Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Ensino na área de Saúde: novas tendências

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Terça, 15 de Agosto de 2023 às 09:34, por: CdB

Centros de Simulação replicam cenários reais, preparando profissionais para desafios da saúde. É um exemplo de como temos muito a avançar na área da aprendizagem e da motivação do aluno para a vida prática. 


Por Abraham B. Sicsú – de Brasília


Nos países mais avançados já é corriqueiro. Investimentos vultosos feitos na área. O importante é ser fidedigno, reproduzir a realidade com a maior exatidão. Centros de Simulação se proliferam e dão outra perspectiva na formação da área de saúde. A prática é a base do aprendizado, o dito choque de realidade acontece.




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A prática é a base do aprendizado, o dito choque de realidade acontece

Teatros são montados. Tudo é reproduzido. Situações difíceis enfrentadas, os modelos são perfeitos, seres humanos configurados em materiais sintéticos, com consistência e aparência igual às que ocorrem nas salas de cirurgia. Em detalhes se notam similitudes, em detalhes se enfrentam momentos de interação com os pacientes que ali poderiam estar.


Convidado fui conferir. A Faculdade Pernambucana de Saúde, em associação com a Sociedade do Hospital Einstein de São Paulo criou um desses Centros. 900 metros quadrados com todos os equipamentos possíveis. A primeira associação fora do território paulista.


Quatro ou cinco salas de cirurgia, que prefiro chamar de salas de espetáculos, equipamentos computacionais de última geração para monitorar, salas de observação, espaços para reuniões e análise de resultados. Ideal para enfrentar o que pode ocorrer numa intervenção médica.


A coordenadora sabe o que faz. Fez sua formação doutoral na Holanda, centro desenvolvido na técnica com o qual mantém conexões. Sua preocupação é o aprendizado dos frequentadores, alunos e profissionais da área. Não o simples reproduzir das situações práticas, mas, também, as reações humanas, o psíquico como controle fundamental para o bom desempenho profissional.   


Cirurgias, partos, atividades clínicas, entre outras, são simuladas e os frequentadores reagem de maneira espontânea. A vivência de profissionais experientes é reproduzida nessas salas. 


Imagine uma cirurgia em que no meio da operação o paciente tem uma parada cardíaca, como se comportar? Ou, um parto em que o futuro pai frequenta alcoolizado, situação mais comum do que pensamos, como controlar? Os frequentadores do Centro são expostos a essas e outras situações e preparados para um dia a dia sempre inusitado.


A mescla de aprendizagem pela literatura consolidada, pelo estado das artes consolidado em manuais e livros, de diferentes áreas da saúde, com o enfrentamento de situações que reproduzem em detalhes a prática que deverá ser o dia a dia do profissional, dá outra perspectiva para o seu futuro. Instiga o aluno, faz com que os já profissionais repensem suas atitudes e possam aperfeiçoá-las. Um aprendizado dinâmico e interativo. 



Sistemas de apoio à decisão


O visitar me aproximou um pouco da engenharia, também. Penso nos métodos multicritérios e suas resoluções. Sistemas de apoio à decisão que ajudam a resolver situações complexas que possuem objetivos muitas vezes conflitantes. Não há uma solução apenas possível, a interação entre indivíduos, em situações práticas em que há diferentes caminhos possíveis, pode ter diferentes alternativas a serem escolhidas. O descrever das situações enfrentadas pelos médicos e paramédicos, também, pode ser acomodado de maneiras diferenciadas com encaminhamentos igualmente satisfatórios e possíveis.


Evidentemente, um laboratório desse perfil tem um custo bastante elevado para implantação e manutenção. Os modelos de seres humanos utilizados são caríssimos para atingir a perfeição de detalhes. Também, a capacitação da equipe não é barata, exigindo atualizações constantes e o partir para equipes multidisciplinares. Existem softwares sofisticados que dão informações precisas e detalhadas. Se num primeiro momento os profissionais são da área estrita de saúde, médicos e enfermeiros, partir para a incorporação de profissionais outros como psicólogos, estatísticos e mesmo engenheiros de sistema, é o caminho natural, o que leva a necessidades cada vez maiores de recursos.


Além disso, se todas as experiências atuais são físicas, ou seja, palpáveis, sentidas com o tato, as tendências recentes das ciências exigem um voltar para o digital, para a telemedicina e para as interações à distância. Mais um desafio futuro.


Outra necessidade, a massificação desse perfil de ensino exigirá modelagem, experiências que possam ser reproduzidas em escala com diferentes atores, em espaços de menor custo. Isso já ocorre em diferentes países e em situações nas quais devemos nos espelhar. Outro caminho a ser buscado.


Tive uma experiência com o SUS. Um sistema de saúde que é uma dádiva da qual os brasileiros têm que se orgulhar. Um sistema universal de atendimento. Mas, tem seus impasses.



Desventuras do sistema


Precisei de uma prótese e me submeti às desventuras do sistema. E isso vem ao caso para a experiência aqui em análise. Se o Centro de Simulação consegue reproduzir experiências em salas de cirurgia e salas de observação dos hospitais particulares, ou mesmo em ambientes de excelência estruturados, tenho dúvidas quanto aos hospitais públicos. Muito se tem a avançar.


Salas lotadas, crianças chorando, calor infernal, falta de materiais, são realidades concretas de nosso sistema. E as reações dos médicos e paramédicos nem sempre são adequadas. Trata-se a população, muitas vezes, de maneira pouco humana. O stress leva a reações inesperadas. Preparar psicologicamente os profissionais para esses ambientes é novo passo a ser dado, é novo desafio para a capacitação dos mesmos. Não será apenas nesse ambiente “clean” que poderá ser feito. Reproduzir essas realidades é necessidade para um país que atingiu a universalização do atendimento à saúde, mas que tem fortes dificuldades de modernização, inclusive de recursos financeiros.


Sem dúvida o Centro de Simulação é um orgulho para todos os que estamos preocupados com a formação de profissionais responsáveis e preparados. Pode, inclusive, ser replicado, com as naturais adequações, claro, para outras áreas do conhecimento. É um exemplo de como temos muito a avançar na área da aprendizagem e da motivação do aluno para a vida prática. 


Enfrentar situações que em tudo se assemelham com a realidade prática permite que preparemos nosso futuro com pessoas motivadas, comprometidas e, principalmente,  cientes dos desafios que enfrentarão. 


 

Abraham B. Sicsú, é professor aposentado do Departamento de Engenharia de Produção da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e pesquisador aposentado da Fundaj (Fundação Joaquim Nabuco).


As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil




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