Rio de Janeiro, 13 de Abril de 2025

Esquerda precisa de um programa radical anticapitalismo, afirma Stédile

"A esquerda, fruto daquela derrota histórica da União Soviética, das ideias socialistas, ela refluiu. E a esquerda cometeu um erro fundamental: em todo o Ocidente priorizou a via eleitoral", afirmou Stédile.

Segunda, 01 de Janeiro de 2024 às 15:24, por: CdB

"A esquerda, fruto daquela derrota histórica da União Soviética, das ideias socialistas, ela refluiu. E a esquerda cometeu um erro fundamental: em todo o Ocidente priorizou a via eleitoral", afirmou Stédile.


Por Redação, com Opera Mundi - de São Paulo

Um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o economista João Pedro Stédile, em entrevista ao site de notícias Opera Mundi, nesta segunda-feira, uma análise do que chamou de "crise" da esquerda e do capitalismo no Brasil e no mundo. O líder sem-terra lamentou a inexistência de uma esquerda com programa "radical" em um momento histórico "de crise do capitalismo, do imperialismo, da situação ambiental, da vida no planeta".

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Stédile é um dos líderes do MST


Para Stédile, a esquerda falha todos os dias ao não organizar a classe trabalhadora em torno de um programa de mudanças estruturais.

— A esquerda, fruto daquela derrota histórica da União Soviética, das ideias socialistas, ela refluiu. E a esquerda cometeu um erro fundamental: em todo o Ocidente priorizou a via eleitoral, e a via eleitoral é um dos espaços da luta de classes. Porém, a verdadeira força de uma esquerda é quando ela organiza a classe trabalhadora. Organizar significa ter núcleos, organização política e um programa de mudanças estruturais. E isso nos faz falta. E essa falta é ainda mais sentida porque o período histórico é de crise do capitalismo, de crise do imperialismo, é de crise da situação ambiental, da vida no planeta — afirmou.

 

Problemas


Ainda segundo o coordenador, "mais do que nunca nos faz falta uma esquerda que tivesse um programa radical”.

— E radical no sentido de ir às raízes dos problemas. Então tem que ser radical mesmo, no sentido de que tem que propor mudanças estruturais. E nós estamos convencidos: o capitalismo não resolve mais os problemas da população, da classe trabalhadora, das maiorias. Então, para a centro-esquerda, é preciso apresentar propostas anti-capitalistas, pós-capitalistas, que acenem para um projeto de superação da exploração. A esquerda precisa, urgentemente, no Brasil, na América Latina e no mundo, ter um programa de superação do capitalismo, que signifique solução para os problemas das maiorias. E os problemas das maiorias só terão solução com mudanças estruturais, na forma de organização, no modo de produção e no Estado burguês — acrescentou.

 

Sionismo


Para o economista, no Brasil, a paralisação das esquerdas se deve à "hegemonia completa que os meios burgueses de comunicação têm". Ele citou, por exemplo, a máquina de propaganda sionista no Brasil e no mundo que protege Israel, apesar das atrocidades cometidas pelo governo daquele país contra os palestinos da Faixa de Gaza.

— A Globo, os grandes jornais, as grandes revistas. Todo mundo a favor dos crimes de Israel. Quantas manifestações de esquerda nós vimos colocando em dúvida: ‘ah, mas o Hamas também é terrorista’; e esqueceram os 70 anos de tortura, prisões, mortes que o governo de Israel fez? O governo de Israel só tem o interesse de acabar com o povo palestino, e a guerra agora contra quem está em Gaza é apenas um detalhe. Então um dos motivos é esse. Aqui no Brasil há uma hegemonia muito grande, a burguesia controla os meios de comunicação. E naquilo que ela tem interesse, é impressionante como ela influi — apontou.

Stédile classificou ainda como "vergonhoso" o fato de a esquerda brasileira não ter meios de comunicação próprios e fortes e falou em "crise geral" deste setor político no país.

— Estamos vivendo uma crise de organização da esquerda, dos movimentos populares. Vai levar um tempo até que a gente consiga chegar às massas. É preciso ter militância, movimentos populares organizados, vontade política, ter visão estratégica para saber pelo que nós temos que nos mobilizar nessa luta anticapitalista e por um mundo melhor — concluiu.

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