digital de gênero e a promoção de uma abordagem a partir de uma perspectiva abrangente.