O analista acrescentou que algo assim dificilmente aconteceria na Irlanda e que “a maneira como as finanças permeiam a sociedade” nos EUA é “muito, muito diferente” da Europa.
Por Redação, com WSJ – de Nova York, NY-EUA
O economista David McWilliams disse à revista norte-americana Fortune, nesta segunda-feira, que sentia algo diferente no ar dos EUA, referindo-se aos rumores de que uma bolha gigantesca se forma ao redor da Inteligência Artificial (IA). Natural de Dublin, McWilliams contou ter ficado espantado ao entrar em um táxi e ser imediatamente bombardeado pelas iniciativas especulativas do motorista.

— Em dois minutos, ele estava falando sobre mercado de ações, bitcoin, IA, Nvidia, tudo — relata.
O analista acrescentou que algo assim dificilmente aconteceria na Irlanda e que “a maneira como as finanças permeiam a sociedade” nos EUA é “muito, muito diferente” da Europa.
— A universalidade do dinheiro nos Estados Unidos é algo que os europeus acham fascinante. Quando Tocqueville chegou à América, a ideia dele foi: ‘Meu Deus, essas pessoas são obcecadas por dinheiro’. Os europeus eram obcecados por outras coisas, você sabe, hierarquia — refletiu, lembrando que isso já era evidente desde os anos 1840, nos relatos do francês Alexis de Tocqueville.
Empregos
Foi nesse contexto que McWilliams, um dos economistas populares mais seguidos do mundo, afirmou com naturalidade que o atual “boom” dos EUA, impulsionado pelo investimento em Inteligência Srtificial (IA), “sem dúvida vai entrar em colapso”.
Não apenas porque “a IA não cria empregos”, observou ele, mas também porque os investimentos que sustentam esse boom são rapidamente perecíveis. O gasto maciço em unidades de processamento gráfico (GPUs) é problemático, disse, porque se trata de “alface digital”, propensa a murchar em pouco tempo. “Você está investindo em algo que é um bem perecível.”
— A mudança tecnológica sugere que, se você comprar uma GPU hoje, o chip estará desatualizado no ano que vem — explicou, acrescentando que as empresas de IA estão “investindo enormes quantias de dinheiro em alface, que vai estragar agora” — expressão que sua mãe usava para descrever quando um pé de alface, bem, estragava.
Cronogramas
McWilliams entrava, assim, em um debate que o observador veterano Ed Yardeni chama de “debate sobre a vida útil”, e que o investidor Michael Burry — famoso por ter previsto a crise do subprime — vê como a ponta de um iceberg que ameaça todo o mercado. Burry, especificamente, argumenta que os novos cronogramas de depreciação são suspeitos, já que as grandes empresas de tecnologia não estão marcando a mercado seus investimentos não lucrativos na “alface digital” de McWilliams.
Yardeni, porém, escreveu em 17 de novembro que não acredita que essa alface digital vá murchar tão rápido quanto afirmam Burry e McWilliams.
— Os data centers já existiam antes da popularização da IA no final de 2022, quando o ChatGPT foi lançado. Em 2021, havia cerca de 4 mil deles nos EUA, como resultado do rápido aumento da demanda por computação em nuvem. Muitos ainda operam com seus chips originais — disse.
A entrevista com McWilliams ocorreu antes da divulgação dos últimos resultados trimestrais da Nvidia, que parecem ter acalmado os temores de um estouro iminente da bolha. Ainda assim, McWilliams disse à Fortune que, mesmo diante de uma crise, ele não está particularmente preocupado com o papel dos EUA como centro mundial de inovação. Um motivo importante para isso tem a ver com aquele motorista de Uber em Los Angeles — e com uma característica central da história do dinheiro no país.